Motociclistas confirmam desrespeito: “Quem anda de moto quase sempre paga o preço mais alto”

Fotos: Inez Nazira
Fotos: Inez Nazira

Influencer, motoentregadores e mototaxistas reforçam necessidade de conscientização e fiscalização após morte de assessor na Capital

O trânsito de Campo Grande se mantém como um ambiente de risco constante para motociclistas, apontados como os mais vulneráveis entre os condutores da cidade. Quem percorre diariamente as ruas da cidade sabe que o desrespeito às normas é uma das principais causas de acidentes. E essa realidade é compartilhada por quem vive de moto a rotina diária, entre sinais ignorados, fechamentos perigosos e imprudência.

O influencer Motovlog André Aguilera, que reúne quase 20 mil seguidores nas redes sociais, mostra em vídeos o cotidiano do trânsito e busca conscientizar motoristas e motociclistas.

“Comecei a gravar porque vivo o trânsito de Campo Grande todos os dias de moto e via que muita coisa passava despercebida. Mostro situações reais, como avanço de sinal, falta de seta e motoristas que fecham motociclistas, porque acredito que isso ajuda a abrir os olhos de quem dirige. Minha motivação é quebrar o preconceito de que o motociclista é sempre o culpado, quando, na verdade, todos precisam ter consciência. Infelizmente, acidentes graves como o de ontem acontecem justamente pela pressa e pelo desrespeito à sinalização, e quem anda de moto quase sempre paga o preço mais alto.”

André também ressalta que, apesar de críticas, muitas pessoas mudam hábitos após assistirem aos seus vídeos. Ele já utilizou seu engajamento para eventos beneficentes, como arrecadação de doces para crianças carentes, e defende mais respeito, fiscalização e campanhas educativas constantes.

Vozes do dia a dia

O motoentregador Abner Martins, 29 anos, relata a sensação de vulnerabilidade nas ruas:

“O pessoal é meio preconceituoso com motociclista, às vezes fecha a gente sem motivo nenhum. Isso acontece mesmo. Faltam mais espaços para os motociclistas, por exemplo, faixas que deem mais segurança. E que os motoristas respeitassem mais, para a gente passar em segurança, porque a gente também está trabalhando, socorrendo, cumprindo o nosso papel.”

Para o mototaxista Fernando Martinez, 47 anos, a educação no trânsito precisa começar cedo:

“Cada um precisa ter consciência desde a escola. No trânsito, não existe quem é rico ou pobre, todo mundo é afetado. E a verdade é que todos cometem erros e ninguém quer assumir. Por isso a conscientização é fundamental.”

O motociclista João Victor, 26 anos, detalha os riscos diários e os cuidados que toma:

“Eles fecham bastante a gente. Além disso, muitos não usam seta e não respeitam o pare. Precisamos criar estratégias, como observar a roda dianteira do carro para antecipar movimentos. O trânsito é estressante porque você não descansa a mente, está sempre em alerta. Já sofri um acidente sério, quebrei o quadril, quando um carro me fechou e acabei batendo em outro veículo. A pessoa foi embora, eu fiquei com prejuízo e precisei fazer boletim de ocorrência.”

Sobre o seguro DPVAT, agora chamado SPVAT, João Victor explicou como o processo ajudou parcialmente:

“Eu consegui pegar um dinheirinho, deu para pagar uns dois aluguéis e fazer umas comprinhas, mas não foi suficiente para cobrir tudo. Pedi o seguro na Santa Casa, entrou tudo no processo, e um advogado ajudou a conduzir. Salvou um pouco, mas não cobre totalmente o prejuízo.”

Números que mostram o risco

Conforme noticiado anteriormente pelo O Estado, os motociclistas representam mais de 70% das mortes no trânsito nos últimos oito meses em Campo Grande. O acidente mais recente ocorreu na manhã de terça-feira (2), quando o assessor parlamentar Wagner de Souza Pereira morreu após uma colisão em um cruzamento na Rua 15 de Novembro com a Rua Bahia.

O cenário é preocupante:
2024 (janeiro a agosto): 2.802 acidentes com motocicletas, 2.260 com vítimas, 34 mortes de motociclistas (mais da metade dos 50 óbitos no trânsito);
2025 (janeiro a agosto): 3.010 acidentes com motocicletas, 2.317 com vítimas, 30 mortes de motociclistas (77% dos 40 óbitos no período).

De cada 10 pessoas que morreram no trânsito neste período, mais de 7 eram motociclistas, enquanto os demais casos envolveram pedestres, ciclistas e condutores de veículos de quatro rodas.

Por Suelen Morales

 

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