Com aulas gratuitas, iniciativa oferece formação orquestral para 120 crianças e adolescentes
No Jardim Noroeste, o maestro Rafael Fontinele lidera o projeto “ Ação Social pela Música – Noroeste” que une educação musical e inclusão social para cerca de 120 crianças e adolescentes, entre 7 e 18 anos. As aulas gratuitas de violino, viola, violoncelo, contrabaixo acústico, violão, flauta doce e teoria musical acontecem no CRAS(Centro de Referência de Assistência Social) do bairro, sempre no contraturno escolar, às quartas e sextas-feiras, das 8h às 11h e das 14h às 17h.
Com foco na formação cultural e cidadã, o projeto promove oficinas coletivas, ensaios semanais, apresentações públicas e encontros com familiares, estimulando a permanência escolar, o fortalecimento da autoestima e o vínculo com a comunidade. A iniciativa também conta com parcerias com escolas e centros culturais da região.
A proposta tem duração de 10 meses e prevê pelo menos três concertos gratuitos ao longo do ano. Mais do que ensinar música, o projeto oferece novas perspectivas a jovens em situação de vulnerabilidade, construindo uma base orquestral e promovendo o acesso à cultura onde ele é mais necessário.
Cultura em todos os lugares
O projeto Ação Social pela Música – Noroeste é uma parceria com a ASM do Brasil (Ação Social pela Música do Brasil) e atua desde 2023 oferecendo formação musical gratuita e prática orquestral para mais de 120 jovens por ano. A iniciativa é inspirada na metodologia da Ação Social pela Música do Brasil, do Rio de Janeiro, reconhecida nacionalmente por promover inclusão e desenvolvimento humano por meio da arte.
O maestro Rafael Fontinele contou à reportagem que o projeto teve início a partir da percepção da falta de atividades culturais voltadas às crianças do Jardim Noroeste.Segundo ele, a prioridade do projeto é atender crianças e adolescentes que já estavam vinculados ao CRAS e matriculados na rede pública de ensino.
“A gente via a necessidade de ter algo pra elas, E já tínhamos os instrumentos da Ação Social pela Música. Foi então que buscamos uma parceria com a Secretaria de Cultura e conseguimos utilizar o auditório como espaço para as aulas”, explica.
O Jardim Noroeste foi escolhido por ser um bairro com alta vulnerabilidade social e poucas opções de atividades culturais, de lazer e formação para crianças e adolescentes. A localização do bairro, próxima ao centro da cidade, e a disponibilidade do espaço no CRAS facilitaram a implantação do projeto, unindo objetivos em comum para atender a comunidade.
“É uma região com muitas crianças que precisam de oportunidades, e a música é um instrumento poderoso de socialização, integração, autoestima e transformação de realidades”, afirma.
O projeto teve início com 80 alunos, foi ampliado para 100 e hoje atende 120 crianças e adolescentes. Ao todo, mais de 300 já passaram pelas atividades desde a implantação. Muitos pais relatam melhorias na autoestima dos filhos, no rendimento escolar e na capacidade de sonhar com o futuro. Além do avanço musical, os alunos já se apresentam em espaços importantes da cidade, como a Casa de Cultura, ONGs, a UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e participam de oficinas e eventos culturais, ampliando horizontes e experiências.
Transformação
O maestro Rafael destaca que o envolvimento das famílias tem sido essencial para o fortalecimento do projeto. As mães participam ativamente, levando os filhos às aulas e ajudando na organização dos eventos, o que contribui para a formação de público e para a criação de um vínculo comunitário com a música. “Estamos criando uma identidade com o bairro Jardim Noroeste e, aos poucos, com a cidade de Campo Grande. A participação dos pais é efetiva e necessária para esse processo de construção coletiva”, afirma. O projeto, que entra em seu terceiro ano, busca consolidar essa relação de pertencimento e valorização cultural.
Para Fontinele, a música exerce um papel profundo na formação humana. Ele compara a orquestra à sociedade, onde é preciso respeitar hierarquias, trabalhar em grupo e conviver com as diferenças. “Todos têm um único objetivo: fazer música e transformar vidas por meio dela”, resume.
Além de desenvolver valores como resiliência e autoestima, o projeto também exige responsabilidade, os alunos precisam estar matriculados na escola e apresentar frequência regular. “Acreditamos que, quando uma criança se apaixona por algo seja arte, esporte ou uma profissão ela transforma a própria vida. E a música tem esse poder”.
Do RJ para CG
A diretora Fiorella Solar, da Ação Social pela Música do Brasil, com sede no Rio de Janeiro, confirmou que a implantação do núcleo em Campo Grande, no bairro Jardim Noroeste, representa um sonho antigo da instituição: consolidar a presença do projeto na região Centro-Oeste.
A parceria com o maestro Rafael Fontinele, que já desenvolvia trabalhos musicais em outros estados, foi essencial para viabilizar a chegada do programa à capital sul-mato-grossense. Com apoio de instituições como a Prefeitura de Campo Grande, a Sectur, a Secult, o SESC-MS e a Casa da Amizade, o projeto já atende mais de 120 crianças com aulas gratuitas de cordas friccionadas, violão e flauta doce e planeja expandir para outros bairros e cidades do Estado.
“A orquestra é uma micro sociedade, onde se aprende a respeitar hierarquias, conviver em grupo e desenvolver disciplina, concentração e autoestima”, destacou a diretora, ressaltando o impacto da música na formação de crianças e adolescentes.
Conforme Fiorella, estudos internacionais comprovam que a participação em orquestras sinfônicas vai além do aprendizado musical, influenciando positivamente o desenvolvimento pessoal de crianças, jovens e adolescentes.
“A Orquestra destaca que o convívio em grupo exige disciplina, concentração e respeito às hierarquias internas, que funcionam como uma micro sociedade. Sob a liderança do maestro e dos primeiros violinos e oboés, os músicos aprendem a cooperar e a respeitar regras, valores que contribuem para a formação social e emocional dos participantes”, finaliza a diretora.
Sobre ASM
A ASM (Ação Social pela Música do Brasil) tem atuação social inclusiva na promoção da cidadania, através da educação musical, para crianças e adolescentes de comunidades economicamente desfavorecidas, em situação de risco social. Mais de 14 mil jovens já passaram pela instituição ao longo de seus 25 anos. Atualmente o programa está em quatro regiões do Brasil (Norte, Nordeste, Centro-oeste e Sudeste) e atende um total de 4.800 alunos em seu programa socioeducativo e cultural, resultando na redução das desigualdades sociais no Brasil.
Por Amanda Ferreira
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