Artigo: Todo mundo está desesperado para falar

Karolina Dallegrave
Foto: Divulgação

Ser porta-voz dá um trabalho danado. Na escola, para aqueles que tinham um pouco de dificuldade de aparecer na frente da turma, o argumento era claro: “eu faço a parte escrita e você apresenta na sala”. Isso com um leve tapinha nas costas. Já maiores, quando na faculdade, os recursos audiovisuais como vídeos e powerpoint serviam de muleta na hora da apresentação. Ufa! E agora, na vida adulta oficial, se no trabalho você não precisa ser o vendedor do time, tudo certo, ok? Acho que não mais.

Na realidade todo mundo sempre precisou ser bom em se vender. Fato. Só que essa habilidade, talento e hoje soft skill migrou e ganhou patamares elevados. Se antes você precisava fazer bonito para o seu chefe, para seu colega de trabalho, para seu cliente agora você precisa mandar bem pra sua pequena, mas muito maior do que a quantidade de pessoas que encontraria em um dia offline, audiência online. É assim: se você não aparece na telinha é porque não aconteceu, não existiu.

Beleza. Já entendi que preciso aparecer. Mas, sou tão comum, sem graça, não tenho nada pra mostrar. É o que mais escuto por aqui. É aí que vem o desespero do título deste texto. Profissionais de diferentes áreas estão tendo de aprender a falar do comum, da rotina, de si e isso é difícil. Enxergar conteúdo no cotidiano pessoal é um trabalho árduo. Transformar isso em “Ok, gravando” é um passo maior ainda.

Os mais jovens naturalmente já estão sendo formados para que não tenham essa defasagem: ou por recursos dados e aplicados em sala de aula na formação obrigatória ou nas faculdades com metodologias ativas e/ou ainda porque já nascem conversando com a tela e mostrando suas rotinas. Claro, para aqueles que não são tímidos.

Para os 30 mais, como eu, resta entender que primeiro a comunicação deve ser algo natural seu e não copiado de ninguém; segundo, se aproprie das ferramentas, os botões como costumo chamar também me causam repulsa, mas é apertando os mesmos que aprendemos como são e para que servem, no final é divertido conhecer algo novo; terceiro, só dará certo esse novo jeito de se comunicar se você tiver um porquê bem claro do motivo pelo qual está fazendo. É engajar? É ensinar? É entreter? Vá em frente.

Por Karolina Dallegrave – jornalista, especialista em media training.

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