Países do Brics são provedores de soluções tecnológicas em energia

Foto: Divulgação
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O site Brics Brasil conversou com Mariana Espécie, assessora especial do Ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Ela destacou como os países do grupo têm sido provedores de soluções tecnológicas produzindo biocombustíveis, equipamentos eólicos e fotovoltaicos

Nos últimos anos, os países do BRICS estabeleceram uma estrutura para a colaboração por meio da Plataforma de Cooperação em Pesquisa Energética do BRICS. A plataforma reforça a importância de avançar na transição energética e na implementação do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 7 (ODS 7), ao mesmo tempo em que reconhece os contextos nacionais e defende abordagens tecnologicamente neutras. O ODS 7 visa assegurar o acesso à energia de modo sustentável e com preço acessível para todos.

Para conhecer a visão do grupo sobre o tema de energia, Thayara Martins e Rafael Medeiros, da equipe de comunicação do BRICS Brasil conversaram com Mariana Espécie, assessora especial do Ministro de Minas Energia, Alexandre Silveira, e coordenadora das atividades de cooperação em energia do BRICS durante a presidência brasileira.

Mariana falou sobre as potencialidades dos países do BRICS em oferecer soluções sustentáveis na área de energia e citou o exemplo do Brasil, Índia e Indonésia como produtores de biocombustíveis e o quanto os países do grupo podem ter voz nas discussões da COP 30, em Belém, no estado brasileiro do Pará. Além de abordar os aspectos sociais da transição energética e as muitas camadas da mudança de uma matriz de energia em larga escala a longo prazo.

Mariana atuou como analista de pesquisa energética na Empresa de Pesquisa Energética (EPE), foi diretora do departamento de Transição Energética no Ministério de Minas Energia (MME) e esteve na copresidência do Grupo de Trabalho de Transições Energéticas do G20 no Brasil. Ela é formada em Ciências Biológicas e tem doutorado em Zoologia, seu trabalho nos últimos anos tem se concentrado em promover soluções sustentáveis com ênfase na transição energética e inovação em tecnologias de baixo carbono.

Confira a entrevista com a assessora especial para a equipe de comunicação do BRICS Brasil.

1) Os países BRICS são atores importantes no cenário energético global e cada país membro tem recursos naturais específicos e realidades socioeconômicas diferentes. Além de que todos precisam enfrentar o desafio de construir economias sustentáveis e, ao mesmo tempo, garantir segurança energética para seus cidadãos. Diante disso, conte-nos um pouco a história do Grupo de Energia do BRICS?

Bom, esse grupo foi criado em 2018, durante a presidência chinesa do BRICS, entendendo que energia é um assunto fundamental e que agrupa os países do BRICS em diferentes aspectos e perspectivas. Mais recentemente, em 2020, esse grupo começou a olhar para a cooperação de uma forma mais estruturada, organizada, desenhando uma série de frentes de trabalho que poderiam ser desenvolvidas dentro dessa agenda de energia e que desde então vem moldando as discussões. Nós, durante a presidência brasileira, temos o desafio de atualizar um pouco dessa proposta de trabalho no sentido de introduzir novos temas pensando nos desafios que se apresentam para essa agenda de energia para os próximos cinco anos e entendendo que o mundo está em franca transformação, principalmente, devido aos desafios que a mudança do clima impõe aos países. Além de todos os compromissos assumidos por vários dos países do BRICS em outras esferas de negociação, como é o caso da Conferência das Partes organizada pela Organização das Nações Unidas (ONU).

2) Como o Grupo de Energia do BRICS dialoga com os temas que serão debatidos na COP 30, em Belém, no estado brasileiro do Pará, neste ano?

De várias maneiras, a gente entende que a transição energética é um elemento fundamental desse debate da agenda de energia no contexto atual. Sem dúvida alguma, os países do BRICS têm que estar nessa discussão. A gente percebe que vários deles têm desafios e perspectivas muito peculiares que variam muito conforme o seu contexto específico e realidade socioeconômica e a transição energética precisa dialogar e conectar todas as pontas. Nós estamos inseridos em um meio social, econômico, ambiental e os recursos energéticos que cada país consegue utilizar para pavimentar sua trajetória para uma transição precisa ser considerado.  Então, nosso objetivo é começar a olhar para a perspectiva do que vai ser discutido na COP 30 e inaugurar um novo momento dentro da agenda do BRICS para diversificar cada vez mais os temas que são discutidos.

