Fé, tradição e histórias de devoção marcam a celebração do padroeiro de Campo Grande, que une milhares de fiéis em procissões, festas e testemunhos
Considerada por muitos brasileiros a melhor época do ano, o período das festas juninas ganha um significado especial em Campo Grande. Nesta sexta-feira (13), a Capital celebra o feriado de Santo Antônio, seu padroeiro, com uma programação repleta de fé, tradição e alegria. A cidade já está em clima de comemoração, com os preparativos a todo vapor: missas, quermesses, festas, arraiais e diversas manifestações culturais prometem reunir moradores e visitantes em celebração à devoção ao santo.
Além do aspecto religioso, o feriado de Santo Antônio movimenta Campo Grande com apresentações musicais, comidas típicas e atividades para todas as idades.Um dos destaques da celebração é o tradicional Arraial de Santo Antônio, realizado pela Prefeitura Municipal. A fé, a tradição e a alegria típicas deste período ganham vida mais uma vez com a 23ª edição do evento, que acontece de 12 a 15 de junho, na Praça do Rádio Clube.
Arraial Tradicional – Programação
Ao todo, 28 expositores participarão do Arraial de Santo Antônio, garantindo uma variedade de comidas típicas e produtos artesanais. A programação começa no dia 12 de junho, com João Marcos e Zé Ronaldo se apresentando às 19h, aquecendo o público para o show da consagrada dupla Jads & Jadson, que sobe ao palco às 21h.
Na sexta-feira (13), dia do padroeiro de Campo Grande, a fé toma conta da cidade com a tradicional procissão, que parte às 19h da Catedral Nossa Senhora da Abadia e Santo Antônio de Pádua em direção à Praça do Rádio Clube. Logo após, a Santa Missa será celebrada no local, reforçando o espírito de devoção que marca a data. A programação musical segue com a dupla Gilson e Júnior, às 21h. No sábado (14), Max Henrique anima o público às 19h, seguido por Alex e Yvan às 21h. O encerramento, no domingo (15), será ao som contagiante de Fábio Cunha, às 19h, e do grupo Ipê da Serra, às 20h, encerrando a festa com muito forró e alegria.

Foto: Prefeitura de Campo Grande/Divulgação
Participação da igreja
Ao Jornal O Estado, a Catedral Nossa Senhora da Abadia e Santo Antônio confirmou sua participação no tradicional Arraial de Santo Antônio, além da realização de atividades próprias em comemoração ao padroeiro de Campo Grande. Um dos momentos mais esperados é a procissão, que acontece no dia 13 de junho, com saída marcada para as 18h da Catedral em direção à Praça do Rádio Clube. O trajeto seguirá pela Travessa Lídia Baís, Rua Sete de Setembro, Rua 14 de Julho e Avenida Afonso Pena. Após a chegada dos fiéis à praça, será celebrada a Santa Missa, presidida pelo arcebispo de Campo Grande, Dom Dimas Lara Barbosa.
Segundo a Pastoral da Catedral, o foco da celebração é a memória de Santo Antônio, reconhecido como Doutor da Igreja por sua sabedoria e relevância teológica. “No dia 13, vivemos uma forte experiência de fé e tradição. Além da programação litúrgica, teremos barracas com comidas típicas, como carreteiro, choripán, espetinho simples e com carreteiro, pastel, doces e bebidas, para acolher os fiéis e visitantes com alegria e hospitalidade”, destaca a equipe pastoral.
Durante a procissão e as celebrações do dia 13, a Catedral quer reforçar uma mensagem de fé centrada no exemplo de Santo Antônio. A Igreja enfatiza e valoriza as festas juninas como expressão de fé popular. “Desde a trezena, temos convidado os fiéis a refletirem sobre o serviço ao próximo, especialmente aos mais necessitados, como fez Santo Antônio em sua missão.Mais do que tradição cultural, essas festas são oportunidades de recordar a vida de santos como Santo Antônio, São João e São Pedro. Elas mantêm viva a espiritualidade e aproximam a comunidade”, afirmam.

