‘Vozes Invisíveis’

Foto: Arquivo Pessoal
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HQ reportagem aborda luta e vivência LBT em Campo Grande, com lançamento nesta quinta-feira

 

Foto: Divulgação

Conforme o Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, o país não possui um levantamento ou registro oficial sobre o quantitativo de pessoas LGBTQIAP+, o que evidencia a falta de políticas públicas adequadas para essa comunidade. O mais próximo de um quantitativo é a Pesquisa Nacional de Saúde, realizada em 2019, considerada sub notificada pelo alto número de pessoas que não quiseram informar a orientação sexual. Essas são alguns dos temas abordados na HQ reportagem ‘Vozes Invisíveis’, da quadrinista Marina Duarte, que será lançada nesta quinta-feira (16).

“O Vozes (In)visíveis é uma HQ reportagem que vai trazer relatos da luta e vivência LBT em Campo Grande. Significa que a gente explorou, por meio do recorte do gênero, dentro também da cisgenaridade, da transexualidade, o papel da mulher, lésbica, bissexual, transexual, e as questões que as atravessam na cidade”, explica Marina ao jornal O Estado. A autora explica que o nome é um jogo de palavras que mostra a tentativa de visibilizar essas vozes.

A HQ é o resultado de um trabalho realizado durante o ano de 2024, com objetivo de colaborar com a luta LGBTQIAP+ em Campo Grande, com entrevistas com mulheres que trabalham e lutam dentro dos movimentos sociais e institucionais, como a Casa Satine. “Tem depoimentos de figuras importantes no meio, do movimento dos anos 90 e 2000 na cidade, na intenção de fazer um diagnóstico sobre o que é ser mulher LBT aqui. Essa é a pergunta que guia o material”, diz Marina.

Com recursos da Lei Paulo Gustavo, o lançamento da HQ reportagem será nesta quinta-feira (16), em ebook, que será disponibilizado de forma gratuita em site próprio, bem como os dados coletados.

 

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Escassez informativa

Para a elaboração da HQ, Marina precisou de muita pesquisa, levantamento de dados junto à Secretaria de Segurança Pública de Mato Grosso do Sul e subsecretarias. “Temos uma escassez de dados referentes a população LGBTQIAP+, e é ainda mais complicado com esse recorte, dizendo algo específico sobre as mulheres que compõe a sigla. Então a preocupação nasceu dai, dessa escassez e o desafio da produção do material também nasceu disso”, pontua.

A autora ainda reforça que a falta de dados em si já mostra a vulnerabilidade e invisibilidade da população LGBTQIAP+. “Temos dados, mas não dados governamentais, precisos, sobre a população LGBTQIAP+, mas é importante dizes também que essa escassez de dados é um dado por si só. É um sinal de que talvez o não seja um tema que os governos, que as instituições em geral, achem importante de ser levantados, e, ao mesmo tempo, estamos vivendo numa realidade de violência muito grande para que isso não seja considerado”.

 

Violências

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Ainda segundo a plataforma ObservaDH, foram registradas 19.128 notificações de algum tipo de violência contra pessoas LGBTQIAP+ em 2022, o que corresponde a mais de 50 notificações por dia. Consoante, o Disque 100 registrou, em 2024, 126 denúncias de violência contra pessoas da sigla, classificando o Estado como o 12º de mais denúncias no país. O Sistema Integrado de Gestão Operacional, o SIGO, que disponibiliza os dados da SEJUSP (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública), não mostra informações sobre crimes contra pessoas LGBTQIAP+ no Estado.

“Essa população continua em situação de vulnerabilidade aqui na cidade, então essa opção de não tocar no assunto, de não levantar dados, de não se fazer política pública LGBT em Campo Grande, consideramos um dado, um fato que influencia diretamente na situação que a população passa hoje aqui”, pontua Marina.

