O Rio Te Chama: Reflexões culturais e sociais aos palcos de MS com apresentações gratuitas

Foto: Carlos Eduardo
Foto: Carlos Eduardo

Espetáculo leva reflexões culturais e sociais aos palcos de MS com apresentações gratuitas em Rio Brilhante, Maracaju, Sidrolândia, Campo Grande e Jaraguari ainda em março

A arte está em constante movimento e chega a novos públicos a cada dia. Desde a última segunda-feira (17), o espetáculo “O Rio te Chama” entrou em circulação e promete encantar espectadores em diferentes cidades de Mato Grosso do Sul. Com apresentações gratuitas, a peça segue em cartaz até o dia 24 de março, passando pelos municípios de Itaporã, Rio Brilhante, Maracaju, Sidrolândia, Campo Grande e Jaraguari.

Estreado em 2023 pelo grupo de teatro Itan, o espetáculo traz à cena a lenda do Cabeça de Cuia, um dos mitos mais conhecidos do Piauí, que conta a história de um barquinho solo que navega para se conectar com o público e suas questões, explorando diferentes camadas da realidade.

O espetáculo é resultado de uma pesquisa que utiliza referências culturais para construir uma narrativa que vai além da lenda, abordando temas como desigualdade social, racismo, afrodescendência, religiões de matriz africana, crenças, costumes e identidade social.

A peça combina regionalidade e ritualística para resgatar a cultura popular e dar voz a narrativas periféricas e ancestrais. Com 35 minutos de duração, o espetáculo cria uma experiência imersiva que conecta o público à identidade nordestina. A montagem é resultado de uma pesquisa que une dramaturgia e encenação sob um olhar decolonial, trazendo novas formas de representar e valorizar as tradições populares.

Construção do Espetáculo

O projeto é composto inteiramente por artistas negros, com dramaturgia de Nega Carolina e direção de Guilherme Godoy. O elenco conta com Nega Carolina e Natalie Melody, que também assina a musicalidade. A produção geral é de Nega Carolina e Guilherme Godoy, com Nega Carolina na produção executiva. A logística fica sob a responsabilidade de Raique Moura, com Geovanna Souza como assistente de produção.

Em entrevista ao Jornal O Estado, Nega Carolina explicou que a escolha da lenda do Cabeça de Cuia para o espetáculo tem uma forte conexão pessoal com suas raízes, pois a história é uma das mais conhecidas no Piauí, seu estado natal. A lenda, que retrata a vida de uma família ribeirinha em extrema pobreza, serve como pano de fundo para explorar questões profundas como desigualdade social e racial, permitindo que a peça dialogue com temas contemporâneos e universais.

“Acredito que a arte precisa estar ligada à ideia de modificação de algo, e a discussão política é de extrema importância. Entendo o teatro como uma forma de mediar determinados temas sem ser massante, promovendo, assim, conexões. Minha presença no palco, enquanto porta-voz de algo, já se torna política, conforme os meus marcadores sociais. É possível promover identificação, conexão e aproximação com a sociedade”, afirma Nega para a reportagem.

A construção dramatúrgica da peça foi profundamente influenciada por uma perspectiva decolonial, conforme explica Nega Caroline. O processo de criação envolveu a pesquisa e o resgate de referências culturais afro-brasileiras, a partir do trabalho do ITAN, um grupo de teatro majoritariamente negro que investiga a decolonialidade e busca compreender suas próprias raízes.

“Atrelamos a lenda que representa o mito e dentre os elementos da história. Pensamos no rio como elo para pensar o ritual, linkando o mesmo com os orixás femininos Yemanjá e Oxum no Candomblé e a corrente das águas na Umbanda. O processo durou um ano e contou com pesquisa de campo, entrevistas, estudos e etc”, conta.

Arte como Expressão

A peça nasceu em Mato Grosso do Sul, a partir de uma pesquisa acadêmica, mas é formada por um grupo cujos integrantes vêm de diferentes regiões do Brasil, o que gera uma troca intensa de culturas. As questões raciais são muito evidentes no estado, especialmente quando se considera os povos indígenas da região.

“Historicamente as mulheres negras estão a serviço de uma sociedade patriarcal, não podem escrever e nem contar suas histórias. No contexto desta peça e do próprio grupo, as mulheres são maioria. Isso representa mudança, ainda que pequena, é uma mudança e toda mudança é significativa”.

“O Rio te Chama” propõe um entrelaçamento de temas como religiosidade, crenças e costumes, explorando as esferas religiosas de matrizes africanas e indígenas de forma simbólica. A peça respeita o sagrado e entende os limites dessa representação, trazendo para o palco elementos como o ritual do banho de mão, os instrumentos de percussão, os pontos cantados e a oralidade.

“Todos esses elementos já fazem com que o público faça questionamentos internos e se houver momentos oportunos, esses questionamentos entram em discussão. Geralmente no fim da peça abrimos para um bate-papo, eu Nega, enquanto uma mulher macumbeira, exijo respeito. Os terreiros estão para além de um cunho só religioso, são a materialização da resistência e preservação cultural”, argumenta Nega.

Durante a montagem da agenda de apresentações, o grupo enfrentou algumas dificuldades devido aos temas abordados pela peça. No entanto, a expectativa é de que o impacto seja positivo, e todos estão ansiosos para vivenciar o processo e a recepção do público.

“Rio que Chama é uma peça que busca se conectar com seu público, sensibilizá-lo, e de modo geral é um trabalho lúdico. Esperamos que as pessoas tenham um misto entre reflexão e diversão”, finaliza Nega.

Serviço

As próximas apresentações ocorrerão hoje, 18 de março, em Rio Brilhante, às 8h, 10h e 14h, na Escola Estadual Profª Lígia Terezinha Martins, localizada na Rua Presidente Vargas, 801. Em Maracaju, as apresentações serão no dia 19 de março, às 19h30, e no dia 20 de março, às 9h, ambas na UEMS, localizada na Av. João Pedro Fernandes, 2101.

As datas para Sidrolândia são 21 de março, para Campo Grande 22 de março e para Jaraguari 24 de março. Os locais e horários serão anunciados em breve. Fique de olho no Instagram do grupo ITAN (@itan_grupoteatro) para atualizações.

 

Fotos: Carlos Eduardo

Amanda Ferreira

 

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