Oito pessoas perderam a vida nós últimos três meses no Rio Aquidauana, em MS
Mato Grosso do Sul é conhecido pelas suas atrações naturais, entre elas rios, cachoeiras e lagos. Complementando esse fator, a chegada do verão, época de muito calor, férias escolares intensifica o desejo de se refrescar nas águas, contudo, ao desfrutar desses locais, é necessário o cuidado, principalmente com crianças.
Conforme apontam os dados da SOBRASA (Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático), as maiores vítimas de afogamento são as crianças, sendo essa a segunda maior causa de morte em crianças de um a quatro anos, em crianças de 5 a adultos de 24 anos é a quarta causa de óbitos. Ainda, 65% das mortes, em decorrência dessa situação, de até 9 anos ocorrem em residências. Além disso, 70% das mortes por afogamento ocorrem em rios, lagos e represas.
Inclusive, de outubro até no início deste mês de dezembro, oito pessoas morreram afogadas no Rio Aquidauana, nos municípios de Rochedo, Terenos e Aquidauana. O último foi registrado neste fim de semana após o barco do turista de São Paulo, Marcos Rosa Tolentino, 56 anos, virar e ele desaparecer nas águas. O corpo foi encontrado na manhã de ontem (9).
A vítima de afogamento deve se lembrar de manter a calma. É necessário tentar flutuar e acenar por socorro. O tenente do CBMMS (Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso do Sul), especialista em salvamento aquático, Paulo Lima, alerta que na maioria das pessoas morre por conta do desgaste físico na luta pela sobrevivência. “Só grite se realmente alguém puder lhe ouvir, caso contrário, isso vai acelerar o cansaço e o afogamento. Caso esteja no mar, deixe ser levado para o alto mar e acene por socorro ou tente alcançar um banco de areia. Em rios, procure manter os pés à frente da cabeça, usando as mãos e braços para dar flutuação e utilize a correnteza ao seu favor em busca da margem”.
O tempo para uma pessoa perder a vida nesse tipo de acidente é muito rápido, questão de minutos. Ao contrário do que se vê nos filmes, o banhista em apuros não acena com a mão e nem grita por ajuda. Ocorre a submersão e a emersão da cabeça diversas vezes, na luta para manter as vias aéreas acima da superfície da água. Na busca pela respiração, dificilmente as vítimas conseguem fôlego para gritar por socorro. O tenente explica ainda que nesses casos o pulmão fica muito comprometido, dificultando o salvamento do indivíduo.
“Cada pessoa, cada organismo, age de uma maneira, temos uma média de tempo em que o afogamento vai ficando mais difícil de se reverter, geralmente passados três minutos de imersão daquela pessoa debaixo da água, vindo engolir uma quantidade grande, esse é um tempo que já dificulta bastante conseguir trazer de volta aquela pessoa de volta. Com a quantidade de água que se aspira, os pulmões ficam, praticamente, todos comprometidos. A nossa capacidade pulmonar é em torno de seis litros, então se ingerir aquela água e preenchendo, fica difícil. Em termos de pouco mais técnicos, a água ocupa um espaço que seria ocupado pelo ar, então o oxigênio não consegue mais chegar e como a gente não consegue fazer aquela retirada rápida da água que se acumula ali nos pulmões, fica praticamente inviável salvar aquela vida”, esclarece.
Para evitar um cenário como este é importante não entrar na água pulando de cabeça, a recomendação é entrar primeiro com os pés e não pular em águas desconhecidas. O CBMMS enfatiza que se ingerir bebida alcoólica a orientação é não entrar na água, a maioria dos acidentes envolvendo adultos são com a vítima alcoolizada. Agora, avistou uma pessoa se afogando, a primeira ação a ser tomada é ligar para o 193, avise o que está acontecendo, indicando local, quantidade de pessoas envolvidas e o que está sendo feito, para posteriormente tentar ajudar a vítima. A equipe do Corpo de Bombeiros passa orientação para quem quer ajudar nessa situação, ressaltando a necessidade de fazer o passo a passo fora da água.
“Após ligar 193, forneça flutuação para a vítima. Caso não haja boia salva-vidas no local, improvise com objetos flutuantes, tais como: garrafas de plástico vazias, pranchas de surf, materiais de isopor ou espuma, corda, galho resistente ou qualquer outro material que garanta suporte à vítima. O maior objetivo deve ser manter a vítima com as vias aéreas fora da água e parar o processo de afogamento, para assim ganhar tempo até a chegada do socorro profissional. Só entre na água para ajudar se tiver treinamento e preparo físico e, sempre, com um material de flutuação para oferecer ao afogado. Jamais busque o contato direto. Lembre-se: a prioridade é ajudar jogando o material de flutuação, sem entrar na água, se possível for. Caso você necessite fazer isso, tenha cuidado ao tentar retirar a vítima da água, pois você pode se tornar uma segunda vítima”.
