Casos de violência e assédio têm ampliado a busca por técnicas de proteção
A procura por cursos e aulas de defesa pessoal entre mulheres em Campo Grande registrou um aumento significativo nos últimos meses, conforme escolas de técnicas de proteção. Professores e instrutores confirmam que, atualmente, o público feminino representa cerca de 50% das novas matrículas em academias e associações da cidade. Em meio ao crescimento da sensação de insegurança, casos recentes de violência e assédio têm impulsionado essa busca.
O dado é resultado de entrevistas realizadas pela reportagem com proprietários de academias e associações de artes marciais, que relatam também que muitas alunas buscam, além de técnicas de defesa, o fortalecimento físico e, principalmente, o psicológico.
O crescimento da demanda acompanha a realidade preocupante da violência contra a mulher em Mato Grosso do Sul. Segundo a Sejusp (Secretaria de Estado de Segurança Pública), somente neste ano o Estado contabiliza 22 feminicídios e outros 12.717 boletins de ocorrência relacionados à violência doméstica, uma média de 1.589 registros por mês.
Academias de diferentes modalidades, como Krav Maga, Aikido e Karatê, têm observado um aumento contínuo da presença feminina. “Tenho alunas de 11 a 65 anos, de diversas profissões, incluindo policiais e universitárias. Muitas buscam não apenas se defender, mas também se desenvolver fisicamente”, explica Arnaldo Mendonça Junior, instrutor responsável pela Associação de Aikido Heiwa Aikidojode. Segundo ele, o preconceito ainda persiste, mas a participação das mulheres vem crescendo, chegando a compor metade das turmas.
Para quem já treina, os resultados vão além do físico. A universitária Ellen Fernandes Duarte conta que percebe mudanças reais na forma como reage a situações de risco. “Eu me sinto muito mais segura hoje do que quando comecei, sem sombra de dúvidas. Claro que isso não significa que me sinto apta a reagir a toda e qualquer situação, mas se alguém tentasse me agredir fisicamente ou sexualmente, com certeza eu tentaria aplicar alguma das técnicas que treinamos”, afirma.
O professor de Karatê e especialista em defesa pessoal, Luis Roberto de Arruda, da Academia de Karatê Team Arruda, reforça que os casos de violência e assédio, tanto os noticiados pela mídia quanto aqueles comentados entre amigas e familiares, têm sido o principal fator para o aumento da procura. “Na academia, aproximadamente 70% dos alunos são mulheres, com a maior parte sendo composta por jovens e crianças”, ressalta.
A tendência se repete em outras modalidades. Em uma escola de Krav Maga na região central, o instrutor Giulio César relata que o número de alunas quase iguala ao de homens, abrangendo todas as idades.
O movimento conjunto mostra que, em Campo Grande, a defesa pessoal deixou de ser apenas uma prática esportiva para se consolidar como ferramenta de proteção, confiança e autonomia no dia a dia das mulheres.
Por Geane Beserra
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