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Método

Como uma das representantes do jornalismo em quadrinhos no Estado, Marina conta que uma das etapas para a realização da HQ reportagem ‘Vozes (In)visíveis foi a análise de notícias sobre o tema. “Analisei dois veículos de comunicação online daqui da cidade, para tentar entender um pouco o discurso sobre essa população, tentar fazer esse diagnóstico de quem são essas pessoas que estão sofrendo violência dentro da sigla”, relembra.

Por meio dos levantamentos, uma das conclusões é: as mulheres seguem como as mais vulneráveis. “As mulheres já são vulneráveis, somos um dos estados que mais violenta mulheres, mas elas também estão vulneráveis enquanto mulheres LGBT, talvez a gente posso dizer que até mais vulneráveis. Através dos dados jornalísticos, tentamos entender esses recortes”.

Usando do método da HQ reportagem, gênero jornalistico que utiliza das histórias em quadrinhos para noticiar um fato, Marina quer abordar a temática de forma pedagógica, mas ainda promover o debate.

“Busquei fazer de uma forma sensível, e acredito que o quadrinho tenha esse potencial, tanto artístico quanto didático. Apresentei a análise de dados, histórias de LGBTfobia que acontecem na cidade, e a denúncia de uma dessas histórias, com a LGBTfobia acontecendo até mesmo dentro dos espaços escolares, com alunos e professores. Também é abordado a questão da ideologia de gênero, como ela está enraizado num discurso perigoso até nos órgãos publico”, revela. “É um material de reflexão, que busca ser sensível e, ao mesmo tempo, trazer uma denúncia em cima do tema. Ele poderá contribuir muito para o debate das políticas públicas aqui na cidade”, finaliza.

 

Equipe de Produção

O projeto, que durou quase um ano de produção entre entrevistas, levantamento de dados, escrita, preparação e audiodescrição, contou com uma equipe composta por Fabio Quill (consultor artístico e editor), Mayara Dempsey (produtora e preparadora de texto), Gabriely Magalhães (consultora e pesquisadora preliminar), Guilherme Correia (análise dos dados jornalísticos), Dudu Azevedo (diagramação) e Matias Rick (edição da audiodescrição).

Lançamento

O lançamento da HQ ocorrerá no dia 16 de janeiro às 19h na Casa de Cultura e contará com um bate-papo sobre o processo de criação e as vivências das mulheres LBTs em Campo Grande. Além da autora, participarão as entrevistadas Daniele Rehling, Loren Berlin e Karla Melo, com mediação de Mayara Dempsey.

Daniele é professora e doutora em Educação pela UFSC, bacharel e licenciada em Ciências Sociais, pesquisadora do grupo CEUCI com foco na perspectiva feminista e colaboradora do Observatório de Gênero e Diversidade da UFPel. Loren é ativista da causa trans, artesã e performer, integrante da Secretaria Municipal de Infraestrutura, Transporte e Habitação. E Karla que é cientista social e assessora política nas áreas de direitos humanos, cidadania e cultura. Já coordenou o Núcleo de Educação para Igualdade e Cidadania da SPPM/MS.

O evento terá também uma apresentação do coletivo (a)seita, um grupo de mulheres artistas que utilizam performances e o slam para reivindicar espaço e amplificar as vozes femininas. O coletivo se apresentará com as artistas Pretisa, Ale Coelho, Giulia Scarcelli, Lady Afroo e Jeizzy.

A intenção vai além do lançamento da HQ: busca-se criar um momento de encontro onde mulheres LBTs possam compartilhar suas histórias e se expressar com o público em geral. Por isso, o projeto também valoriza a visibilidade dessas mulheres e suas manifestações, seja por meio do bate-papo, das performances ou até mesmo pela representatividade na equipe.

Serviço: Lançamento da “HQ-reportagem Vozes Invisíveis”, de Marina Duarte será realizado na na quinta-feira (16), a partir das 19h na Casa de Cultura, na Av. Afonso Pena, 2270 – Centro, Campo Grande – MS. Evento gratuito e aberto ao público, com interprete de Libras.

 

Por Carolina Rampi

 

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