Único representante do Estado, Anderson Bosh é reconhecido nacionalmente com Prêmio Brasil Criativo e afirma: “não fiz nada sozinho”
O multiartista Anderson Bosh venceu, na última terça-feira (24), em cerimônia realizada em São Paulo (SP), o Prêmio Brasil Criativo, após competir com artistas, coletivos e iniciativas de todo o Brasil. O multiartista foi indicado pelo ex-titular da FCMS (Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul) Eduardo Romero.
Anderson nasceu em família tradicional, filho e neto de costureiras, sendo o quinto de seis filhos homens da família Bernardes Sanches, e ainda adolescente passou a desenhar as roupas para vestir a família em festas e eventos, assim como suas próprias roupas, confeccionadas pela sua mãe, com quem, posteriormente, aprendeu a costurar. Aos poucos, o jovem foi se embrenhando pelo mundo das artes e ampliando sua faceta criativa, passando a se destacar nas mais variadas áreas. Assim, o prêmio é apenas uma coroação de uma trajetória de lutas e esforços.
O artista explica que o Prêmio Brasil Criativo tem dois grandes blocos de premiação. No primeiro, a pessoa pode se candidatar à competição e, no segundo, a pessoa é indicada por terceiros (entidades e órgãos governamentais) à competição. “Eu fui indicado por MS, pelo então secretário estadual de Cultura, [Eduardo] Romero, que fazia parte desse Fórum Nacional de Secretários de Cultura. Meu nome e meu trabalho em geral foram analisados pelo Fórum, em tudo.”
E a multiarte de Bosh foi levada em consideração, já que ele atua em várias frentes. “Eu não trabalho só na moda e no design. Eu trabalho também na literatura, sou autor, escritor, trabalho nas artes visuais, com linguagens contemporâneas; trabalho também no teatro; no circo; na dança; no cinema. Sou um artista de múltipla linguagem, acho que isso chamou atenção da galera e curadora, e eu fui convidado para mandar o meu material para análise e eu fiz, montei um material da minha trajetória, mandei e os curadores me elegeram finalista.” Anderson também participou do filme “Cidade de Deus”, onde fez os efeitos especiais e a maquiagem.
Nacional
O Prêmio Brasil Criativo é nacional, são feitas seletivas em todas as regiões e, ao todo, são apenas três finalistas por categoria, que são três: Territórios Criativos, Lideranças Criativas e Comunidades Criativas; de onde apenas um se sagrará vencedor, como Anderson, na categoria Lideranças Criativas.
“Foram três finalistas no Brasil inteiro, dos 26 estados. Por algum motivo eles acreditaram mais na minha trajetória e nas minhas propostas. Então, não tem um trabalho com o qual eu recebi esse prêmio, mas existe uma demanda que tinha em MS, que foi o norte para tudo, e quando veio a pandemia, e a gente estava naquela situação horrível, os artistas foram os primeiros a terem de parar de trabalhar. Todo mundo estava sofrendo muito, e tínhamos diversos amigos que não tinham nem o que comer, sem renda, a situação estava bem difícil”, relembra o artista.
E ele continua o relato, recordando como foi que chegaram a uma solução para toda aquela dificuldade. “E aí começaram a ter aqueles auxílios emergenciais do governo federal, do estadual, do municipal, e depois veio a Lei Aldir Blanc, para poder contribuir com uma renda a partir do trabalho dos artistas. Nesse tempo eu fiquei muito angustiado, muito inquieto com os trabalhadores, os artistas do design, da moda, que estavam sem saída, e eu fiz uma proposta de a gente criar um movimento de moda e design em MS e, a partir desse movimento, lançar ideias, políticas públicas, pensar projetos, ações em que a gente remediasse o que estava acontecendo durante a pandemia, mas que fortalecesse a categoria e fosse, também, um mecanismo de ação da categoria.”
Como consequência – para além do prêmio – pode-se dizer que deu certo, segundo comenta Anderson. “Contando dois anos de pandemia mais o ano passado, deu muito certo. A gente conseguiu levar a moda e o design do Estado para dentro da FCMS (Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul), para dentro da Sectur (Secretaria de Cultura e Turismo de Campo Grande), conseguindo ter uma cadeira de moda da qual eu faço parte – sou conselheiro de moda de Campo Grande – e discutimos essas ações todas dentro dessas dessas duas instâncias de poder.”
Indicação
A indicação de Bosh para o prêmio foi realizada quando Eduardo Romero ainda era titular da FCMS, em uma articulação feita entre os estados do Centro-Oeste e seus gestores de cultura. “É evidente que nós temos muitas muitas pessoas fazendo a diferença, mostrando que Mato Grosso do Sul não é só eucalipto, só boi, em especial na parte da cultura, economia criativa, de forma em geral, mostrando que a gente tem vencido barreiras e superados desafios de produção e de circulação de produtos culturais, e a indicação do Anderson se deu por isso”, explica.
Romero considera que a relevância da atuação de Anderson o levou ao prêmio. “É uma figura emblemática, inspiradora, que vem atuando no campo das artes cênicas, mas mais especificamente, nos últimos anos, na área da moda. Ajudou a criar o Coletivo de Moda, tem discutido as políticas públicas dos editais, tem sido uma figura muito presente e tem produzido muito,organizando tanto a sua produção, quanto a de várias pessoas do campo da moda local, por meio de desfiles coletivos, de feiras coletivas e tem desbravado esse espaço que, até então, parecia distante para Mato Grosso do Sul.”
“Fiquei muito feliz em ver que ele foi selecionado e premiado, porque a premiação do Anderson é a premiação de MS. É a gente tirar o nosso Estado da categoria de um estado periférico para uma categoria de olhares, central, de mostrar que a gente também tem coisas bacanas acontecendo em todos os campos da cultura, da arte, em especial da moda, agora mais recentemente, mostrando que a gente tem condições de competir com todos os outros estados do Brasil, e tem e de mostrar essa produção, porque é de alto nível, é autoral, é qualificada e está nos mesmos princípios e qualidades que o restante do Brasil. Então é um orgulho muito grande”, finaliza Romero.
Por Méri Oliveira – Jornal O Estado do MS
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