No momento em que questionamos a capacidade do governo federal em balancear gastos correntes e arrecadação – o chamado “equilíbrio fiscal” – é comum que um dos primeiros “gastos” a ser reduzido seja o da ciência e tecnologia. Esse “gasto” é normalmente considerado supérfluo pela população em geral, o que gera apelo político-eleitoral. Isso se deve em grande parte pelo desconhecimento dos benefícios fornecidos pela pesquisa científica e pelo desenvolvimento de novas tecnologias, muitas delas financiadas pelos nossos impostos.
Foi assim que há poucos meses, a ALESP (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo) questionou o presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, a FAPESP, sobre o retorno do investimento que a fundação fazia. A resposta: para cada R$ 1 real investido pela FAPESP na pesquisa agropecuária, ao menos R$ 12 eram retornados. Já o impacto em pequenas empresas fazia com que a arrecadação de impostos crescesse seis vezes. Uma estimativa feita em 2020, indica uma taxa de retorno de US$ 4 dólares para cada US$ 1dólar investido nos Estados Unidos, podendo chegar a até US$ 20 dólares em áreas como saúde. Os EUA possuem um papel de liderança na pesquisa científica mundial, ocupando o primeiro lugar em número de artigos publicados ao longo de quase todo Século XX. Este protagonismo se deve por uma mudança da política governamental de financiamento da ciência no pós-guerra, fruto de um famoso relatório, publicado em 1945, intitulado “Ciência, a fronteira sem fim”, pelo engenheiro Vannevar Bush. Neste relatório, Bush argumenta que as ciências básica e aplicada deveriam ser financiadas pelo Estado, já que são fundamentais para o avanço da sociedade e para a produção de inovações tecnológicas que garantem a criação de novos produtos e processos. Uma vez incorporados por empresas, estes levam a um aumento de produtividade e competitividade econômica. Esse relatório levou à criação da Fundação Nacional de Ciência (NSF), em 1950. O equivalente brasileiro – o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, CNPq – foi criado apenas 1 ano depois, em 1951, pelo também engenheiro Almirante Álvaro Alberto. Outra importante instituição havia sido criada 2 anos antes: a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
Hoje é inegável a relação direta entre investimento em ciência e tecnologia, aí incluído formação de recursos humanos, para o desenvolvimento socioeconômico. Além disso, vários problemas atuais como mudanças climáticas e seus impactos na agropecuária, ou como atingir o desenvolvimento sustentável, só podem ser resolvidos pelo método científico. Nenhum outro empreendimento humano é capaz de descrever o mundo físico e realizar previsões tão precisas. Portanto, é direito e dever da sociedade civil organizada defender os investimentos em ciência e tecnologia, pois só eles podem garantir o bem-estar social e conciliar demandas aparentemente conflitantes, como desenvolvimento econômico e preservação da natureza.
Diogo Borges Provete é professor de Ecologia no curso de Ciências Biológicas da UFMS e Secretário Regional MS da SBPC. E-mail: [email protected]
Este artigo é resultado da parceria entre o Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul e o FEFICH – Fórum Estadual de Filosofia e Ciências Humanas de MS.
Confira as redes sociais do O Estado Online no Facebook e Instagram
Leia mais
Dia Mundial da Filosofia UNESCO 2024 e Mato Grosso do Sul: Filosofia: superando as divisões sociais