Projeto Olubayo seleciona filmes para exibição em comunidades quilombolas

Foto: Reprodução
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Serão cinco filmes, com duas produções nacionais e três de Mato Grosso do Sul

 

Nove comunidades quilombolas de Mato Grosso do Sul irão receber o projeto ‘Olubayo – Cinema nas Comunidades Quilombolas’, com exibição de cinco filmes, como parte das comemorações pelos 40 anos do grupo TEZ (Trabalho e Estudos Zumbi). A intenção do projeto é incentivar a buscar, promover a representatividade negra no audiovisual e incentivar debates sobre identidade, resistência e ancestralidade.

Foram selecionados 2 filmes nacionais e 3 filmes produzidos em Mato Grosso do Sul que circularão por 9 comunidades quilombolas.

Os filmes escolhidos foram ‘Fábula da Vó Ita’, de Joyce Prado; ‘Bonita’, de Mariana França (nacionais); ‘Luzes Debaixo’, de Tero Queiroz; ‘Águas’, de Raylson Chaves; e ‘Jardim de Pedra – Vida e Morte de Glauce Rocha’, de Daphyne Schiffer (Mato Grosso do Sul). Todas as obras foram produzidas por cineastas negros.

“O critério mais marcante na seleção dos filmes foi a questão da linguagem cinematográfica, principalmente observando se os autores conseguem realmente passar o recado, ter uma mensagem clara. Valorizamos a ancestralidade, a representatividade negra, a estética e a beleza. Queríamos obras que dialogassem com o público por meio da poesia e temas diversos, atendendo às crianças, adolescentes e juventude”, explica Bartolina Catanante, a professora Bartô, idealizadora do projeto.

Bartô também destacou a importância da representação nas telas. “Estamos num momento muito fértil na construção de narrativas e identidades que retratam o pensamento dos cineastas negros. Isso fortalece a resistência e a identidade das comunidades quilombolas, criando um link com suas próprias realidades”, acrescenta.

Sobre os filmes

“Fico muito feliz e emocionada com a escolha de ‘Fábula da Vó Ita’ e ansiosa pela recepção das crianças nos territórios quilombolas do MS. O filme busca promover a autoestima nas crianças e o reconhecimento da beleza em suas manifestações mais diversas. Tem tatu, tuiuiú e outras inspirações da fauna e flora do Centro-Oeste. Uma história lúdica e familiar. Espero que o público do Olubayo se divirta muito”, comenta a diretora Joyce Prado.

Já Tero Queiroz, artista sul-mato-grossense diretor do documentário ‘Luz Debaixo’, frisa que é de extrema importância a valorização do audiovisual negro. “Estou muito feliz por integrar este projeto lindo e potente. ‘Luzes Debaixo’ aborda a invisibilidade de pessoas que vivem à margem da sociedade, como um grupo que habitava debaixo de uma ponte em Campo Grande. Mesmo em situação de rua, enfrentaram o desabrigo forçado. O filme dá voz a essas pessoas e suas resistências, conectando-se profundamente com o objetivo do Olubayo”, afirma.

Sinopses

Fábula de Vó Ita (Joyce Prado e Thallita Oshiro)

Gisa tem um cabelo diferente, cheio de vida e personalidade, mas seus colegas de escola vivem debochando dela por conta disso. Triste e sem estima ela irá buscar a ajuda da Bruxa Leleira, mas fugindo da sua identidade a menina pode perder a chance de ser feliz.

Bonita (Mariana França)

O documentário apresenta as vivências de três mulheres pretas de gerações distintas e que são ou já foram atravessadas pelo mesmo sentimento: a solidão e a solitude da mulher negra.

Jardim – vida e morte de Glauce Rocha (Daphyne Schiffer)

O filme, que estreou conquistando os prêmios de Melhor Documentário e Melhor Direção na Mostra Audiovisual de Dourados de 2024, convida o público a revisitar a trajetória de Glauce, uma artista que transcendeu o palco e a tela para se tornar um ícone cultural.

Águas (Raylson Chaves)

Em meio a tarefas cotidianas, uma empregada doméstica desafia a linearidade de seu mundo.

Luzes de Baixo (Tero Queiroz)

‘Luzes de Baixo’ acompanha uma associação que distribui feijoada para uma comunidade que, durante a pandemia de Covid-19, se abrigou sob o pontilhão na região central de Campo Grande-MS.

Próximos passos

As exibições acontecerão em nove comunidades quilombolas de Mato Grosso do Sul: Tia Eva e São João Batista (Campo Grande), Furnas do Dionísio (Jaraguari), Águas do Miranda (Bonito), Furnas dos Baianos (Aquidauana), Picadinha (Dourados), Comunidade dos Pretos (Terenos), Família Jarcem (Rio Brilhante) e Família Cardoso (Nioaque). Elas serão realizadas entre fevereiro e abril e após os filmes haverá debates promovidos pelo grupo TEZ.

História e legado do grupo TEZ

Fundado em 1985, o Grupo TEZ (Trabalho Estudos Zumbi) foi a primeira entidade do movimento negro no Mato Grosso do Sul. Desde o início, o grupo desempenhou um papel fundamental no combate à opressão e às desigualdades sociais, promovendo um espaço de luta e resistência. Entre suas principais ações, destacam-se organizações políticas para debater as desigualdades que afetam a população negra e iniciativas voltadas à diversidade etnico-racial na educação infantil.

Ao longo de quatro décadas, o TEZ contou com a participação de professores, estudantes universitários e representantes de outros segmentos sociais, tornando-se uma referência na luta por ações afirmativas e políticas públicas. O legado do grupo também inspirou a criação de outros movimentos negros, consolidando uma rede de resistência e protagonismo negro no estado e no Brasil.

 

Por Carolina Rampi

 

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