Vitória: Dirigido por Andrucha Waddington, filme tem Fernanda Montenegro como protagonista e narra a história real do tráfico de drogas no Rio de Janeiro

Foto: Reprodução
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O aguardado filme “Vitória”, estrelado pela Indicada ao Oscar, Fernanda Montenegro, chega hoje (13) aos cinemas brasileiros, com direção de Andrucha Waddington e roteiro de Paula Fiuza e Breno Silveira. Com 1h52 de duração, a obra é baseado em uma história real que conta o caso de ‘Vitória’, uma mulher de 80 anos que, desmantelou um perigoso esquema de tráfico de drogas envolvendo polícias e traficantes em Copacabana, Rio de Janeiro, filmando as atividades criminosas da janela de seu apartamento.

A história de Dona Vitória é, na verdade, a história de Joana da Paz, uma senhora aposentada que, em 2005, decidiu enfrentar o crime e denunciar o que acontecia à sua volta. Inspirado no livro Dona Vitória da Paz, Joana filmou traficantes e policiais corruptos envolvidos em um esquema criminoso. Ela entregou as imagens ao jornalista, Flávio Godoy, interpretado por Alan Rocha, e o caso gerou repercussão nacional, resultando em prisões e alertando a sociedade sobre a corrupção que permeava as favelas cariocas.

O trailer do filme se desenrola a partir do cotidiano de Joana, uma senhora que vivia próxima a uma favela no Rio de Janeiro. Em uma das cenas mais impactantes, uma bala perdida quase a atinge dentro de seu apartamento. A partir desse momento, Joana decide começar a vigiar o tráfico de drogas e a atuação de policiais corruptos ao seu redor comprando uma câmera de filmagem e decide gravar tudo o que acontecia na janela de sua casa.

Além de Fernanda Montenegro e Alan Rocha, o elenco do filme conta com grandes nomes da atuação, como Linn da Quebrada, Jeniffer Dias, Sacha Bali , Laila Garin , Thelmo Fernandes, Henrique Manoel Pinho entre outros.

Repercussão e Críticas

“Vitória” é um dos filmes mais aguardados de 2025. A produção, que pode marcar a última aparição de Fernanda nos cinemas, aos 95 anos, teve sua pré-estreia em São Paulo na última segunda-feira (10), no Theatro Municipal, na capital paulista. Durante a exibição, a atriz foi ovacionada, e críticos especializados acreditam que o filme será um grande sucesso nas telonas.

Na pré-estreia, Andrucha, que assumiu a direção do longa após a morte de Breno Silveira, estava presente, assim como os atores Alan Rocha e Sacha Balli. A atriz respondeu a perguntas e compartilhou a emoção de estar divulgando um filme, apesar da sua idade avançada.

“Esta noite é muito especial para mim também. Porque, na idade em que estou, posso até continuar fazendo minhas leituras em palcos, como venho fazendo há bastante tempo. Mas o cinema exige o físico, exige fôlego. É um momento muito especial estar nesse palco agora. Muito obrigada!”, disse a atriz.

A produção também contou com uma pré-estreia gratuita no cinema CEU, em Vila Alpina, São Paulo, voltada para estudantes da rede pública de ensino e aberta ao público em geral, ocupando um total de 60 lugares.

Em uma entrevista concedida pela CBN de São Paulo, o diretor Andrucha Waddington enxerga o atual cenário cinematográfico brasileiro como o melhor possível após a temporada de Oscar do filme “Ainda Estou Aqui”.

“Agora eu estou trazendo o ‘Vitória’, que eu espero que o público vá assistir nos cinemas. Eu acho que essa coisa de o público voltar a ter relação com a sala de cinema, com experiência coletiva, é algo muito bacana de viver. As pessoas ficaram acostumadas a ver cinema em casa, por streaming. E surfando na onda do ‘Ainda Estou Aqui’ as pessoas estão cada vez mais animadas a ir a uma sala de cinema”, disse o diretor para a CBN.

A jornalista e crítica de cinema Bruna Nóbrega, do site de entretenimento Omelete, assistiu ao filme e fez uma avaliação detalhada, destacando a atuação impecável da protagonista, que, em muitas cenas de tensão, não decepciona ao retratar a realidade da sociedade brasileira. A crítica também ressalta que o filme expõe de maneira explícita as cenas de corrupção envolvendo policiais e traficantes, gerando uma forte indignação no público que está assistindo.

Jorge Marinha, crítico especializado em cinema do site de cultura e entretenimento “O Público”, destaca a excelente atuação de Fernanda Montenegro. No entanto, ele observa que o filme não se sustenta apenas pelo desempenho da atriz e o classificou como “um filme de Netflix”.

Brunow Camman, também crítico de cinema, escreveu que o longa é marcado pela atuação marcante de Fernanda Montenegro. Embora ele destaque o trabalho de Linn da Quebrada, que se sobressai no papel, é Montenegro quem, de fato, rouba a cena. Brunow também ressalta a fotografia interessante do filme, que explora habilidosamente o jogo de luz e sombra em cenas que pedem esse recurso, além de destacar o uso eficaz dos enquadramentos ao longo da produção.

Uma das maiores polêmicas em torno da produção do filme envolve a escolha de Fernanda Montenegro para o papel de Vitória. A controvérsia surgiu após a divulgação, em 2023, da morte de Joana, revelando que ela era uma mulher negra. Com as filmagens do longa já em andamento desde 2022, a atriz Fernanda, que é branca, foi escalada para interpretar uma mulher negra, o que gerou críticas de parte do público e sugestões de que uma atriz negra deveria ter sido escolhida para o papel. No entanto, a decisão de escalá-la foi tomada antes da revelação da imagem de Joana para a imprensa, quando Fernanda já estava envolvida na produção.

Quem foi Dona “Vitória”?

Joana Zeferino da Paz, seu nome de batismo, é natural de Alagoas, e morou na Capital do Rio de Janeiro por 34 anos até o começo das gravações dos crimes em 2003. Os vídeos feitos por Joana resultaram na prisão de 30 pessoas, incluindo traficantes e policiais que estavam envolvidos em esquemas de corrupção. Devido a isso, sua identidade foi mantida em sigilo durante os últimos anos de sua vida, sendo protegida pelo Programa de Proteção a Testemunhas. Contudo, o nome verdadeiro de Joana foi divulgado após seu falecimento, aos 97 anos, em fevereiro de 2023, em Salvador, na Bahia.

A morte de Joana foi causada por um acidente vascular cerebral, e sua identidade foi revelada quase 17 anos após ter sido mantida em sigilo. De acordo com o jornal “O Globo”, ela desejava ser reconhecida pelo seu feito e não gostava de viver escondida, após ter mudado de nome em 2005, após a publicação da reportagem no jornal “Extra” em 2004. Para a construção da matéria, Joana entregou uma série de diários em vídeo, nos quais registrava a rotina dos traficantes, usuários de drogas, criminosos e policiais na Ladeira dos Tabajaras, na zona sul do Rio de Janeiro.

Após a publicação e a notoriedade que o caso ganhou, a mulher, que construiu sua vida no Rio de Janeiro, se mudou para Salvador, na Bahia, e recomeçou sua vida ao ingressar no programa de proteção a testemunhas. Em uma nova moradia, Joana assumia uma identidade de uma mulher mineira e começou a realizar cursos de informática, ainda conforme o Jornal O Globo.

 

Amanda Ferreira

 

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