Tributo! Revitalização de prédio e lançamento de documentário homenageiam Helena Meirelles

Na obra de Marcos Rezende quanto mais distante a pessoa fica, mais visualidade ela tem - Foto: Nilson Figueiredo
Na obra de Marcos Rezende quanto mais distante a pessoa fica, mais visualidade ela tem - Foto: Nilson Figueiredo
Democratizar o acesso à cultura é um dos principais objetivos do projeto
Perto da Praça Ary Coelho, na 14 de julho com Avenida Afonso Pena, o Edifício Itamarati está com uma nova intervenção artística. Pelas mãos do artista plástico Marcos Rezende, o prédio ganha novas cores, que dão vida ao retrato de Helena Meirelles, dama violeira de Mato Grosso do Sul.
O projeto ‘Helena Meirelles: Som & Cor do Pantanal’ foi viabilizado pela Lei Paulo Gustavo, por meio da FCMS (Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul). Mas, ele não para na pintura: a proposta também abrange a gravação de um documentário em três episódios, em homenagem à Dama da Viola, tudo idealizado por Diogo Rodrigues (engenheiro responsável técnico pelos trabalhos em altura e produtor executivo), Marcos Rezende (artista responsável pela pintura da imagem no prédio) e Cyro Clemente (cineasta e diretor do documentário). Outra vertente a ser explorada será a música, com a composição ‘Dona Helena’, de Jerry Espindola, Marcelo Ribeiro e Rafael Vital.
Serão 180m² de pintura na empena, nome técnico das fachadas laterais de um edifício, que geralmente não têm janelas ou portas. Segundo Diogo Rodrigues, o prédio foi escolhido devido ao alto fluxo de pessoas e carros na região e pelos anos sem uma pintura no local.
“No edifício da galeria, já são 30 anos sem pintura. Além disso, conforme levantamento da Agetran [Agência Municipal de Transporte e Trânsito], mais de 500 mil carros passam pelo local, o que irá proporcionar uma democratização dessa obra. Muitas pessoas não têm acesso à arte, e ela estando exposta assim, tem uma maior divulgação. Durante a realização da pintura, por exemplo, um estudante passou por aqui e fez um desenho do prédio. É isso que buscamos”, explicou ao jornal O Estado.
Rodrigues destaca que o projeto foi uma união de diversas expressões artísticas. “O documentário é uma homenagem ao centenário de Helena Meirelles, e entramos no edital como filme. Mas também tínhamos a ideia de fazer o painel. Então aproveitamos, fizemos o roteiro do documentário, contando a história dela. No meio do processo, o Jerry Espíndola gravou uma música em homenagem a ela e agora estamos gravando o making of da pintura do prédio. Estamos ‘matando dois coelhos com uma cajadada só’, por assim dizer”, explica.
Conforme o produtor, além da empena com a imagem, as outras laterais do prédio serão pintadas, pois precisavam de revitalização. “Você não pode fazer um painel e deixar as outras paredes de 20 e poucos anos atrás sem pintura”, reitera. As gravações da execução da pintura estão sendo realizadas todos os dias, com o auxílio de uma câmera instalada no prédio da Associação Comercial, que registra o andamento da obra durante 24 horas. A pintura ainda poderá ser contemplada no período noturno, já que o projeto abrange uma iluminação artificial sustentável, com dez holofotes, que serão acionados a partir das 20h até às 6h.
Desafios
De acordo com o engenheiro e produtor, o prédio é imediatamente ligado com outros, de ambos os lados, o que tornou a montagem de equipamentos mais complexa. “São prédios antigos, e colocar andaimes, com 300 quilos cada um. Houve problemas com vizinhos, porque os equipamentos são pesados, agora estou arcando. Isso é obra no centro da cidade. É preciso seguir as regras da engenharia, pintura de prédio é uma obra civil também”, declara.