Balneário
Também neste fim de semana, no último sábado (7), Carlos Henrique dos Santos Saravy, 29 anos, morreu após cair de um tobogã no balneário Reserva Canindé, em Campo Grande. Carlos estava acompanhado de sua esposa, um casal de amigos e a filha de seis anos deles, aproveitando o dia no local. No momento da queda, o casal e sua esposa estavam distante, em bangalô, enquanto Carlos e a filha dos amigos estavam na água.
Entre as informações que o jornal O Estado apurou, Carlos tinha ingerido álcool no dia, há a hipótese dele ter descido de pé no tobogã, que seria dois fatores de risco, porém ainda não foi confirmada a forma que ele caiu. Conforme o relato de seu irmão, João Carlos dos Santos Paravy, Carlos acabou escorregando e caindo na água. A criança, que estava com Carlos no momento do acidente, tentou chamar por ajuda na água, mas não encontrou ninguém, então correu e foi até os pais, Sérgio de Moraes Santos, de 47 anos, e Ana Caroline Campos. O casal de amigos foi procurar o socorrista.
“No local vendia cerveja. A gente não está questionando a irresponsabilidade dele ter bebido ou até de ter tentado descer em pé. A gente não sabe se ele tentou descer em pé mesmo ou se ele estava em pé no tobogã, porque ninguém viu, estamos tentando ter acesso às imagens para saber de fato como aconteceu. A gente gostaria de saber quanto tempo levou para tirarem ele da água”.
Os amigos e familiares da vítima, inconformados, procuram compreender melhor a situação. Sergio alega que não tinha nenhum funcionário na parte de cima do brinquedo para orientar ou repreender a atitude de Carlos. Questionam a Reserva pela falta de suporte, como o pouco efetivo que tinha no dia, a falta de socorrista ou ambulância.
“O amigo dele que foi atrás do salva-vidas, e ele querendo saber porque estavam atrás dele, que ele não tinha visto nada. Houve uma série de problemas, como a criança demorou para avisar os pais, os pais para falar com salva-vida. De acordo com o Sérgio, Carlos já estava roxo quando tiraram ele. A causa ainda não se sabe, se foi traumatismo craniano ou se foi afogamento. Mas a gente questiona o tempo que eles levaram para poder tirar ele da água e outra a falta de funcionários, só tinha um guarda-vida e ele estava debaixo do tobogã na lateral e não viu. Agora a gente fica na dúvida, a gente não sabe se tivessem agido rápido, se ele teria uma chance de ter sobrevivido. Foi um ambiente em que eles tinham zero assistência”, explica João Carlos, irmão da vítima.
Cuidado com as crianças
Como mencionado, as crianças são as principais vítimas desses acidentes, na maioria dos casos com menores acontece pela curiosidade com a água, eles querem tocar quando veem o próprio reflexo e acabam caindo. O especialista reforça a importância de ter atenção nas crianças e lembra que a responsabilidade é dos pais e responsáveis.
“Passamos diversas medidas de prevenção, principalmente relacionadas à criança. A atenção dos pais e/ou responsáveis deve ser total, manter a proximidade quando a criança estiver brincando na água, acompanhar, não apenas ficar observando a distância, porque o afogamento é uma coisa muito rápida. A responsabilidade é dos pais, é uma questão de obrigação que os pais têm para o cuidado com o menor. A gente intervém quando há necessidade, porque é o nosso trabalho, mas é no caso da emergência, quando o afogamento já está ocorrendo”.
Uma medida de prevenção, é colocar a criança na natação, para desde cedo ter contato com a água e ter experiência. Além disso, dessa forma, o menor conseguirá lidar melhor com essas situações, e, assim, evitar o pior. “É uma questão de sobrevivência. A criança quando começa a aprender a natação, os primeiros passos orientados são esses, aprender a sobreviver caso venha a cair na água, a conseguir se apoiar na borda, conseguir nadar. Então é muito importante, se tiver condições, leve o seu filho para aprender a nadar, porque vale o investimento, além da prática de um esporte, é um esporte que ajuda a salvar a vida”, enfatiza o especialista.
Por Inez Nazira