Os países do BRICS estão catalisando de forma absurda o avanço das energias renováveis. A gente tem nesse grupo importantes produtores de biocombustíveis, como o Brasil, a Índia, a Indonésia, e aqui é impossível não pensar na China e no quanto o país têm sido provedor de soluções tecnológicas produzindo equipamentos eólicos e de energia solar fotovoltaicos para facilitar o caminho da transição energética e reduzir custos. Então, a gente percebe o quanto esse grupo tem potencial para ser protagonista dessa agenda e o quanto esses países podem ter voz e vez nas discussões da COP 30. Principalmente, porque a energia é um dos principais fatores de emissões de gás de efeito estufa e aí vem a responsabilidade e os compromissos assumidos para reduzir as emissões e o BRICS reúne grandes consumidores de energia que precisam começar a olhar para essa agenda com melhores perspectivas.

3) Como o Grupo de Energia vê a questão social do tema, principalmente, do ponto de vista do Sul Global?

Nós entendemos que, para além desse debate da questão social, tem uma série de outros elementos que precisam também ser considerados, pensando principalmente na cadeia de suprimentos para que essas soluções tecnológicas sejam viabilizadas na ponta. Então, a gente começa a ver o mundo debatendo sobre acesso a minerais críticos para transição energética, mas como é que isso vai se dar? Vai ser sustentável?

Outra questão, as novas soluções tecnológicas, como eólica e solar, tem uma necessidade de maior área física para serem instaladas e o quanto isso pode impactar em outras atividades econômicas tanto para grandes proprietários de terra como para pequenos produtores rurais?

Então, a gente começa a ver uma ampla gama de elementos que vão se associando e a conclusão é que a transição energética é um processo de múltiplas camadas. Todas elas precisam ser devidamente consideradas nessa construção de política pública e sem dúvida alguma, os formuladores de políticas têm que considerar todas essas variáveis nessa discussão. Então, a gente entende que não vai ter uma solução única para todos os países, mas que cada um vai ter que escolher suas trajetórias com base nas circunstâncias nacionais, com base nos recursos energéticos, nas condições financeiras para pagar por essas novas tecnologias, e tudo isso tem que ser pensado com uma perspectiva de médio e longo prazo para se tornar viável em cada país.

“A gente entende que não vai ter uma solução única para todos os países, mas que cada um vai ter que escolher suas trajetórias com base nas circunstâncias nacionais, com base nos recursos energéticos, nas condições financeiras para pagar por essas novas tecnologias, e tudo isso tem que ser pensado com uma perspectiva de médio e longo prazo para se tornar viável em cada país”.

4) Como a adaptação à mudança do clima é debatida no grupo? Porque esse é um tema que envolve infraestrutura, financiamento, questões culturais e econômicas também.

Dentro da agenda de energia, não tem como não falar de adaptação climática e a gente entende que a discussão pode aparecer de diferentes formas. Por exemplo, o quanto esse cenário de mudança do clima pode impactar a disponibilidade de recursos energéticos, como o volume de água, em países como o Brasil que tem uma forte presença das hidrelétricas em sua matriz energética? Nós temos estudos que sinalizam que os países do Hemisfério Sul terão níveis de impacto muito diferentes e que vão sofrer muito com esses episódios de clima extremo.

A gente também pode falar do quanto essa realidade impacta em infraestrutura. No caso do Brasil, a incidência de ventos com intensidade cada vez maior causa um efeito adverso sobre as linhas de transmissão de energia, que são o coração pulsante do nosso sistema interligado nacional.  Temos o caso das inundações e o quanto afetam nossas infraestruturas a ponto de deixá-las inviáveis para utilização por períodos prolongados, como o episódio das enchentes no Rio Grande do Sul no ano passado.

Esses são temas que gostaríamos de trazer para a discussão desse grupo e novamente com a leitura de que esses países também podem ser provedores de soluções para vários desses dilemas.

5) Por fim, o que o Grupo de Energia pretende entregar na Cúpula do BRICS deste ano no Brasil?

Nós estamos trabalhando em três grandes entregas. A primeira delas é, obviamente, a atualização do nosso plano de trabalho que vai nortear as atividades dessa cooperação em energia do BRICS para os próximos 5 anos. Então, estamos propondo revisitar toda a estrutura, trazer novos temas para discussão e organizar um pouco mais os procedimentos

Temos a perspectiva também de entregar dois importantes relatórios, um deles sobre combustíveis sustentáveis, justamente pensando na potência dos países do BRICS em relação ao tema dos biocombustíveis que hoje estão sendo considerados para fazer a transição energética nos setores de difícil abatimento.

E outro relatório com o objetivo de tratar um pouco da perspectiva do acesso a serviços energéticos, porque a gente vê nesses países do BRICS ainda muitas disparidades em relação a serviços elementares, como acesso à eletricidade e a cocção de alimentos. E, sem dúvida alguma, isso precisa ser endereçado nos próximos anos e esse grupo tem plenas condições de estabelecer meios e caminhos para que isso se materialize e reverta essa situação.

Com informações da Agência Gov.

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