Ano de 2024 é visto como o mais quente da história

FOTO: MARCOS MALUF
FOTO: MARCOS MALUF

Ano bateu recordes históricos causados pela extrema seca

Como o ano não está fechado oficialmente não é possível afirmar com toda certeza, mas especialistas confirmam que 2024, ao que tudo indica, será considerado o ano mais quente da história. Este ano, vivemos um dos piores cenários de seca no Estado. Recordes inimagináveis foram atingidos, como o números de focos de calor, bem como o baixo nível do Rio Paraguai, além da temperatura média fechar em alta.

“O ano de 2024 ainda não é oficialmente, mas ao que tudo indica que vai ser o ano mais quente da história. Não é ainda, porque ainda está acontecendo o ano, então eles vão consolidar esses dados. Aqui no Mato Grosso do Sul a gente classifica o 2024 como um ano muito seco com déficit hídrico elevado em algumas regiões e também um ano com temperaturas acima da média histórica e também com a ocorrência de várias ondas de calor, foram 16 de 2023 para 2024”, pontua o meteorologista do Cemtec (Centro de Monitoramento de Tempo e do Clima de Mato Grosso do Sul), Vinicius Sperling.

O meteorologista explica que há uma conjuntura de vários fatores para a ocorrência dessa seca extrema no Estado, como o El Niño muito intenso, que auxilia na mudança climática, promovendo também o aquecimento global. O especialista também argumenta que houve diversos bloqueios atmosféricos, e esses impedem a entrada de sistemas meteorológicos como frentes frias e baixas pressões, ocasionando céu limpo e ausência de chuva.

“Esses El Ninos fortes têm um impacto global. No clima global, com temperaturas acima da média, impactando o regime de distribuição de chuvas. Então, ele influenciou bastante. Mas também, a gente teve aliado ao El Ninõ, oceanos atipicamente quentes, ou seja, o Atlântico Norte está muito quente, o Índico também. Então, são vários fatores que influenciam a seca em específico em relação à meteorologia, porque teve atuação de vários bloqueios atmosféricos”.

A maior temperatura máxima registrada este ano foi no dia 7 de outubro, em Aquidauana, com 43,7ºC. “Em geral em relação ao Mato Grosso do Sul, foi um ano mais quente e mais seco em termos gerais, principalmente no Pantanal que a gente viu queimar desde maio, junho, meses que queimava menos. Então isso foi um reflexo muito importante desse cenário atual”.

Para amenizar essa situação de seca no Estado, apenas a chuva, porém novembro, dezembro e janeiro são considerados meses chuvosos e, no entanto, estão sendo registradas poucas precipitações. O meteorologista aponta que para 2025 a previsão não é boa, por conta das condições climáticas apresentadas.

“Para 2025 a gente espera ainda um cenário um pouco crítico, porque dezembro e janeiro são os meses mais chuvosos do ano para a maioria das cidades no Mato Grosso do Sul e no momento que a gente tá percebendo que as chuvas estão de forma irregular. Se olhar os balanços de chuva diariamente, municípios com mais de 100 milímetros estão registrando menos chuva. Embora o verão 2025 ele apresenta como um cenário de chuvas próximo da média, o que difere do que vem ocorrendo no último ano, que era chuvas abaixo da média, a gente fica com certo receio porque os modelos de clima ainda estão com muitas incertezas.

Incêndios no Pantanal

Uma das consequências visíveis do tempo seco no Mato Grosso do Sul, foi a intensa onda de calor que atingiu o Pantanal. O número de focos registrados em 2024 superou o número de 2020, que era considerado o mais trágico, quando alcançou recordes históricos.

Em 2020, de 01 de janeiro a 9 de dezembro, foram registrados 11.920 focos de calor. Já em 2024, no mesmo período, o Estado contabiliza 12.989 incêndios, o número supera o ano completo de 2020, quando foram registrados 12.080 focos. Este ano, o mês que teve o maior número de registros foi agosto, algo incomum quando observado os outros anos, que o auge foi em setembro.

O bioma teve vários prejuízos ao longo do ano inimagináveis e incalculáveis, mesmo com o reforço nas equipes para o combate. Durante o ano de 2024, o MS ficou entre os três estados com o maior número de focos do país, apenas recentemente ele caiu em sua posição.

