Artigo: Planejamento, arte e humanidades: por que não?

Foto: Arquivo Pessoal
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Nosso Estado tem se destacado por seu enorme potencial produtivo, pelo sólido agronegócio e por sua economia vigorosa. A cultura deste lugar, com sua arte, costumes e valores também apresenta características muito especiais, pois é impactada por múltiplas divisas e fronteiras e por vívidas cicatrizes de batalhas e histórias de resistência. Herdamos também desafios que demandam planejamento especial, se esperamos legar a nossos filhos a sociedade que sonhamos: mais justa e com abundância de oportunidades de trabalho – uma sociedade que, para além da subsistência, ofereça oportunidades para que indivíduos se tornem produtivos, sensíveis, felizes e fraternos.

Atualmente, podemos notar o resultado das políticas públicas em C&T e notamos o esforço do Estado e de entidades do terceiro setor, no sentido de financiar pesquisas e ações que ofereçam soluções científicas e tecnológicas para problemas reais. É nesse bojo de esforços que sentimos a baixa participação da área de humanidades em um planejamento orgânico e intencionalmente ativo para nosso futuro. Mas como poderiam atuar, de fato, as ciências humanas, a literatura e as artes para esse planejamento em prol do bem comum – se essas disciplinas atuam sobre o indivíduo e impactam a cultura regional e, tanto um, quanto a outra, por definição e princípio, não são passíveis de direção estatal? Proponho que tal atuação deva ocorrer por meio de políticas públicas que semeiem valores virtuosos e contribuam para a formação de indivíduos conscientes do contexto onde existem, das oportunidades que lhes são oferecidas e das implicações republicanas de suas atitudes e palavras. É nessa seara que as ciências humanas, a literatura e as artes podem atuar em nosso Estado, com resultados positivos.

Apenas como introdução, para se compreender a complexidade e vantagens de aplicação da proposta, citamos a evidente efervescência pictórica, literária e musical de nosso tempo em Mato Grosso do Sul. Alguns importantes escritores, músicos e pintores despontaram, mas suas produções ainda encontram dificuldades para alcançar seus públicos e gerar riquezas, pois os locais tradicionais onde se anunciavam espetáculos, livros e objetos de arte ficaram mais escassos e a população interessada já não sabe onde encontrar esses produtos. Há também uma dificuldade popular em valorar tais itens, sendo a internet um ambiente saturado de dados e pouco explicativo – sobretudo em termos de arte local e regional. Não quero entrar em questões teóricas, mas fica evidente nesse singelo exemplo, que políticas públicas de dupla mão – educacional e mercadológica – poderão ampliar as cadeias produtivas do Estado, fomentar trabalhos virtuosos, enriquecer a identidade e o senso de pertencimento dos cidadãos e ainda fortalecer a classe artística/ literária. Claro que para que esse sucesso seja alcançado, será necessário o estabelecimento de objetivos possíveis, metas claras e monitoramento dos resultados.

Por fim, ressalto a força e a conveniência da articulação entre ciências humanas e as políticas de cidadania e educação, para a formação de indivíduos capazes de compreender e respeitar a si mesmos e aos próximos, entendendo a todos como seres dotados de paixões, personalidade, potencialidades e limites. Cremos ser essa, a melhor forma de irrigar a transformação de nossa sociedade, tornando-a mais competitiva, sensível e ética e por conseguinte, mais aberta à generosidade que habita em nossa humanidade. Claro que em tal missão, as famílias, as instituições religiosas e os veículos de comunicação têm enorme força; por isso, a discussão precisa ser pautada por transparência, bom convívio e respeito, tendo sempre em vista o bem comum e a felicidade dos indivíduos.

Por Marcelo Fernandes Pereira, doutor em artes pela USP, professor associado e pró-reitor de Extensão, Cultura e Esporte da UFMS.

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