‘Infelizmente, a quantidade de pessoas que precisam do sistema é maior do que ele pode oferecer

Fotos: Marcos Maluf
Fotos: Marcos Maluf

Declaração é da atual superintendente do HumapUFMS/Ebserh sobre os problemas enfrentados

Conforme noticiado pelo jornal O Estado, a superlotação é apenas uma ponta do iceberg no Humap-UFMS/Ebserh (Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian). A unidade enfrenta a falta de anestesistas, tem cirurgias suspensas, o setor de hemodinâmica está fechado e pacientes estão em leitos improvisados nos corredores. Em entrevista ao jornal O Estado, a atual superintendente, Dra. Andréa de Siqueira Campos Lindenberg, que está no posto desde o dia 1º de janeiro de 2023 e conta com apoio do reitor, Marcelo Augusto Turine, pontuou que se sente altamente capacitada para atuar na gestão da unidade, mesmo que isso represente um caminho permeado por inúmeros desafios.

O Estado: A senhora se sente pressionada no cargo?

Dra. Andréa de Siqueira:

Acho que um gestor que trabalhe na área de saúde, com certeza, uma vida sem altos e baixos ele não vai ter. Mas, eu me sinto plenamente capacitada e  extremamente comprometida para ocupar o cargo que ocupo. A pressão na saúde vem justamente por conta dessas dificuldades, às vezes, é a falta de leitos, o recurso financeiro que é insuficiente, o que vimos, no período pós-pandemia, foi um crescimento exponencial no preço de materiais e medicamentos e o recurso financeiro, muitas vezes, não acompanha isso. Então, o papel do gestor é buscar mais recursos, o que fazemos por meio de contratualização com o gestor municipal, aporte financeiro do Estado, indo atrás de recursos na nossa sede, em Brasília, atrás de emendas parlamentares. Por isso, quem tem que ficar à frente de um cargo como este é alguém que realmente entenda, não só de gestão, mas de assistência ao paciente. Eu, como médica, perco noites de sono quando, no hospital, faltam leitos e se alguém deixou de receber atendimento por falta desse leito adequado. Mas, como gestora, sei que, infelizmente, a quantidade de pessoas que precisam do sistema é muito maior do que ele pode oferecer.

 

O Estado: A questão política pode influenciar até que ponto, na situação enfrentada pelo hospital?

Dra. Andréa de Siqueira:

Não estou aqui por conta da política, eu sou médica, sou técnica e ocupo este cargo. Entendemos o momento político do país, mas são situações que não estão diretamente relacionadas ao meu trabalho, neste momento. Estou aqui há mais de cinco anos, trabalhando para que o hospital seja referência em todas as áreas, sou formada pela UFMS e me sinto plenamente apta e capaz. Agora, as questões políticas, muitas vezes, fogem deste contexto, mas acho que não é o principal foco, visto que o cargo que ocupamos com a equipe é extremamente sensível em dar retorno à população, que tanto precisa do hospital.

O Estado: A situação do HU indica que a unidade opera acima da capacidade. Quais fatores levam a esse cenário?

Dra. Andréa de Siqueira:

Atualmente, estamos trabalhando muito acima da nossa capacidade, o que significa dividir o pronto atendimento em áreas. Pacientes da área vermelha são aqueles que precisariam, no mínimo, estar em uma unidade, semi-intensiva ou leito de CTI. Temos um número reduzido de vagas na ala vermelha e trabalhamos com 200% da nossa capacidade, isso não acontece pela dificuldade de rotatividade de leitos, mas porque, realmente, a procura pelo atendimento está muito além da nossa capacidade.

Sobre o corredor, seria uma área verde, para pacientes que não têm risco de piora imediata do quadro clínico, temos vagas para 4 pacientes e estamos com 750% acima, isso se repete na Santa Casa e no Regional. Na maternidade também é um fato que não é só o Humap, fazemos parte de uma rede ‘Cegonha’, que permite que qualquer gestante tenha as portas dos hospitais abertas e o hospital, de alguma maneira, tem que atender a essa paciente. Infelizmente, pela falta de leitos, elas ficam em macas.

 

O Estado: Quantas cirurgias foram suspensas nas últimas semanas e quais os principais motivos?

Dra. Andréa de Siqueira:

Quando falamos em procedimentos cirúrgicos cancelados, temos que olhar que é multifatorial, então, dependendo da cirurgia, precisa-se de um leito pós-operatório. Além disso, precisamos de equipe médica adequada e de cirurgiões e anestesistas, estamos vivendo um problema nacional nesse sentido. Tivemos dificuldade para a entrada desses profissionais, a quantidade de candidatos do último concurso se esgotou e o número de vagas não foi preenchido. Solicitamos um PSS (processo de contratação simplificado), em que foi contratada uma empresa para a prestação do serviço, mas ela também teve dificuldade de colocar o quantitativo necessário. Além disso, solicitamos outro PSS, mas nenhum profissional se inscreveu. Temos a expectativa de um novo concurso público federal. 

 

O Estado: É verdade, que os pacientes do pronto-socorro estão sendo remanejados a outras unidades, tais como a Santa Casa e o Hospital Regional?

Dra. Andréa de Siqueira:

Sim. Quando um paciente é regulado para o Hospital Universitário, por algum motivo, por exemplo, somos referência na linha do AVC isquêmico, porém, muitas vezes, quando o regulador manda esse paciente, ele não examinou esse paciente, ele tem indícios de ser um AVC. Mas, quando ele chega no hospital e se trata de um AVC hemorrágico, existe a necessidade de transferência para outra unidade referência, que, no caso, seria a Santa Casa. Além disso, se um paciente entra com um problema cardiológico, mas temos, por algum motivo, a falta de equipamento ou material para a resolução rápida daquele problema, se a gente não consegue atender dentro das condições consideradas adequadas, tentamos, também, fazer o remanejamento. Isso é rotina nos hospitais. 

 

[Tamires Santana e Michelly Perez– O ESTADO DE MS]
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