Osunna Braza leva projeto com harpas às escolas

Foto: Daniel Sampaio
Foto: Daniel Sampaio

Músico Osunna Braza lança álbum autoral e leva projeto com harpas a escolas públicas de Jardim, valorizando a cultura e identidade de Mato Grosso do Sul

 

Quem nunca se encantou com o som delicado e celestial de uma harpa? Considerado um instrumento angelical, a harpa tem sido associada a figuras divinas, sendo mencionada na Bíblia como o instrumento dos anjos, simbolizando a conexão entre o céu e a terra. Além de seu simbolismo espiritual, a harpa também ocupa um lugar importante em diversas culturas ao redor do mundo.

Na Birmânia, é conhecida como “harpa burma” ou “saung gauk”, sendo considerada a voz de Buda. No Paraguai, a harpa paraguaia é um símbolo nacional, com forte presença na cultura local, sendo um dos instrumentos mais expressivos do país.

É com esse simbolismo profundo que o músico Osunna Braza acaba de lançar seu álbum autoral ‘Una Aza’ e está realizando o projeto “UNA AZA: Harpas e naturezas nas escolas” que levará shows e vivências artísticas com harpas às escolas públicas de ensino médio em Jardim. Com quatro apresentações musicais e quatro vivências, a iniciativa tem como objetivo divulgar o instrumento, incentivar o aprendizado da harpa e valorizar a cultura e identidade de Mato Grosso do Sul. O artista busca dar visibilidade a esse trabalho que une música e educação cultural na região.

Foto: Daniel Sampaio

Sobre o projeto

Criado pelo musicista Osunna Braza, o projeto vai além de simples apresentações musicais, com a proposta de provocar reflexões sobre questões ambientais e culturais por meio de suas letras autorais, que retratam a realidade de Mato Grosso do Sul. Em entrevista ao Jornal O Estado, Osunna explicou sobre “Una Aza” nascer da falta de acesso e conhecimento sobre a harpa, especialmente em Jardim e região, onde muitas pessoas não sabem nem o nome do instrumento.

“Como músico, levo a harpa a lugares inusitados, como praças e escolas, e criei o projeto para compartilhar minhas composições, abordando temas como identidade, meio ambiente e as relações entre o ser humano e a natureza, com o objetivo de levar essa reflexão para os alunos do ensino médio”.

UNA AZA é o nome dado pelo Osunna à harpa, um apelido que simboliza a paz da fronteira e remete ao desenho de uma asa d’água. Essa filosofia serve como base para a vivência artística e o show musical do projeto, conferindo à harpa uma identidade única, que busca transmitir mensagens de tranquilidade e harmonia através da música. A escolha do nome reflete a conexão profunda do músico com a natureza e com as culturas da região.

Vivências nas Escolas

As vivências artísticas nas escolas serão dinâmicas e interativas, com um jogo sonoro envolvendo três harpas que acontece antes do show musical. Os alunos serão convidados a participar, reproduzindo gestos musicais que representam os quatro elementos da natureza, água, terra, fogo e ar, além de sons de pássaros e do trem, este último simbolizando a ação humana e considerado o mais desafiador.

Ao final da atividade, três alunos são selecionados para assumir papéis centrais, cada um responsável por dois gestos sonoros. Juntos, eles executam ao vivo a trilha sonora de uma história narrada, em uma experiência coletiva que une som, corpo e imaginação.

“Procuro destacar os aspectos históricos de Mato Grosso do Sul, especialmente os relacionados à Retirada da Laguna, episódio marcante da Guerra do Paraguai que ainda hoje ressoa nas memórias das regiões de Jardim e Guia Lopes da Laguna. Outro ponto central é a consciência ambiental e humana, abordando temas como o genocídio indígena, a extinção de espécies e a destruição de seus habitats naturais. Também valorizo a herança musical sul-mato-grossense, destacando a música regional de fronteira, com obras de artistas como Helena Meirelles, Geraldo Espíndola e Paulo Simões”, destaca Ossuna.

Foto: Camila Vilar

“Una Aza”

O formato do instrumento, que remete a uma asa, somado ao seu papel cultural nas regiões de fronteira marcadas por conflitos, como entre Brasil e Paraguai, inspira a ideia de uma harpa que transcende divisões geográficas. A “una aza” representa uma asa d’água que une culturas, evocando tempos de paz, diálogo e amizade através da arte.

A metáfora da harpa como uma “asa d’água que aflora da fronteira” nasce da profunda relação do instrumento com a natureza e os povos originários da América Latina, especialmente com a cultura guarani no Paraguai. Em guarani paraguaio, a harpa é chamada de “Ysapu”, que significa “som de água corrente”, reforçando sua conexão simbólica com o elemento água.

“Mostrar instrumentos tradicionais como a harpa no contexto da música contemporânea é essencial para que eles ganhem novas histórias e possibilidades sonoras. A ideia é romper com a visão cristalizada de que a harpa pertence apenas ao repertório clássico ou a um público mais velho, aproximando o instrumento das novas gerações e inserindo-o em contextos musicais mais diversos e atuais”, explica Ossuna.

Ao destacar a harpa cromática como um instrumento versátil, acessível e encantador, o projeto busca plantar uma semente para a formação de novos harpistas no Brasil. A proposta é mostrar que qualquer pessoa interessada pode aprender e tocar harpa, renovando seu lugar na cultura musical e garantindo sua preservação e reinvenção no cenário artístico contemporâneo.

“Tenho planos de levar o projeto para outras cidades da região, por meio de novos editais que venham a surgir. Após esta primeira etapa com as vivências nas escolas, pretendo continuar com os shows do meu mais recente trabalho, “Una Aza”, em teatros de Campo Grande, Dourados, Ponta Porã e outras localidades”, finaliza Ossuna.

O projeto “Una Aza: Harpas e Naturezas nas Escolas” foi contemplado pela Política Nacional Aldir Blanc de Jardim/MS e será desenvolvido em quatro instituições estaduais: as escolas Coronel Juvêncio, Coronel Rufino, Antônio Pinto Pereira e o IFMS (Instituto Federal de Mato Grosso do Sul) Jardim.Recentemente, a artista também recebeu o título de “Mestre da Cultura” em Jardim/MS, reconhecimento concedido pela PNAB em homenagem à sua trajetória e contribuição nas artes locais.

Sobre Ossuna

Ossuna Braza é harpista, compositor e professor de arte de Jardim/MS, autor do projeto “Una Aza”, que vê a harpa como uma asa d’água da fronteira. Sua música une influências como polca rock, MPB e jazz brasileiro, valorizando a cultura de Mato Grosso do Sul com versões de artistas locais. Descobriu a harpa ainda criança e retomou o instrumento durante a pandemia, aprofundando seus estudos na UFMS e focando hoje na carreira musical com harpa, voz e composições autorais.

 

Por Amanda Ferreira

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