Com idade entre 18 e 24 anos, 46 seminaristas iniciam formação sacerdotal em MS

Foto: Roberta Martins
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Jovens percorrem caminho que une filosofia, teologia e vida comunitária no seminário

Em tempos em que falar de futuro costuma envolver planos de carreira, sucesso rápido e visibilidade nas redes sociais, 46 jovens de Mato Grosso do Sul optaram por um caminho alternativo: a formação para o sacerdócio.

O número, embora não seja expressivo, chama atenção. Como tantos outros da sua geração, a maioria tem entre 18 e 24 anos, a diferença é que encontraram na vocação religiosa seu propósito de vida. Esse movimento de fé e entrega remete à história de Carlo Acutis, o jovem beato conhecido como “patrono da internet”, que teve seu primeiro milagre reconhecido justamente em Campo Grande, onde, em 2010, uma criança foi curada após tocar uma de suas relíquias.

Em Campo Grande, a formação sacerdotal é oferecida por diferentes instituições. O Seminário Maior Regional Maria Mãe da Igreja, sob a direção do s Padres de São Sulpício e o Seminário Propedêutico Dom Antônio Barbosa coordenado pela Arquidiocese da Capital. Além deles, há o seminário da Congregação Salesiana, o Centro dos Pobres Servos, o Noviciado dos Capuchinos e dos Franciscanos e o Seminário Batista Sul-Mato-Grossense, vinculado às igrejas batistas no estado.

Foto: Roberta Martins

O início do processo formativo católico se dá, na maioria dos casos, pelo chamado ensino propedêutico. Conforme explica o padre Juan Diego Giraldo Aristizábal, reitor do Seminário Maior Regional, essa etapa funciona como um ano introdutório. Os jovens recebem acompanhamento vocacional e iniciam estudos relacionados à formação humana, afetiva, cristã e comunitária.

“Basicamente, consiste neste primeiro ano em fazer uma experiência de vida comunitária. Que é a experiência de conviver com outras pessoas, pessoas que serão seus colegas de estudo. Em seguida, fortalecemos elementos da estrutura humana afetiva. Porque, claro, para ser padre você precisa ser uma pessoa humana integral. Nós somos filhos da cultura, da sociedade, de situações que precisam ser mais estruturadas, mais reconhecidas. Esse é o trabalho de formação humana afetiva. Além da experiência cristã. Como experiências pastorais e experiências religiosas de vida dentro da paróquia”, detalha o padre.

Ao final do propedêutico, os jovens são avaliados. Eles podem ser aprovados para o seminário maior, ter sua formação estendida por mais um ano ou encerrar o percurso. No seminário maior, localizado no bairro Jardim Seminário, o processo formativo tem duração média de sete anos e abrange cinco dimensões: comunitária, humano-afetiva, espiritual, acadêmica e pastoral-missionária.

“Às vezes as pessoas dizem: o que faz um seminarista? Só Reza? Aqui nós desenvolvemos a formação integral. São 46 seminaristas e cinco padres. 51 pessoas moram aqui. Então, vivenciamos a vida comunitária. Além disso, temos psicólogos que acompanham, que os ajudam com o processo de formação humano afetiva, a entender melhor sua decisão”, afirma o padre Juan. Ele detalha ainda que os seminaristas cursam Filosofia e Teologia na UCDB (Universidade Católica Dom Bosco) e são inseridos em ações pastorais conforme o ano da formação. Tudo sustentado pela experiência de comunhão com Jesus Cristo (vida interior). Este processo formativo se faz em duas etapas: discipular (filosofia) e configurativa (teologia).

A diferença entre os tipos de formação também está ligada ao tipo de sacerdote. “ Na Igreja Católica há dois tipos principais de padres: os diocesanos e os religiosos. Os diocesanos são vinculados diretamente a uma diocese — ou seja, quem se ordena em Campo Grande, por exemplo, fica destinado à Diocese de Campo Grande. Já os religiosos, como os salesianos ou franciscanos, pertencem a congregações com carismas específicos e podem ser enviados para outros lugares, inclusive fora do país. Outra diferença está nos compromissos assumidos. Os religiosos fazem votos de castidade, pobreza e obediência. Os diocesanos, por sua vez, fazem uma promessa de Celibato e obediência ao bispo”, explica o reitor.

Para o padre Juan, a função da formação não é apenas a de formar padres, mas também a de ajudar o jovem a discernir se o sacerdócio é mesmo seu caminho. “Nem todos seguem até o fim — alguns percebem que suas motivações eram passageiras. Esse processo de descoberta também é importante.”

Segundo ele, após anos de convivência com os seminaristas, é possível reconhecer com mais clareza os motivos que levam os jovens à vida religiosa. “A principal delas costuma ser uma experiência profunda com Deus — algo tão significativo que desperta o desejo de comunicar essa vivência de Cristo de forma concreta, por meio de uma entrega total da própria vida.”

Embora qualquer pessoa possa viver e expressar a fé na vida cotidiana, o seminarista escolhe dedicar-se por completo à missão religiosa. “Cristo vale a pena, e por isso eu me entrego totalmente”, resume o padre, ao mencionar o sentimento que ele mesmo identifica em seu chamado.

A formação, por fim, ajuda a amadurecer essas motivações. Alguns ingressam por razões como afinidade com a vida da Igreja ou facilidade em falar em público, mas esses fatores precisam ser aprofundados. “A formação longa no seminário tem esse papel: ajudar cada um a identificar se está ali por um chamado verdadeiro”, conclui.

Por Ana Cavalcante

 

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