Com receio de novos temporais, moradores correm contra o tempo para minimizar os estragos
Problemas proeminentes de Campo Grande que nunca desaparecem e a cada chuva se tornam mais evidentes, atrapalhando o dia a dia da população. Além disso, alguns causam graves consequências, como a dengue. Denúncias ressaltam tais situações cotidianas, como buracos nas ruas, pontos alagados, lixos nas calçadas, que trazem proliferação de Aedes aegypti, mosquito da dengue.
Conforme dados do Cemtec (Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima) foi observado que Campo Grande teve acúmulo de 114,8 mm de precipitação, durante o período de 72 horas (3 dias), notado desde sexta-feira (24), a segunda-feira (27). Ainda, de acordo com o órgão, para os próximos dias a previsão é de chuvas de intensidade fraca a moderada, sendo possível ocorrer de modalidade forte acompanhada de tempestades com raios e rajadas de ventos em partes do Estado.
Sem a estrutura necessária, os fatores climáticos contribuem para os cenários caóticos da Capital. A equipe do jornal O Estado foi até uma das avenidas mais movimentadas da cidade, a Av. Costa e Silva, onde encontra-se um ponto de alagamento, em frente a UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), onde os veículos têm que reduzir a velocidade e usar apenas uma faixa da via, causando tumulto na região.
Os problemas não acabam por aí, na Avenida Costa e Silva e na rua Júlio Anffe, a calçada está cheia de matagal, ficando quase impossível a passagem de pedestres. Já em outra região da cidade, no Centro, nas ruas Marco Pólo e Brilhante, que também possuem grande tráfego de veículos, o cenário é de abandono, com descartes irregulares de materiais, como sofá, pneu e lixo orgânico na calçada, fazendo com que os pedestres utilizem a rua para continuar o trajeto.
A dona Helena Funsat, de 89 anos, mora em frente ao “depósito de lixo improvisado”. A senhora contou à reportagem que convive com o mal cheiro há pelo menos seis meses e que já tentou contatar as autoridades para fazer a limpeza da área, contudo não obteve sucesso. Dona Helena teme pela sua saúde por conta dos criadouros de Aedes aegypti.
“É uma situação que persiste há um tempo, já tentamos falar com a Prefeitura para fazer a limpeza, mas nunca vieram. Chega a ser perigoso, as pessoas tem que andar na rua, porque não tem como passar por cima, até mesmo do lado, não tem espaço na calçada. Não só isso, tem pneu, garrafa, que acaba juntando dengue ali. É difícil essa situação. Não tem ninguém que mora ali, então acaba ficando desse jeito, abandonado”.
A senhora de 89 anos não é a única que sente dificuldade para lidar com a situação. O senhor Nilson Pinto passa pela rua diariamente, tendo que caminhar na via com risco de sofrer um acidente, por conta da montanha de lixo. “Preciso passar por aqui e sempre acabo usando a rua por conta desse lixo. É perigoso, mas não tem o que fazer”, relata.
Sobre a demanda, a Prefeitura informou que a limpeza é realizada pela Solurb, o órgão executivo fica responsável apenas pela boca de lobo. “A Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos informa que a concessionária Solurb segue realizando a limpeza dos logradouros públicos e do centro da cidade. Já a limpeza das bocas de lobo está sendo executada pelas equipes próprias da Sisep”.
Força tarefa
Após confirmar ao Jornal O Estado a repactuação do contrato com a Solurb pela readequação de recursos, a Prefeitura de Campo Grande informou que por meio de suas secretarias e órgãos competentes, intensificou as ações para minimizar os impactos das chuvas que têm atingido a cidade diariamente. “As equipes estão mobilizadas em diversas frentes, com trabalhos focados na poda e remoção de árvores caídas, manutenção e sinalização de vias, além de prestar assistência direta às famílias em situação de vulnerabilidade social”. A população pode acionar a Defesa Civil pelo 199, o Corpo de Bombeiros pelo 193 e o canal de teleatendimento a Prefeitura pelo 156 para emergências.
Casos de Dengue
Como mencionado por dona Helena, acúmulo de lixo e a chuva são fatores que influenciam na proliferação dos mosquitos da dengue, por conta da água parada. No Estado, já soma 204 casos confirmados, em três semanas (S3) de registro. Quando analisado o número do ano passado, observando o mesmo período de tempo, consta que houve um aumento de 39,72%. Em 2024, na S3 foram contabilizados 146 casos da doença.
O aumento de casos acontece no verão, explica o médico infectologista da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), Dr. Júlio Croda. Essa problemática está diretamente ligada ao tempo, que é marcado por ser um período chuvoso e de muito calor, o que favorece a replicação e a proliferação do mosquito aedes aegypti. Mesmo com esse prognóstico, o Dr. Júlio Croda tem esperanças que 2025 seja um ano mais tranquilo e com menos casos.
“Se você tem verões mais quentes e mais chuvosos, como também as mudanças climáticas, que impactou o Brasil, há uma elevação no número de casos. Então temos que aguardar para ver, mas a gente tem nas duas maiores cidades intervenções inovadoras de controle. Campo Grande terminou a soltura do mosquito wolbachia em dezembro de 2023, Dourados vacinou uma grande parcela da população. Então nas duas maiores cidades do Estado houve uma intervenção em massa. Se a gente juntar as duas populações, quase metade da população do Estado tem alguma intervenção inovadora do ponto de vista da prevenção. Então, eventualmente a gente pode já ver algum tipo de impacto dessas intervenções nos números porque a gente abordou e propôs um novo”.
Por Inez Nazira