Monitor de segurança integrará dados para combater crimes de gênero no Estado
Nos primeiros 24 dias de 2025, Campo Grande já registra números alarmantes de violência contra a mulher: 1,3 mil casos de violência doméstica, 93 vítimas de estupro e três tentativas de feminicídio. Apesar do índice zero de feminicídios consumados até o momento, os dados mostram a gravidade da situação, que se mantém uma das principais preocupações das autoridades em Mato Grosso do Sul.
Para intensificar o combate a esses crimes, será lançado na próxima segunda-feira (27) o Monitor da Violência Contra a Mulher. O projeto, uma parceria entre o TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) e a SEJUSP (Secretaria de Justiça e Segurança Pública do Estado), busca integrar informações sobre crimes de gênero, como violência doméstica, feminicídios e estupros, em uma única plataforma, com o uso de tecnologias de BI (Business Intelligence). A ferramenta permitirá análise mais detalhada dos casos e ajudará a nortear ações preventivas e repressivas no enfrentamento à violência de gênero.
Uma resposta tecnológica ao problema
O painel digital reunirá dados do sistema Estatística Sigo, ampliando sua funcionalidade ao integrar informações detalhadas sobre crimes consumados e tentados. A iniciativa foi idealizada pela desembargadora Jaceguara Dantas da Silva, coordenadora da Coordenadoria da Mulher do TJMS, e pelo secretário de Segurança Pública, Delegado Antônio Carlos Videira. Segundo eles, a ferramenta não só permitirá intervenções mais eficazes como também subsidiará políticas públicas, pesquisas acadêmicas e campanhas educativas.
“Nosso objetivo é ter uma visão ampla e precisa dos casos, para que possamos atuar de maneira mais estratégica, reduzindo índices de violência e promovendo a segurança das mulheres em Mato Grosso do Sul”, destacou a desembargadora.
Comparativo com 2024
No mesmo período de 2024, Campo Grande havia registrado 1,5 mil casos de violência doméstica, 87 estupros e um feminicídio consumado. Embora o número de casos de violência doméstica tenha reduzido levemente, o aumento nos registros de estupros preocupa. A polícia civil e outras autoridades acreditam que a subnotificação ainda seja um desafio a ser enfrentado e esperam que a nova plataforma ajude a melhorar a precisão dos dados e o mapeamento das ocorrências.
Números nacioanis
Em julho de 2024, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgou o mais recente Anuário Brasileiro de Segurança Pública, que evidencia a piora em vários indicadores e alta da violência de gênero no país.
O estudo apresentou números sobre feminicídios, agressões em contexto de violência doméstica, ameaça, perseguição (stalking), violência psicológica e estupro. Somadas, essas violências atingiram mais de 1,2 milhão de mulheres em 2023.
De acordo com o anuário, os feminicídios cresceram 0,8% entre 2022 e 2023: 1.467 mulheres foram assassinadas por questões de gênero, o maior registro desde que a Lei do Feminicídio foi sancionada, há uma década.
A alta também se estendeu para outros crimes. Segundo o estudo, as agressões decorrentes de violência doméstica cresceram 9,8% e atingiram 258,9 mil casos. Já as ameaças subiram 16,5% e foram o tipo de violência mais frequente em números absolutos: 778,9 mil casos foram registrados em 2023, ante 668,3 mil em 2022.
O levantamento também revela que o Brasil atingiu um novo recorde de estupros. Em 2023, 83.988 mulheres foram vítimas de estupro — o que representa um crime de estupro no país a cada seis minutos.
A maior alta percentual entre os crimes analisados (34,5%) aconteceu com o stalking, com 77.083 registros em 2023, contra 57.294 no ano anterior.