Reforma do Maria Constança: colégio ‘desenterra’ histórias e lembranças

Maria Constança Roberto Higa
imagem: Reprodução/Nilson Figueiredo/Divulgação IBGE

Por Méri Oliveira – Jornal O Estado do MS

O colégio Maria Constança de Barros Machado foi inaugurado há 68 anos, em 1954, tombado como patrimônio histórico em 1995, e agora a obra projetada pelo famoso arquiteto Oscar Niemeyer passa por uma restauração do prédio já existente, além de uma ampliação que vai instalar uma cozinha, um laboratório e sala de aula, tudo orçado em R$ 7,2 mi. Para contar um pouco mais de toda essa história, o jornal O Estado foi conversar com alunos, ex-alunos e com o diretor do colégio, e te conta um pouquinho das lembranças que vagam pelos corredores do MCBM.

Roberto Higa, conhecido fotógrafo da Capital, conta que antigamente, estudar no colégio Maria Constança era sinônimo de sucesso na vida. “Nós comentávamos que o PIB de MT (à época) estava nas mãos de ex-alunos do colégio Maria Constança, porque os grandes profissionais do Estado estudaram no MCBM, os maiores profissionais saíram de lá, se formaram lá e de lá foram para a vida.”

Higa relembra, de forma bem-humorada, alguns episódios daquela época, como aluno do MCBM. “Ali a gente viveu a fase da adolescência. Uma vez nós pegamos um trem cargueiro, só que ele não parou em lugar nenhum, nem diminuiu a marcha. Menina, nós fomos parar lá em Terenos, e voltamos a pé! Saímos de lá chorando, porque a gente sabia que ia apanhar, foi um rebu desgraçado, apanhamos igual a cachorro sem dono”, relembra o fotógrafo, que ainda emenda, contando que no dia seguinte, ao irem para a escola, os alunos fujões receberam um bilhete, que deveriam levar para casa e trazer assinado pelos pais. Resultado: outra surra.

Além das aventuras, os jovens ainda tinham outras opções de entretenimento, na então – pequena – Cidade Morena: “Campo Grande era uma coisa morta, não tinha nada para fazer. Então a gente se juntava e ia trocar gibizinhos de ‘sacanagem’ em frente do Cine Santa Helena. E quando a gente estava perto dos mais velhos, perto da mãe, o código para esse material era ‘catecismo’, então a gente perguntava ‘você já leu o último catecismo?’”, conta o fotógrafo, às gargalhadas.

O engenheiro Moacir Lacerda, conhecido por ser integrante do grupo ACABA (Associação dos Compositores e Amigos do Bairro Amambaí), explica que a instituição de ensino era totalmente diferente e inovadora à época. “No Colégio Estadual Campo-Grandense, projetado por Niemeyer, a arquitetura em si já oferecia um diferencial em todos os sentidos: colégio moderno, altamente funcional, altamente moderno, não tinha comparação com nenhum outro, seja do Estado aqui de MS, MT, e no Brasil.”

Moacir nos conta que antigamente, para se estudar no colégio estadual, era necessário passar por um exame de admissão, como se fosse um vestibular, que era muito concorrido, já que era o melhor colégio do Estado. “Era concorrido, as pessoas que não conseguiam – podiam ter o dinheiro que fosse – mas, se não conseguissem passar, não entrariam no estadual”, conta.

O músico conta que se lembra de muitas histórias curiosas da época em que estudou no colégio Maria Constança. “Nós tivemos a felicidade de realizar, em 2015, o jubileu de ouro da minha turma de ‘ginásio’, fizemos até uma cápsula do tempo para ser aberta daqui a 50 anos.”

Obra única

O colégio Maria Constança é a única obra de Niemeyer em Campo Grande, e a fachada do colégio remete a um livro aberto, enquanto uma haste, logo à entrada, faz menção a um lápis e um longo corredor dentro da instalação alude a uma régua.

Curiosidade: “rivalidade”

Uma curiosidade interessante em relação às escolas mais antigas de Campo Grande envolve o MCBM, com obras iniciadas em 1952 e inaugurado em 1954, e o colégio Joaquim Murtinho, concluído em 1922 e inaugurado em 1926: as duas instituições de ensino são, ao mesmo tempo, as mais antigas da Capital. Mas como assim? São décadas de diferença!

O que ocorre é que isso trata das instalações físicas dos prédios: ao passo que o MCBM foi construído em 1952 e tem sua estrutura original preservada até os dias atuais, o Joaquim Murtinho teve a construção demolida e reconstruída em 1970. Dessa forma, embora em termos de tempo de atividade o Joaquim Murtinho seja considerado o mais antigo, em termos de estrutura física é o Maria Constança quem leva o título.

Reforma

De acordo com a arquiteta da FCMS (Fundação de Cultura de MS), Cláudia Arruda, “A Escola Estadual Maria Constança de Barros Machado é um importante exemplar da arquitetura modernista no município. Foi tombada pelo Estado através de uma Resolução SECE em 3 de julho de 1997 e está inscrita no Livro do Tombo Histórico”, explica.

Além disso, ela ainda nos explica que, com o desafio de preservar a integridade e autenticidade da edificação, o projeto prevê, ainda, a recuperação de todos os elementos construtivos, como cobertura, alvenarias, revestimentos, caixilhos, elementos decorativos, elementos metálicos, etc., bem como a demolição criteriosa de acréscimos sofridos. “Serão realizadas as prospecções arquitetônicas para verificação de extensão de danos e traços de argamassas, bem como análises laboratoriais da argamassa de revestimento para determinação do traço original deverão ser realizadas”, pontua Cláudia.

De acordo com o diretor Reinaldo Schmidt, a reforma era necessária e veio em boa hora. “A nossa estrutura estava bem debilitada, a gente tinha problemas constantes com esgoto entupido, problemas de hidráulica, elétrica, e por ela ter se tornado história em tempo integral em 2017 – todas essas escolas [de tempo integral] passaram por reforma –, a nossa, por ser patrimônio histórico, precisou aguardar a liberação”, relembra.

Em seguida, nos fala sobre as mudanças na instituição de ensino. “A expectativa em relação à reforma é de receber uma estrutura para melhor atender nossos alunos, com salas totalmente reformadas, refeitório e laboratório novos e restauração da parte tombada como patrimônio histórico. Uma escola ampliada e reformada valoriza a comunidade escolar e viabiliza um melhor atendimento aos estudantes e professores”, assevera o diretor, animado com as melhorias.

Ele explica que, durante as obras, os alunos terão aulas no antigo Colégio Atenas, para que não tenham prejuízo no calendário pedagógico.

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