As duas araras, com cerca de sete metros de altura são feitas de estrutura de ferro e argamassa armada.
O município de Terenos, a aproximadamente 30 quilômetros de Campo Grande, acaba de ganhar um monumento em homenagem às araras-Canindé, realizado pelo artista plástico Cleir Ávila. A obra, nomeada como “Monumento Canindés”, está localizada no Parque Municipal Issac Cardoso Filho (Campão), e apresenta duas araras, com cerca de sete metros de altura. A estrutura é feita de ferro, argamassa armada e pintada com acabamento em veladura, mesma técnica utilizada por Cleir em suas telas.
O monumento ainda possui uma iluminação especial, paisagismo próprio e uma espaço dedicado a fotos, onde o visitante, ao se posicionar no local, poderá fazer fotos com a ilusão de que uma das araras está pousada no seu braço, já que o animal é representado pousado em um galho.
Cleir relata que possui um carinho especial pela fauna do Cerrado, que se tornou ainda mais intensa após ser acompanhado pelas próprias araras-Canindé diariamente, que o visitaram durante os sete meses de realização do monumento.
“Esse trabalho foi pensado durante dois anos. Em 2021, o prefeito Henrique Budke me procurou e falou sobre sua ideia de valorizar a cidade com a escultura. Na época, eu estava indo para Arapongas–PR onde trabalhei por um ano e meio e na volta, retomamos o projeto que tanto me alegra. Entre as aves da nossa fauna, a arara-Canindé é a que tenho uma admiração especial e elas me inspiraram muito durante o trabalho, pois, enquanto sobrevoavam e pousavam ao redor, eu observava de perto seu comportamento e beleza para transmitir para as esculturas”, conta Cleir.
Ainda segundo o artista, a rotina do município o permitiu ver a satisfação da população de perto. “Terenos é um município acolhedor, com pessoas simpáticas e que integraram a rotina de trabalho, sempre com demonstração de apoio. Em agradecimento, me dediquei a apresentar uma obra que valoriza a cidade.”, finaliza o artista.
Segundo o prefeito de Terenos, Henrique Budke, o local foi escolhido devido ao grande número de aves que passam pelo parque. “Muitas araras-Canindé se alimentam diariamente no parque e, segundo estudos, Terenos é uma das cidades com maiores índices dessa ave, que se reproduz comumente na região. Já sabíamos que o Cleir faria um ótimo trabalho, mas fomos surpreendidos pelo resultado, onde a população elogia e faz fotos no local. Essa é uma forma de levar o nome de Terenos e fortalecer o respeito à natureza, além de criar memórias afetivas”, destacou Budke.
Araras Canindé
Coloridas e majestosas, as araras-Canindé podem ser consideradas símbolos de Mato Grosso do Sul. Além do Brasil, a ave pode ser encontrada em diversas partes da América do Sul como Colômbia, Guianas, Equador, Peru, Bolívia, Paraguai e Argentina, de acordo com o Instituto Arara Azul.
Devido ao intenso desmatamento e degradação da fauna, pela ação dos seres humanos, a ave precisou se adaptar às áreas urbanas, como, por exemplo, Campo Grande, reconhecida como a ‘capital das araras’. A presença da ave é tão forte na Capital que foi criada a Lei Municipal n.º 5.561, de 15 de junho de 2015, para que a arara-Canindé se tornasse símbolo oficial. Os órgãos responsáveis se mobilizaram, com o aumento de campanhas de divulgação sobre a importância da espécie e da biodiversidade. Três anos depois, por meio da Lei Municipal n.º 6.075, é proibida o corte, derrubada, remoção ou sacrifício de árvores onde situam-se ninhos de araras-Canindé e arara-vermelha. Atualmente, 22 de setembro é o ‘Dia Municipal de Proteções das Araras’.
O Instituto Arara Azul realiza o acompanhamento das araras na natureza, com o monitoramento de ninhos naturais e artificiais, numa área de mais de 400 mil hectares, para auxiliar na conservação da espécie, juntamente com proprietários locais. O monitoramento dos ninhos é essencial para garantir o sucesso reprodutivo da espécie, que depende de troncos de palmeiras mortas para a construção do ninho, que também é feito nas áreas urbanas.
A importância de um monumento em Terenos se destaca ainda mais, se observarmos o histórico da chegada das aves em Campo Grande. Em 1999, devido a um acentuado período de estiagem, desmatamento e queimadas na zona rural, houve uma escassez de alimentos, que provocou a debandada da espécie da cidade de Terenos. As araras, em grupos de 48 e 27, se estabeleceram em Campo Grande e em outros municípios como Ribas do Rio Pardo, Água Clara, Três Lagoas e até São Paulo e Paraná.
Cleir Ávila
Autodidata e apaixonado pelo cerrado, Cleir Ávila Ferreira Júnior, de 60 anos, já presenteou Mato Grosso do Sul com diversas obras: os Tuiuiús do Aeroporto, o Sobá gigante da Feira Central, as Araras da Praça União – que hoje é conhecida como Praça das Araras – a pintura na lateral do prédio da rua 26 de agosto, tudo isso apenas em Campo Grande, sua cidade natal. Entretanto, as obras do artista estão presentes em outros municípios como em Bonito (Monumento das Piraputangas, na Praça Central), Bataguassu (Tucunarés), Aquidauana (índia Terena), além de diversas pinturas em tela, representando a fauna e flora.
Por Carolina Rampi
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