Sesc Cultura recebe “O que os olhos veem o coração sente?”

Foto: Divulgação/Arquivo pessoal
Foto: Divulgação/Arquivo pessoal

Espetáculo sensorial “O que os olhos veem o coração sente?” é apresentado a partir de amanhã, de graça, no Sesc Cultura

Saint-Exupéry já teria escrito, em uma de suas obras mais famosas, “O Pequeno Príncipe”, que “só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos”. Partindo mais ou menos desse pressuposto, hoje (29), às 18h30 e no sábado (1º), às 15h, será realizada uma oficina de teatro às cegas no Sesc Cultura, inspirada no espetáculo teatral “O que os olhos veem o coração sente?”, no qual o tema central é a deficiência visual, e que será apresentado amanhã (30) e sábado (1º), às 19h.

A entrada é gratuita e a classificação indicativa é livre. “O principal objetivo é transportar uma pessoa que enxerga para o mundo de um deficiente visual. E, para fazer isso, eu fui atrás de pessoas cegas que queriam atuar, para trazer o máximo possível dessa realidade, e para dar oportunidade de atuar a eles.

O espetáculo teatral foi feito com o intuito de levar as pessoas que enxergam para o mundo de um deficiente visual, para sentir na pele como é seu dia a dia, e entender que nem sempre precisamos ver para sentir”, dispara o ator, dramaturgo, cenógrafo e diretor da peça, Alexandre Melo.

Na trama da peça, Lucas acaba de ficar cego e o desafio que agora se apresenta é a adaptação a essa nova realidade, mas ele percebe que seu maior obstáculo será fazer com que as pessoas à sua volta se adaptem à sua nova realidade. “Os olhos nem sempre veem tudo. O sorriso no seu rosto talvez não seja o que você sente, assim como as atitudes que você toma talvez não sejam o que você quer. Só quem sabe o que realmente está sentindo é o seu próprio coração.”

Espetáculo sensorial

Segundo Alexandre, além de ampliar o acesso à cultura, o projeto visa conscientizar as pessoas. “A expectativa é de que as pessoas saiam do teatro com um sentimento maior de empatia, entendam que a deficiência não é motivo de exclusão. As pessoas precisam entender que um cego é igual a qualquer outra pessoa. Além, claro, de ver as pessoas se emocionarem e ao mesmo tempo se divertirem com o roteiro.”

Na experiência, o público será convidado a ser vendado instantaneamente, assim que chegar ao local, ainda na recepção. A partir daí, a plateia ficará vendada até o fim do espetáculo e, já no início, o público passará por um túnel com obstáculos, remetendo à rotina com a qual os deficientes visuais estão habituados. Ao sair do túnel, a pessoa será direcionada pela equipe até chegar ao seu assento.

Durante o espetáculo, sons, vozes e cheiros chegarão a eles dando a sensação de que fazem parte da cena, uma dinâmica sensorial essencial para a compreensão da trama. Com os olhos vendados, o público apenas ouvirá as vozes do narrador e dos personagens, o que fará com que os presentes tenham os sentidos aguçados enquanto a produção do espetáculo, conforme a narrativa segue, apresenta ações sensoriais, que estimulam os sentidos da plateia: olfato, tato e audição, exceto a visão.
A direção e criação são de Alexandre Melo e os atores Jefferson Messias, Luiz Alberto, Nivaldo Santos, Monique Lopes e Cristiane Tiecher são todos deficientes visuais. Toda a experiência que essa ação proporciona tem o objetivo de transformar o olhar do público em relação à deficiência visual, agregando novos conhecimentos e percepções sobre a inclusão dessas pessoas ao meio artístico.

Motivação

A motivação de Alexandre veio da própria família. “Tenho um tio que é deficiente visual. Quando ele entrou na família, eu me lembro de que ele pediu pra me aproximar dele porque queria me conhecer. Ele começou a tocar no meu rosto e aquilo mexeu muito comigo, porque achei diferente. Meu tio é muito sensorial, ele percebe a presença de pessoas pelo cheiro e a audição dele é superaguçada”, explica o diretor.

Melo ainda relembra a reação do tio ao ouvir sobre seus trabalhos. “Sempre que eu falava dos meus trabalhos no meio artístico, ele pedia pra eu descrever o que acontecia na cena, até que um dia eu pensei: por que não fazer um trabalho para eles e colocá-los como prioridade, e nós que enxergamos entrar no mundo deles? Assim eu iniciei a pesquisa para elaboração de roteiro que pudesse trazer o máximo possível de informações sensoriais.”

Políticas públicas

Para Alexandre, o início de tudo é nas políticas públicas. “Eles precisam de oportunidades, você precisa vivenciar para entender como funciona. No início, foi um ensinamento para mim, trabalhar com eles. Tudo que aprendi estudando todos esses anos, para eles não funcionava, aprendi a reproduzir o que meus olhos enxergavam, e foi aí que percebi que o problema é que geralmente não estamos preparados, somos educados a conviver somente com a maioria e a minoria é deixada de lado”, acredita.

Planos

A ideia do diretor é levar o espetáculo para outros estados. “Estamos agora iniciando essa temporada no Sesc Cultura, eles nos contrataram pra essa temporada, talvez ainda possamos fazer algumas apresentações na cidade até o fim do ano. Já para 2023, a ideia é poder circular com o projeto pelo Brasil; estamos em busca de patrocínio para conseguir levar esse espetáculo ao maior número de pessoas possível”, conta Melo.

Serviço: A oficina de teatro sensorial inspirado no espetáculo “O que os olhos veem o coração sente?” será realizada hoje (29), às 18h30, e no sábado (1º), às 15h. Já as apresentações do espetáculo serão na sexta-feira (30) e no sábado (1º), às 19h, no Sesc Cultura, que fica na Avenida Afonso Pena, 2.270, Centro. A entrada é gratuita.

Por Méri Oliveira – Jornal O Estado

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