Foto: Diogo Gonçalves/Divulgação
História do Padroeiro
O padre Wagner Divino, da Paróquia de Santo Antônio, relembra ao Jornal O Estado, que a origem de Campo Grande está fortemente ligada à fé e à migração de mineiros para o Centro-Oeste no século XIX, especialmente a de José Antônio Pereira, considerado o fundador da cidade. Segundo o padre, a jornada difícil e cheia de incertezas foi movida por coragem, sonhos e uma forte devoção a Santo Antônio.
Durante a viagem, Pereira e sua comitiva enfrentaram uma epidemia conhecida como “febre maligna”. Em meio à crise, ele fez uma promessa: se todos chegassem com vida à nova terra, construiria uma igreja em homenagem ao santo. “Essa fé acompanhou a travessia e, de fato, todos chegaram em segurança”, destaca o padre. A promessa foi cumprida com a construção da primeira capela em março de 1878, no que hoje é a Travessa Lídia Baís, centro da cidade.
A devoção foi tão marcante que o povoado recebeu o nome de Santo Antônio de Campo Grande. “Antes mesmo de existir qualquer construção, havia a fé de uma família que confiou em Deus e em Santo Antônio. A história da cidade começa com uma promessa e um altar”, afirmou o padre Wagner, ao destacar que a tradição segue viva até os dias atuais como base espiritual e cultural da capital sul-mato-grossense.
Muito além de uma festa
Para Zielma Lopes, bióloga e filha de Neuza de Andrade Lopes, a devoção a Santo Antônio vai muito além do dia 13 de junho é uma herança afetiva e espiritual deixada pela mãe, falecida em 2013. “Mamãe sempre foi muito católica, era ministra da Eucaristia e tinha uma fé profunda em vários santos, mas Santo Antônio sempre teve um lugar especial. Ela se identificava muito com o cuidado dele pelos pobres e necessitados, algo que refletia na vida dela. Era uma mulher generosa, sempre pronta a ajudar”, conta Zielma.
As festas juninas eram parte viva da tradição familiar, que misturava celebração e fé. “Cresci participando das novenas com minhas irmãs, das festas de Santo Antônio, São João e São Pedro. Mesmo que nem sempre desse para reunir todo mundo, sempre tinha alguma forma de celebrar. A fé foi o que nos formou como família”, lembra. Ela também destaca que frequentou escola católica desde pequena, e que o ambiente fortalecia ainda mais essa devoção coletiva.
Uma lembrança especialmente marcante são os “santinhos” de Santo Antônio feitos artesanalmente por Neuza. “Ela era uma artesã incrível. Um dia me convidou para fazermos um buquê com 12 santinhos para um casamento, algo simbólico e cheio de carinho. Começamos em junho, mas em julho ela sofreu um infarto e nunca mais se recuperou. Os santinhos ficaram comigo. Estão guardados até hoje”, conta emocionada. “Ainda não consegui terminar. Parece que, se eu terminar, fecho um ciclo. Mas penso em finalizá-los para o casamento de uma filha minha. Seria como ter minha mãe presente nesse momento”.

Foto: Arquivo Pessoal de Fernanda Corrêa
Bolo, fé e milagre
A confeiteira Fernanda Corrêa, de 52 anos, vive em Campo Grande há oito anos e encontrou na Paróquia Santo Antônio um novo lar de fé e serviço. “Sou coordenadora do Bolo de Santo Antônio pela terceira vez e para mim é uma missão. Eu paro tudo para me dedicar a isso. É uma forma de servir a Deus com o meu trabalho”, afirma. Fernanda veio de Aquidauana e encontrou na tradição do bolo uma oportunidade de se conectar com a comunidade e com o santo que hoje também faz parte de sua devoção pessoal.
A relação com Santo Antônio se fortaleceu após uma vivência marcante. Em 2023, Fernanda enfrentou uma síndrome rara Guillain-Barré, que paralisou suas pernas de um dia para o outro. “Recebi a visita de um amigo da paróquia no hospital, e ele disse brincando: ‘Você tem que melhorar, quem vai fazer o bolo?’ Aquilo me tocou. À noite, pedi a intercessão de Nossa Senhora e de Santo Antônio. Disse que, mesmo de cadeira de rodas, queria estar na paróquia, ajudando de alguma forma”. Contra todas as expectativas médicas, Fernanda se recuperou a tempo. “Estava lá, inteira, mesmo com limitações. Foi uma graça”.
Desde então, ela fez um propósito: enquanto tiver saúde, vai continuar envolvida com o Bolo de Santo Antônio. “A comunidade me acolheu com muito carinho, foi emocionante. Teve gente que me trouxe cadeira, fez massagem, se preocupou comigo. É mais do que doar o tempo. É viver a fé em comunidade. E todos os anos, quando vejo as crianças chegando para os festejos, me emociono. É o amor se renovando”, finaliza com gratidão.
Organizado pela Prefeitura de Campo Grande, por meio da Secult (Secretaria-Executiva de Cultura) e da FAC (Fundo de Apoio à Comunidade), em parceria com o Governo do Estado e a Catedral Nossa Senhora da Abadia e Santo Antônio de Pádua, o Arraial deve atrair milhares de pessoas durante os quatro dias de festa.
Amanda Ferreira
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