Campanha pela mudança de local da estátua de Manoel de Barros ganha força em Campo Grande

Foto: Nilson Figueiredo
Foto: Nilson Figueiredo

O monumento foi instalado em 2027 no canteiro central da Afonso Pena

Uma mobilização espontânea nas redes sociais reacendeu o debate sobre a localização da estátua em homenagem ao poeta Manoel de Barros, instalada em 2017 no canteiro central da Avenida Afonso Pena, em Campo Grande.

O movimento traz à tona um questionamento: “O local onde o poeta foi eternizado faz jus à sua trajetória e legado?” Para o jornalista Rogério Alexandre Zanetti, um dos líderes da mobilização popular, a resposta é não. Ele defende que a obra seja transferida para um ponto mais simbólico e acessível.

“O argumento usado para colocar a estátua naquele ponto foi de que estaria mais próxima da periferia por conta do corredor de ônibus. Mas hoje isso não se sustenta. A linha que passa ali é basicamente de integração entre terminais, você não vê ninguém descendo para ir até a estátua”, critica.

Rogério também destaca problemas estruturais do espaço atual: “É sujo, mal iluminado, não tem sinalização. É uma via de trânsito rápido, difícil de acessar a pé ou de carro. A estátua é maravilhosa, uma obra genial do Ique, mas está isolada. Falta dignidade ao entorno”.

Entre as sugestões apontadas por ele para a nova localização estão áreas como a esquina das ruas 15 de Novembro e 14 de Julho, próximo da casa onde Manoel morou, o novo Calçadão da 14, Parque das Nações Indígenas, Avenida do Poeta no Parque dos Poderes e até a lateral da Morada dos Baís, caso o espaço seja revitalizado.

“O Manoel era o poeta do silêncio, da contemplação. Ele merece um lugar com iluminação, sinalização, com espaço para leitura de sua obra, com totens explicando sua importância. Ele foi considerado o maior poeta vivo da língua portuguesa enquanto estava entre nós”, pontua.

A poeta e amiga pessoal de Manoel, Sylvia Cesco, compartilha da mesma opinião e afirma já ter se manifestado publicamente outras vezes sobre a inadequação do local atual. “Há dois anos, escrevi um documento e levei pessoalmente aos curadores da Casa Quintal, em que me posicionei sobre a necessidade de mudança de local da estátua de nosso Poeta Maior para um lugar que refletisse adequadamente sua alma, sua sensibilidade, seu estilo de vida. Ali onde está hoje, o cenário é de buzinas, carros, passeatas, nada a ver com Manoel, que dizia que a única bandeira de um poeta é a Arte”.

Sylvia também defende que a escultura seja transferida para a Avenida do Poeta, criada em homenagem a ele no Parque dos Poderes. “Ou para qualquer outro ponto mais arborizado, silencioso, com flores. Ele escreveu um dia: ‘Senhor, dai-me uma casa com janelas de aurora e árvores no quintal, que na primavera fiquem cobertas de flores…’. Esse era o Manoel”, relembra.

O escritor André Luiz Alvez também se posiciona favorável à mudança, relembra que a família de Manoel foi contra a construção da obra, mas foram convencidos pelo artista responsável, Ique Woitschach, que a estátua ficaria em um lugar abaixo de árvores, de grande movimentação de estudantes e do pessoal periférico. No entanto, o mesmo acredita que o local já não comporta mais esse cenário. André defende que a decisão seja debatida com responsabilidade.

“A ideia [do lugar] não deu certo, há pouco interesse da população, o trânsito ali é muito rápido e já aconteceu até o roubo de um pé da estátua. Penso então que seja feita uma discussão entre o artista Ique, a família do Manoel e setores da cultura para se chegar a uma definição. Concordo que a estátua ficaria muito mais acessível se fosse colocada no calçadão da Barão, em frente ao bar do Zé”.

A mobilização, segundo Zanetti, não tem caráter formal ou institucional. “Comecei de forma solitária, sem nenhuma pretensão. Aos poucos, várias pessoas passaram a apoiar, compartilhar e engajaram. Não é uma organização. Ainda não levamos a proposta a nenhuma autoridade, é uma campanha de conscientização, por enquanto”, reforça.

Estátua de Manoel de Barros

A escultura em bronze de tamanho real, feita pelo artista campo-grandense Ique Woitschach, foi alvo de vandalismo em 2021 e passou por um processo de restauração, em 2024, financiado pela FCMS (Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul) R$75,6 mil. O projeto, além da instauração do pé do poeta, contava com a instalação de piso novo, câmeras de segurança, iluminação e ornamentação.

A estátua, que pesa aproximadamente 400 quilos, foi instalada em homenagem aos 101 anos de nascimento do poeta. Nascido em Cuiabá, Manoel de Barros viveu grande parte da vida em Mato Grosso do Sul, onde construiu uma obra marcada pela sensibilidade e contemplação da natureza.

Por Inez Nazira

 

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