Artigo: Desenvolvendo a liberdade

Rodrigo H. Maran
Foto: Arquivo

“O ser-humano é um animal condenado a ser livre”. Sentença de Jean Paul Sartre (filósofo francês), dizendo que a questão da liberdade, é um poço sem fim.

Trago no peito dores, memórias de cárceres – em clinicas psiquiatras – tratamentos obrigatórios, onde fui “diagnosticado” como portador de “Bipolaridade”, um caso clássico onde picos de euforia e mania de depressão causavam em mim e nos meus “amados” enorme terror e instabilidade.

Passei 7 meses numa instituição, fui colocado num quarto, com cama, grades e porta de ferro, onde fui colocado afim de começar uma regeneração do meu sistema neurológico, e certo dia depois de umas duas semanas, pedi um copo de leite com chocolate e uns pães com açúcar. Recebi da equipe da clinica um copo com leite frio e três pães com margarina. Foi a única vez que chorei.

Ademais reagi, pedi caderno e caneta e comecei a escrever um livro (Ainda há o bem ) que publiquei uns anos atrás. Nele eu falava da minha dor, coisa de poeta, internado e filósofo. Um manifesto, que por fim tirava-me daqueles muros com arame farpado, eu? Culpado, por ter um diagnostico difícil e complicado, e uma condição que exigia reclusão, introspecção, dedicação, “entrega”, “aceitação” – dito isso me exímio de ademais explicações.

Foram dias onde a superação, a honestidade, e o egoísmo foram por fim postos em prática. Eu tinha uma escolha: – Começar de novo, ou, me render, ou então, continuar a ser quem eu era, e o que eu era? – Um pai de uma criança de dois anos, um esposo infiel e narcisista, um doido caído na vida. Minha mãe chorava, meu pai se lamentava, meus irmãos não sabiam quem eu era, e no fim do túnel uma luz. No fim eu sairia vencedor, a o que mais doeu? As privações. O mundo rodava lá fora, minha mulher sofria, chorava, os meus inimigos riam, eu estava no fundo do poço.

Precisei ter um canal com a realidade de uma vida cotiiana, comum. Meu livro foi pra mim “o poder superior”, meu Jesus de uso pessoal e por fim, condenado ali a estar preso, percebi a escolha da qual eu tinha direito: – Por que diabos eu deveria me crer aprisionado? – A liberdade de escolha me deu todo poder.

Por fim eu voltaria a ser eu, fato! Pra isso deixaria de ver meus familiares e os veria uma vez por mês (tudo bem), comeria todos os dias arroz e feijão e carne de hamburguer, mas tinha ainda em mim, a dignidade, a esperança, a saudades, o amor, o ócio, tinha roupa pra vestir, chuveiro para tomar banho, amigos de tratamento. Eu não precisava de mais nada! Eu seria feliz nos piores dias da minha vida.

Eu não sou comum, nem por isso creio-me ser especial (ademais minha sorte cruel sempre foi pra mim uma salvação). Eu tinha muita sorte. Os muros da clínica não me tiravam as ilusões. Criei naqueles gramados, um paraíso. Via no nascer do sol e nos fins de tarde, os raios, depois de vinte cinco anos, voltei a jogar bola, eu estava reaprendendo a viver e via que meu destino ainda seria dito como valoroso.

Sabe amigo,

Fronteiras, muros, guerras, hierarquia, leis, religiões, filosofia, tudo pode servir pra gente exercitar “a liberdade”. E pra isso temos o poder. Mesmo os escravos, no fundo podem escolher seu sentimento “norteador”, somos livres, como, aonde e quando quisermos. Dentro de nós existe um sábio, dentro do sábio existe uma criança, nos filhos nosso infinito, no amor nossos valores, neles a capacidade, nesta a prática.

Com esperança, sonhos, ilusões, tudo é possível. Liberdade não é um local, é uma disposição do espirito. Ela diz: – Estamos vivos! E não importa se tudo esta “quase impossível”, dia a dia podemos fazer escolhas. Remédios, vícios, tratamentos? Estamos em contato com isso “desde sempre”. Justiça, poder, hierarquia, podem nos parar, mas dependem, do que fazemos com a realidade: – Somos condenados a sermos livres.

Abraçar o pai se está vivo, dar um presente pro filho – se possível – cuidar da esposa, pois sempre existe um recomeço, um novo passatempo, um filme, uma pescaria, coisas que nos fazem entrar em contato com nosso interior, e saber meditar quando nos deitamos na cama. Mesmo sem conseguir sonhar, escolher o que de fato vou permitir que “me abata”. E se posso superar serei livre. E sendo livre posso “viajar”. E superando vou aprender, que tenho a faca e o queijo na mão. Ademais cito Jesus Cristo: A verdade vos libertará!

O que a Verdade quer nos dizer?

Além de nossa sombra.

Somos seres de luz.

Paz e bem.

Por Rodrigo H. Maran, Filósofo e poeta. 

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