A pintura, é feita pelo artista plástico Marcos Rezende, que possui destaque no cenário artístico de Mato Grosso do Sul pelo trabalho em escultura figurativa, campo onde aprofundou seus estudos com cursos e workshops, nacionais e internacionais. Seu trabalho alcançou reconhecimento com a produção do busto de Ulysses Serra em bronze, atualmente em destaque na Academia Sul-Mato-Grossense de Letras.
Além da escultura, Marcos Roberto explorou a pintura, destacando-se na arte cubista e abstrata, buscando uma nova forma de expressão para seus sentimentos. Sua obra ganhou visibilidade internacional através da Galeria Mara Dolzan, com um quadro integrando o acervo principal da Basílica de San Lorenzo em Roma. Outro marco importante em sua carreira foi o monumento Jaguaretê, uma imponente onça de aço tridimensional exposta na Praça Santa Fé em Campo Grande/MS.
“Marcos é um artista acadêmico de muita qualidade, é o primeiro painel suspenso que ele pinta, eu já confiava no trabalho dele. A técnica dele é de Art Pop, que quando mais distante da obra você fica, mais visualidade você tem. Ou seja, quanto mais próximo da parede, menos dá para entender, mas ao longe, forma uma única imagem. Essa técnica é muito utilizada nos grandes centros pelo mundo”, disse Rodrigues.
O documentário
Em conversa com o jornal O Estado, o cineasta Cyro Clemente relata que a ideia para o documentário já é antiga. “Começou quando Diogo e Marcos iniciaram conversas com Francisco, filho de Dona Helena. Nesse processo, surgiu a vontade de resgatar e contar sua história de uma forma que fosse além da música, valorizando sua trajetória e seu impacto na cultura sul-mato-grossense”.
Com a ideia tomando forma, a participação de Jerry Espindola foi um passo além. “Ele trouxe suas vivências com Helena, acrescentando profundidade e afeto ao projeto. A revitalização do mural de Marcos se tornou um elemento essencial dentro dessa narrativa, ligando passado e presente, som e imagem, tradição e memória”, reforça.
Para Clemente, o projeto ultrapassa as barreiras do documentário. “É um reencontro com Helena Meirelles. É um tributo à sua força, ao seu legado e ao impacto que sua arte teve em tantas vidas. Um Marco para a história do nosso MS”.
Entrevistas com familiares e pessoas que conheceram a personalidade foram essenciais para o processo de formação da obra. “As primeiras entrevistas feitas já revelaram histórias e passagens inusitadas da vida desta grande violeira. Os relatos destacam não apenas seu talento excepcional, mas também sua personalidade forte, seu jeito irreverente e as dificuldades que enfrentou para consolidar sua trajetória na música. Cada conversa tem trazido novas perspectivas sobre Helena Meirelles, mostrando sua determinação, seu amor pela viola e o impacto que deixou na cultura brasileira”.
Pintura, cinema e música
Segundo Clemente, a ideia do documentário nasceu como um complemento, que une pintura, cinema e música.
“Helena Meirelles foi escolhida porque sua trajetória representa a essência da cultura sul-mato-grossense e sua arte transcendeu fronteiras. Esse projeto, viabilizado pelo apoio da Lei Paulo Gustavo, busca não apenas homenagear Helena, mas também criar um diálogo entre diferentes expressões artísticas”, disse.
“É uma forma de preservar e difundir a história de Helena, garantindo que novas gerações conheçam sua importância”
Em entrevista para o jornal O Estado, o cantor Jerry Espíndola compartilhou um pouco sobre a amizade com a violeira.
“Estou muito feliz de prestar essa homenagem, porque essa música foi feita em um momento de muita saudade da Dona Helena Meirelles, que tive o prazer de ser amigo; ela sempre me chamava de ‘Régi’, porque não conseguia pronunciar o Jerry, e ela me ligava, era sempre muito bom falar com ela”.
Por Carolina Rampi

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