Especialista cita que só os animais com vetores podem apresentar perigo para humanos
O cenário da febre maculosa no país tem preocupado os brasileiros. Até o momento, foram confirmados 49 casos da doença, sendo seis mortes, no Brasil, neste ano. A região Sudeste é a que concentra a maioria das contaminações, com 25 casos. Apesar de Mato Grosso do Sul ainda estar ileso, autoridades já se preocupam com a evolução da doença infecciosa, levando em consideração o alto número de capivaras– portadoras dos carrapatos –que habitam o Estado.
A febre maculosa é transmitida pela picada do carrapato e é causada pela bactéria do gênero “Rickettsia”. A doença não é passada diretamente entre pessoas, pelo contato. No Brasil, os principais vetores são carrapatos do gênero Amblyomma, popularmente conhecido como “carrapato-estrela”.
À reportagem, o médico clínico-geral e infectologista, Dr. Rodrigo Coelho, explicou que a doença apresenta formas clínicas leves e outras graves, com elevada taxa de letalidade. Com a evolução, é comum o aparecimento de manchas vermelhas nos pulsos e tornozelos, que não coçam, mas podem irradiar em direção às palmas das mãos, braços ou solas dos pés.
Dando margem para uma preocupação quanto às capivaras, bastante presentes em Campo Grande, o infectologista comentou sobre as condições que podem representar perigo. “O carrapato-estrela, que é o vetor dessa doença, pode estar nas capivaras. O que talvez seja um problema futuro para nós, tendo em vista que elas passeiam pela Capital, estão nos parques, em algumas regiões, como o parque dos Poderes, parque das Nações, entre outros. O contato do ser humano com o ambiente onde esses animais habitam, em que podem ter o tipo de carrapato citado, é um cenário preocupante.”
Ele acrescenta: “Mas é importante lembrar que: se trata de uma doença transmitida pelo carrapato e não pela capivara. Precisamos explicar essa diferença, para que as pessoas não entendam que elas são o perigo, mas sim o parasita, que ela pode transportar”.
Ao jornal O Estado, o Ministério da Saúde afirmou ter sido notificado sobre três óbitos suspeitos de febre maculosa em Campinas, no Estado de São Paulo, dos quais um foi confirmado e outros três aguardam a conclusão dos exames laboratoriais. Conforme a pasta, somente neste ano, já foram confirmados 49 casos da doença no país e seis evoluíram para óbito. “O ministério está em contato com a SES-SP (Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo), para apoio e orientações desde a notificação dos casos. É importante ressaltar que o município de Campinas é uma área endêmica e que o período sazonal para a doença, no país, se estende de maio a setembro.”
O Ministério da Saúde informou, ainda, que distribui aos Estados antimicrobiano preconizado para o tratamento da febre maculosa e vem promovendo ações de capacitação direcionadas às vigilâncias estaduais e municipais, envolvendo profissionais da vigilância e da atenção à saúde. Além disso, a pasta afirma ter divulgado diretrizes técnicas e recomendações de conduta de manejo clínico dos pacientes suspeitos e de vigilância ambiental. “Quando notificado de casos suspeitos, o Ministério da Saúde presta apoio técnico a Estados e municípios no manejo clínico e na investigação dos casos, promovendo a divulgação dasinformações às SES (Secretarias de Estado da Saúde) e SMS (Secretarias Municipais de Saúde), para detecção precoce de eventuais novos casos suspeitos e para promoção do tratamento oportuno”, detalhou.
No Brasil, a febre maculosa tem sido registrada em áreas rurais e urbanas. A maior concentração dos casos é verificada nas regiões Sudeste e Sul, onde ocorre de forma esporádica. A principal forma de prevenção é baseada na não exposição aos carrapatos. Quando isto é inevitável, caso de pessoas que moram ou visitam ambientes infestados por carrapatos, o uso de roupas de proteção é recomendado, assim como a utilização de repelentes contra carrapatos, seja para as roupas, seja para a pele exposta.
Em caso de manifestação de sintomas compatíveis, tais como febre, dor no corpo e manchas avermelhadas na pele, recomenda-se que a pessoa procure uma UBS (Unidade Básica de Saúde) mais próxima de onde reside. O tratamento está disponível gratuitamente no SUS
BRASIL TEM 753 MORTES POR FEBRE MACULOSA EM 10 ANOS
Entre os anos de 2012 e 2022, 753 pessoas morreram por febre maculosa, no Brasil. Os dados do Ministério da Saúde apontam que o país teve 2.157 casos confirmados, ao longo de 10 anoss sendo 36% deles registrados em São Paulo. Considerando apenas as mortes, municípios paulistas concentraram 62% do total, com 467 óbitos.
Existe vacina contra a febre maculosa brasileira, mas ela não é indicada como rotina porque sua proteção é parcial, além de a doença ser muito pouco frequente e ter tratamento rápido, fácil e barato. Além da importância médica, com a diminuição da transmissão da bactéria para seres humanos, o impacto econômico que uma vacina capaz de diminuir a densidade populacional do carrapato-estrela teria na pecuária chama a atenção.
Por se tratar de uma espécie sem preferência de alimentação determinada, o aracnídeo afeta também outros animais que estejam à disposição, como o gado, causando anemia e marcando seu couro. Apesar de ainda não haver estimativa de valores de prejuízos para a atividade, já há relatos de aumento da infestação.
Estudo conduzido na USP (Universidade de São Paulo) e divulgado na revista “Parasites & Vectors” aponta um potencial alvo para o desenvolvimento de uma nova vacina contra a febre maculosa. No SUS (Sistema Único de Saúde), ainda não há imunização para a doença.
Por Brenda Leitte– Jornal O Estado do MS.
Confira mais notícias na edição impressa do Jornal O Estado do MS.
Acesse também as redes sociais do O Estado Online no Facebook e Instagram.