Fraudes em reformas de escolas de Terenos somam mais de R$ 1,5 milhão, apontam investigações

Foto: Nilson Figueiredo
Foto: Nilson Figueiredo

Processo revela desvios em contratos, enquanto moradores relatam reformas superficiais e se dizem traídos pela gestão

As investigações da Operação Velatus, que levou à prisão do prefeito de Terenos, Henrique Wancura Budke, revelam um esquema de fraudes em licitações que atingiu diretamente o setor da educação no município. Segundo decisão do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, contratos de reforma em escolas como a Rosa Idalina Braga Barboza (no centro da cidade) e a Isabel de Campos Widal Rodrigues (em assentamento), além da Escola Municipal Jamic, localizada em outro assentamento, foram alvo de supostos desvios.

Valores e empresas beneficiadas

Na Escola Rosa Idalina, a licitação de R$ 1.123.417,39, vencida pela empresa Angico Construtora, é apontada como fraudada desde o início. Pagamentos feitos à empresa somaram R$ 82,8 mil, R$ 56,3 mil e uma nota de R$ 231,5 mil. Em troca, o prefeito teria recebido ao menos R$ 60 mil em propina, segundo os autos.

Já na Escola Isabel de Campos Widal, em assentamento, a Carta Convite nº 001/2022 contratou a Base Construtora e Logística por R$ 315.879,12. A investigação mostrou que concorrentes eram de fachada e que houve pagamentos fora da ordem cronológica, além de aditivos irregulares que elevaram o custo de uma medição em mais R$ 22,5 mil. Propinas identificadas ao prefeito e ao então secretário de obras somam pelo menos R$ 11 mil em espécie.

A Escola Jamic, também citada na decisão, aparece em contratos investigados com indícios de direcionamento e superfaturamento. Porém, até agora, não há valores específicos detalhados no processo para esta unidade.

O que dizem os moradores

A equipe do Jornal O Estado esteve em Terenos e ouviu a população sobre as reformas e os impactos da investigação.

Um morador que vive em frente à Escola Jamic, e preferiu não ser identificado, afirmou não ter notado mudanças significativas.

“Já estava meio sentível há um ano, mas não foi uma reforma grande. Nada que chamasse atenção. Não sei dizer muito mais”, contou.

Jairine

Já Jairine Wagner da Silva, 27 anos, mãe de dois alunos, descreveu uma reforma recente: “Eles melhoraram bastante a escola. Fecharam o pátio, colocaram ar-condicionado em todas as salas, reformaram banheiros. A gente não suspeitava de nada, mas quando soube dos desvios foi um choque. A gente escolhe um candidato esperando melhorias, não corrupção”.

Para a aposentada Cristina Almeida, o escândalo mostra o abandono da cidade e a necessidade de mudança: “Aqui não tem nada para os jovens, só envelheceu. A gente espera que o novo prefeito, mesmo sem experiência, consiga arrumar essa prefeitura arrombada. Essas reformas foram só maquiagem, gastaram milhões e a escola continua precisando”.

Cidade em descrédito

Além da revolta da população, o processo revela que muitas empresas envolvidas não tinham sequer estrutura compatível com os contratos. Endereços informados eram casas comuns em Terenos, cujos moradores sequer sabiam da participação em licitações milionárias.

Com o afastamento do prefeito Henrique Budke, a Câmara Municipal recomendou o cancelamento de todos os contratos investigados. A gestão interina terá agora o desafio de recuperar a confiança da população e garantir que recursos destinados à educação cheguem de fato às escolas.

Por Suelen Morales

 

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