Após ser adiado 3 vezes, julgamento da mãe e padrasto acontece na próxima semana em Campo Grande
O caso da pequena Sophia Ocampo, de apenas 2 anos, que foi brutalmente assassinada após sofrer abusos e torturas em 2023, gerou e permanece gerando grande comoção em Campo Grande. O julgamento de sua mãe, Stephanie de Jesus, e seu padrasto, Christian Campoçano, está marcado para a próxima semana, nos dias 4 e 5 de dezembro e contará com reforço na segurança. A equipe do Jornal O Estado conversou com vizinhos do bairro onde a menina vivia e após três prorrogações do júri, eles pedem para que a Justiça seja feita.
O assassinato de Sophia aconteceu no dia 26 de janeiro de 2023, na casa onde a criança vivia com a mãe e o seu parceiro, na Capítal. A menina chegou sem vida em uma Unidade de Pronto-Atendimento (UPA), o corpo dela tinha múltiplos sinais de agressões físicas, abuso sexual e tortura, evidenciando que ela foi vítima de uma violência prolongada. De acordo com os laudos periciais, a criança foi espancada, e sofreu ferimentos causados por objetos, além de ter sido abusada sexualmente por seu padrasto. O laudo necroscópico do Imol (Instituto de Medicina e Odontologia Legal) indicou que Sophia morreu por um traumatismo na coluna causado por agressão física.
O comerciante que possui um bar próximo à casa da família de Sophia foi uma das testemunhas a se pronunciar sobre o caso. Ele relembrou com tristeza as visitas frequentes de Stephanie e Christian ao seu estabelecimento e o comportamento sempre alegre e sorridente de Sophia. “Ela vinha sempre aqui, pedia uma balinha e sorria. Nunca imaginei que algo tão terrível poderia estar acontecendo por perto”, disse abalado.
O comerciante também contou que, em uma ocasião, Sophia havia falado a um parente que estava se sentindo mal, mas ninguém fez nada para ajudá-la. “A criança estava pedindo ajuda de uma forma indireta, e ninguém fez nada. Uma semana depois, ela estava morta. Isso é cruel. Eles são monstros, e precisam pagar pelo que fizeram”, afirmou o comerciante, que lamenta não ter percebido os sinais de sofrimento da criança mais cedo.
Acusações
Stephanie, mãe de Sophia, admitiu em depoimento à polícia que sabia dos abusos sofridos pela filha, mas alegou que temia as ameaças constantes de seu companheiro, Christian. Ela afirmou que se sentia impotente para intervir, temendo agressões violentas de Christian caso tentasse proteger Sofia ou denunciasse os abusos. No entanto, a investigação revelou que, apesar das ameaças, Stephanie não procurou ajuda para a filha e não denunciou os abusos às autoridades.
Ambos são acusados de torturar, estuprar e matar a menina, em um crime que chocou a cidade e repercutiu em todo o Brasil. Os réus vão responder por homicídio empregado por maneira cruel e motivo fútil. Christian também responderá por estupro e Stephanie, por omissão.
O padrasto de Sophia possuía passagens na polícia por violência doméstica contra a ex-companheira, com a qual também possui um filho. Além disso, divide um boletim de ocorrência restrito com a Stephanie por maus-tratos a animais, registrado no ano passado na DECAT (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Ambientais e de Atendimento ao Turista). Sobre a relação com a morte da criança, ele nega as acusações e alega que foi um acidente causado por problemas de saúde não identificados. Contudo, os exames periciais indicaram que a morte foi causada por uma combinação de espancamentos e abuso sexual, refutando sua versão.
Revivendo o Pesadelo
Para o Jornal O Estado, Igor de Andrade, marido de Jean Carlos e pai de Sophia, expressou sua indignação sobre as constantes manobras da defesa dos acusados, que atrasaram o julgamento e intensificaram a dor da família. “É revoltante pensar no quanto a defesa conseguiu adiar o júri com estratégias baratas, como se cada adiamento fosse nos fazer esquecer o que aconteceu. Cada vez que o julgamento era adiado, revivíamos o pesadelo. Isso não é defesa, é desrespeito com a memória da Sophia, com nossa dor e com a própria justiça.”
Ele lamentou o impacto dessas ações na busca por justiça: “Enquanto vivemos o luto todos os dias, eles tentaram fugir de suas responsabilidades. Chegar até aqui foi uma caminhada cruel, mas seguimos firmes, acreditando que a verdade prevalecerá e que finalmente os responsáveis enfrentarão as consequências de seus atos.”
O caso de Sophia trouxe à tona questões sobre a falta de atenção à violência doméstica e ao abuso infantil, e sobre o papel da sociedade e das autoridades em identificar e denunciar esses abusos antes que seja tarde demais.
Organizações de direitos humanos e entidades que defendem a proteção de crianças têm acompanhado de perto o andamento do caso. O julgamento de Stephanie e Christian é visto como uma oportunidade para refletir sobre o fortalecimento das políticas públicas voltadas para a proteção das vítimas de abuso.
A tese de defesa de ambos os réus será a de que a morte de Sophia não foi intencional e que, no caso de Stephanie, ela estava sob pressão e ameaças de seu companheiro. No entanto, a acusação sustenta que tanto Stephanie quanto Christian são responsáveis pela morte de Sophia e que sua omissão e participação direta nos abusos justificam a acusação de homicídio qualificado.
Programação do Júri
A Justiça de Mato Grosso do Sul determinou que o jugalmento acontecerá entre os dias 4 e 5 de dezembro, sem novas prorrogações pela 2ª Vara do Tribunal do Júri de Campo Grande. O júri contará com a presença dos réus: Christian Campoçano (padrasto)- preso no Instituto Penal de Campo Grande
e da mãe, Stephanie de Jesus – presa no estabelecimento penal de São Gabriel do Oeste.
O plenário contará com a presença de 12 testemunhas, entre elas um investigador de polícia, uma médica e um médico legista, serão ouvidas de acordo com a programação.
Na quarta-feira (4) a previsão é de que às 8 horas, 2 testemunhas do Ministério Público (testemunhas de acusação) e 5 testemunhas de defesa de Stephanie prestem esclarecimentos. Mais tarde, às 13 horas será a vez de 5 testemunhas de defesa de Christian. Após a oitiva de todas as testemunhas será realizado o interrogatório dos réus.
No segundo dia de interroogatórios, quinta-feira (5) às 8 horas, serão realizados os debates (acusação e defesa), seguido da votação dos quesitos e a sentença.
Por Roberta Martins