Nos últimos 18 meses, oito onças-pintadas foram mortas na BR-262, segundo dados da SOS Pantanal
A imprudência nas rodovias federais que cortam o Mato Grosso do Sul continua sendo um cenário de tragédia silenciosa, mas alarmante: o atropelamento constante de animais silvestres. O trecho da BR-262, entre Três Lagoas e Corumbá, é um dos mais críticos. Só nos últimos 18 meses, oito onças-pintadas foram mortas nesse local, segundo dados da SOS Pantanal. Desde 2016, já são 22 registros de atropelamento da espécie, símbolo da fauna brasileira.
Além das onças, outros animais também sofrem com irresponsabilidade nas vias, como por exemplo, tamanduás-bandeira, lobos-guará, veados, capivaras e centenas de outras espécies perdem a vida diariamente nas estradas. Nas redes sociais, a ong expõe o drama: corpos espalhados pelo asfalto, vítimas do tráfego intenso e da falta de infraestrutura adequada para a proteção da fauna. “A quantidade de animais mortos ao longo do caminho é alarmante”, alerta a organização.
Segundo dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF), no primeiro semestre de 2025 foram registrados 31 sinistros com animais silvestres em rodovias federais de MS, resultando em 35 feridos e 2 mortes. No mesmo período de 2024, os números foram mais altos: 41 ocorrências, com 37 feridos e 4 óbitos. Apesar da aparente melhora, a inspetora Stefani, da PRF, pondera: “Apesar da redução no número de sinistros envolvendo atropelamento de animais nas rodovias federais de Mato Grosso do Sul, trata-se de um intervalo de tempo ainda curto para afirmar que há uma tendência de queda.”
Ela explica que alguns fatores podem ter contribuído para essa redução, como a presença de sinalização em áreas de maior risco, cercas, passagens de fauna e ações integradas de fiscalização e conscientização, tanto por parte da PRF quanto de órgãos ambientais e concessionárias. “Essas iniciativas, aliadas ao aumento da conscientização sobre os riscos da presença de animais na pista, são importantes para a prevenção e podem ajudar a reduzir a incidência desses atropelamentos”, afirma.
Mas não é só a estrutura que influencia nos números. As queimadas também são apontadas como fator de risco elevado. Em 2024, o mês de junho registrou diversos focos de incêndio em regiões com vegetação próxima às rodovias. Nesses períodos, segundo a PRF, os atropelamentos aumentam.
“Quando há focos de incêndio, os animais silvestres tendem a fugir do fogo em busca de segurança, o que aumenta significativamente o risco de travessias inesperadas nas rodovias. Além disso, a presença de fumaça reduz a visibilidade dos condutores e dificulta a identificação de animais na pista, ampliando as chances de sinistros”, alerta a inspetora.
Plano de contingência
O Governo de Mato Grosso do Sul com a SES (Secretaria de Estado de Saúde), aprovaram planos de contingência para enfrentar desastres provocados por chuvas intensas e seca, estiagem e incêndios florestais, considerando impactos simultâneos na saúde humana, animal e ambiental.
O Plano de contingência para chuvas intensas determina ações a serem adotadas em situação de emergência e crise, como enchentes e inundações que afetam diretamente a população e a infraestrutura de saúde.
Já o Plano de contingência para seca, estiagem e incêndios florestais estabelece diretrizes a eventos como incêndios e longos períodos de estiagem, com foco na garantia do acesso à água potável, controle de doenças respiratórias e apoio à saúde das populações atingidas e aos animais.
Responsabilidade
Nas rodovias, o atropelamento de animais não se configura como crime, mesmo que o animal morra. A omissão de socorro também não está descrita como uma infração. No entanto, a PMA (Polícia Militar Ambiental) orienta que o condutor tenha bom senso e, se possível, acione a equipe por meio do 190 para que o animal seja socorrido.
De acordo com o CRAS (Centro de Referência de Assistência Social), os atropelamentos, na maioria das vezes, são fatais para os animais, mas ainda assim muitos chegam ao Centro para serem reabilitados. Eles aindam reforçam que filhotes também são levados ao local, após as mães morrerem ao tentar cruzar as rodovias.
Taynara Menezes