A situação fica evidente quando analisados os municípios com mais focos de calor registrados de janeiro ao dia 9 de dezembro. Corumbá, localizado na região pantaneira, se classifica em terceiro lugar no ranking, com 5.364 focos, perdendo apenas para dois municípios do Pará.

Rio Paraguai

O ano de 2024 foi crítico até mesmo para os rios do Estado. Em outubro, o Rio Paraguai atingiu o recorde com menor nível desde 1964, quando chegou a marca de 69 centímetros negativos, sendo ainda o pior índice desde o início do monitoramento em 1900.

Apesar de estar abaixo da cota zero, o Rio Paraguai não ficou completamente seco, mas foi possível ver e vivenciar momentos únicos, como pessoas caminhando até o farol que ficava submerso no Rio. Os técnicos do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) explicam que em Ladário, o rio mantém aproximadamente 5 metros de profundidade devido às características geológicas da região, que criam um canal natural no leito. A cota zero é uma referência histórica que marca um ponto crítico de profundidade, mas isso não significa ausência total de água. Quando o nível fica abaixo desse ponto, o rio ainda possui profundidades variadas ao longo de seu curso.

De acordo com os registros do Imasul, o Rio Paraguai evidenciou esse cenário de estiagem, ficando comprometido e ultrapassando dados da década de 60 anos. Na época, foi contabilizado o nível de 61 centímetros negativos, marcando o auge da escassez. Contudo, no dia 17 de outubro, os registros do instituto marcaram – 69 centímetros no rio.

Especialistas associam essa redução drástica à variabilidade climática e à escassez de chuvas na bacia hidrográfica. O Pantanal, um dos biomas mais frágeis e importantes do planeta, está particularmente vulnerável a essas mudanças, que afetam tanto a biodiversidade quanto as comunidades.

“O baixo nível do Rio Paraguai impacta diretamente a vida das comunidades e das atividades econômicas, como turismo e pesca. O Imasul está mobilizado para acompanhar a situação de perto e repassar informações precisas”, disse André Borges, diretor-presidente do Imasul.

Chuvas intensas atingem MS

Em decorrência das fortes chuvas que atingiram Três Lagoas (325,7 km de distância da Capital) no início desta semana, diversos pontos da cidade alagaram e uma cratera foi aberta.

Entre os locais mais afetados estão 20 obras de drenagem e pavimentação, assim como uma avenida de médio fluxo da cidade, a Avenida Rogaciano Moreira, na qual abriu uma cratera, assim como a BR-262, saída para Campo Grande.

As últimas 24 horas foram marcadas por chuvas significativas em diversas cidades de Mato Grosso do Sul. Os maiores volumes registrados foram em Iguatemi, com 110,8 mm, Três Lagoas, com 98,6 mm, e Sete Quedas, onde o centro da cidade acumulou 94,4 mm. Outras localidades também enfrentaram chuvas expressivas, como Aral Moreira (46,2 mm), Bataguassu (34,2 mm), e Fátima do Sul (33,8 mm).

De acordo com as previsões, há possibilidade de mais chuvas fortes na tarde de hoje, especialmente nas regiões de Bataguassu, Três Lagoas, Ivinhema, Inocência, Paranaíba, Água Clara e Angélica. No extremo sul do estado, o alerta para tempestades permanece em vigor, sem descartar eventuais transtornos.

As autoridades recomendam atenção redobrada aos motoristas e moradores em áreas de risco de alagamentos e deslizamentos.

O fluxo inesperado de chuvas é comum neste período do ano, de acordo com a Defesa Civil. Segundo o alerta, a transição da primavera para o início do verão é um dos principais motivos.

Desde domingo, o inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) emite alertas de chuva intensa para os municípios de Mato Grosso do Sul. Para Campo Grande é prevista mínima de 21°C e máxima 31°C hoje (11). O clima varia entre muitas nuvens, com pancadas de chuvas isoladas durante todo o dia. Até sábado, mante-se mesma previsão. Os volumes previstos de chuva para a Capital variam entre 20 e 30 milímetros ou até 50 mm/dia, com ventos intensos de 40-60 km/h.

Por Inez Nazira e Ana Cavalcante

 

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