Letícia Naveira fala sobre os bastidores do processo de seleção de elenco do filme
Em clima de “esquenta” para os indicados ao Oscar de 2025, o longa-metragem Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles, está oficialmente elegível para competir na premiação. Na quinta-feira (22), a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas divulgou a lista de produções que participarão da disputa nas categorias de animação, documentário e filmes internacionais. A campo-grandense e produtora de elenco Letícia Naveira compartilhou com a reportagem sua experiência no filme, além de suas expectativas para o Oscar.
O filme, ainda em exibição nos cinemas, é adaptado da biografia de Marcelo Rubens Paiva, que narra a história real de dor e sofrimento vivida por ele e sua família após o desaparecimento de seu pai, o ex-deputado federal Rubens, vítima de assassinato durante o regime militar.
Segundo os sites Variety, Hollywood Reporter e Indieware, a produção possui grandes possibilidades de ser indicada ao Oscar, especialmente na categoria de Melhor Filme Internacional. É importante ressaltar que essas previsões são atualizadas semanalmente, pois os filmes permanecem elegíveis até o último dia do ano.
As indicações serão anunciadas pela Academia em 17 de janeiro de 2025, quando a lista oficial dos indicados para a 97ª edição do Oscar será divulgada. Além de Melhor Filme Internacional, Ainda Estou Aqui também foi inscrito em outras áreas, como, Melhor Atriz (Fernanda Montenegro), Melhor Diretor (Walter Salles), Melhor Ator Coadjuvante (Selton Mello), Melhor Fotografia e Melhor Montagem.
Bastidores
Filha da escritora e imortal da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, Raquel Naveira, e natural de Campo Grande, Letícia Naveira é a produtora de elenco de Ainda Estou Aqui. Em entrevista à reportagem, ela compartilhou os bastidores e os desafios dessa função essencial no cinema, ressaltando a importância de uma pesquisa minuciosa, sensibilidade para o contexto histórico e a busca pela autenticidade no elenco.
Apaixonada por cinema desde criança, Letícia revela o quanto foi emocionante e desafiador trabalhar com Walter Salles, um cineasta que admira muito. Ela enfatiza o grande desafio de encontrar atores que se parecessem com a família Paiva, considerando especialmente a passagem de tempo na trama.
“Sempre fui uma amante do cinema nacional e também fã do Walter! Sempre me dediquei ao cinema e receber esse convite me emocionou demais. Quando tive minha primeira conversa com o Walter sabia que seria um desafio na minha carreira assinar esse elenco. O maior deles seria encontrar a família Paiva. Eu e minha equipe teríamos que encontrar atores adultos semelhantes às crianças”.
O processo de seleção foi meticuloso, envolvendo a análise de mais de mil crianças e uma pesquisa minuciosa sobre a vida real dos personagens. Letícia destaca o caso de Guilherme Silveira, escolhido para interpretar Marcelo Paiva na infância, encontrado em uma praia do Leblon, que era frequentada pela verdadeira família Paiva.
“Tínhamos um norte, pois sabíamos onde as crianças haviam realmente estudado. A partir disso, estabelecemos um recorte e procuramos em escolas semelhantes, além de atividades como teatro, futebol e ballet. O Guilherme Silveira, que interpreta o Marcelo criança, foi encontrado na praia do Leblon, exatamente onde a família Paiva morava, e onde o próprio Marcelo Rubens Paiva frequentava quando pequeno. A arte, como se diz, imita a vida, não é mesmo? Meu trabalho envolve essas “coincidências”, essas surpresas que surgem do acaso”, destaca Letícia.
Ela comenta sobre as dificuldades de reconhecimento da direção de elenco, uma função muitas vezes invisível. A produtora acredita que mais visibilidade e premiações para essa área ajudariam a dar o devido reconhecimento a um trabalho tão crucial para o sucesso do filme.
“As pessoas acham, por vezes, que esses nomes vêm da direção ou da produção executiva. Isso acontece para um nome ou outro, mas o elenco é que compõe um todo, uma participação que não esteja no tom da cena pode ser prejudicial para a obra, é muito importante fazer o espectador mergulhar naquele universo e esquecer que está assistindo”.
Terra Natal
Letícia acredita que cursos de cinema em cidades como Campo Grande são essenciais para formar novos cineastas e promover o incentivo à cultura e ao cinema independente. Ela aconselha aos jovens que sonham em seguir carreira no cinema a se dedicarem ao estudo e à prática constante.
“Acredito que cursos de cinema como o que fiz anos atrás em Campo Grande são essencial para formar novos cineastas. O incentivo à cultura, ao teatro e principalmente para os filmes que não são blockbusters, filmes independentes e de diferentes nacionalidades”.
Letícia, que é de Campo Grande, teve uma relação emocionante com o ator Luiz Bertazzo, ambos de Mato Grosso do Sul. Eles compartilharam um momento de orgulho e emoção após a estreia do filme no Festival de Veneza, sentindo-se felizes por levar o nome do estado para o cenário internacional.
Admiro demais o trabalho do Luiz, temos amigos em comum de Campo Grande e do meio do audiovisual. Muito emocionante dividir esse momento com um conterrâneo. Nos emocionamos muito, principalmente depois da estreia em Veneza, nos orgulhamos de levar o nome do nosso estado para tão longe, fazendo algo tão importante e bonito para o cinema nacional.
E sobre o Oscar, Leticia destaca que enxerga como uma grande vitória já o sucesso de público de Ainda Estou Aqui e a reflexão que o filme gerou sobre a ditadura militar no Brasil.
“Claro, que o Oscar é almejado, mas sinto também que o filme já venceu, levou 2 milhões de pessoas ao cinema, trouxe reflexão sobre a ditadura, Fernanda Torres já está consagrada. Mas sim, o prêmio seria a cereja do bolo”, finaliza.
Por Amanda Ferreira
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