O Reino Mágico dos Orixás: Escritora de MS disputa prêmio literário nacional

Foto: : Acervo Sarah Muricy
Foto: : Acervo Sarah Muricy

Escritora sul-mato-grossense disputa prêmio nacional com obra que valoriza a cultura afro-brasileira para crianças e jovens

 

Mato Grosso do Sul ganha destaque no cenário literário nacional neste mês de junho com a escritora Sarah Muricy, autora do livro O Reino Mágico dos Orixás, que está concorrendo ao Prêmio Erê Dendê. A premiação é uma importante iniciativa que valoriza a literatura afrocentrada voltada ao público infantojuvenil, reconhecendo obras que dialogam com a ancestralidade, a diversidade e o fortalecimento das identidades negras desde a infância.

O prêmio é dividido em duas etapas: a avaliação de um júri especializado e a votação popular. Essa segunda fase é essencial para garantir que o público também tenha voz na escolha das obras que representam a cultura afro-brasileira e contribuem para ampliar a representatividade no universo literário. O livro de Sarah Muricy se destaca por apresentar elementos da mitologia iorubá em uma narrativa lúdica, educativa e profundamente conectada com a valorização da cultura afrodescendente.

Natural de Campo Grande, Sarah representa o Mato Grosso do Sul na disputa, que acontece de forma online e está aberta ao público até o dia 6 de julho. A participação no Prêmio Erê Dendê reforça a importância da produção literária sul-mato-grossense no panorama nacional, especialmente em iniciativas que promovem a inclusão, a pluralidade de vozes e a educação antirracista desde os primeiros anos de formação leitora.

Foto: Acervo Sarah Muricy

Reconhecimento

Para a reportagem, Sarah Muricy conta que conheceu o Prêmio Erê Dendê por meio de colegas do meio literário, que a incentivaram a participar por conta da temática afrocentrada presente em O Reino Mágico dos Orixás.

Ela destaca que o processo de submissão foi criterioso, exigindo o envio completo do miolo do livro, registros de leitura crítica, repercussão na imprensa e documentos que comprovassem sua ligação com a comunidade de terreiro, um dos critérios que agregam pontuação à candidatura. O prêmio é de abrangência nacional e tem o apoio da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB).

“Ter um livro premiado realmente te dá respaldo, tanto para participar de novos projetos quanto para fortalecer seu portfólio e concorrer em outros editais. É algo que ajuda a se firmar como produtor cultural na área literária. Por isso, receber um prêmio é muito significativo e, nesse caso, ainda mais especial por ser um prêmio voltado exclusivamente para a literatura brasileira infantojuvenil”, conta a autora.

Protagonismo Afro

O livro Reino Mágico dos Orixás surgiu inicialmente como um conto, mas a partir dele decidiu expandir a narrativa para uma obra maior, o que facilitou o desenvolvimento. O processo de escrita começou no início de 2021 e foi finalizado em dezembro do mesmo ano, quando ela submeteu a primeira versão para um edital.

A publicação do livro foi por meio de financiamento do FIMIC, edital da prefeitura de Campo Grande que cobriu todos os custos de produção. Por decisão própria e estratégica, Sarah optou por não vincular o título a um selo editorial, assumindo a distribuição de forma independente. O livro vem sendo vendido principalmente em feiras culturais da capital sul-mato-grossense, onde a autora prioriza o contato direto com seus leitores. Além disso, ela tem investido em divulgação nas redes sociais e estabeleceu pontos de distribuição em cidades como Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador.

“O meu livro conta a história do personagem principal é uma criança negra, então, as crianças negras já conseguem se ver representadas ali. Mas vai além disso: o personagem é uma criança negra de terreiro, algo que quase não vemos na literatura infantojuvenil. São raras as histórias em que crianças de axé falam abertamente sobre sua vivência, sem disfarces”.

Sarah explica que O Reino Mágico dos Orixás não trata os orixás como elementos de fantasia, mas sim com respeito e fidelidade às tradições. A obra narra a jornada de um menino de terreiro, médium de umbanda, que conhece os orixás a partir de sua vivência espiritual. “Os elementos religiosos presentes na história não são ficcionais; todos estão em conformidade tanto com a mitologia iorubá quanto com os fundamentos da umbanda”, destaca a autora. Para ela, promover essa representatividade é fundamental não apenas para a formação de crianças negras e de terreiro, mas também para o fortalecimento das pautas antirracistas na literatura e na educação.

Leitura: A autora, durante leitura do livro para adolescentes em Escola da Rede Estadual de MS – Foto: Acervo Sarah Muricy

Literatura do MS

Para a atuora, o Mato Grosso do Sul, por ser um estado jovem, oferece a autores locais a oportunidade de disputar espaço no cenário nacional em condições de igualdade. Ela reconhece a existência de escritores sul-mato-grossenses já consolidados e premiados, que atuam em oficinas e circuitos literários pelo Brasil, servindo de inspiração para novos nomes. “É preciso coragem para se colocar, mas também é possível, como aconteceu comigo, ser reconhecida em uma premiação de alcance nacional”, afirma a autora, destacando o potencial criativo da região.

“Ser finalista de um prêmio literário transformou minha percepção sobre o meu trabalho, especialmente no que diz respeito à minha identidade como artista. Muitos escritores têm dificuldade em se reconhecer como artistas, e a validação vinda de uma premiação ajuda a reafirmar esse lugar. O reconhecimento do público e a chance de ter meu livro avaliado também por um júri técnico, responsável por nove das dez categorias do Prêmio Erê Dendê reforçam,o valor da minha produção”, destaca.

Radicada em Campo Grande desde 2008, embora baiana de origem, Sarah ressalta que sua escrita e vivências de matriz africana são profundamente enraizadas na cultura sul-mato-grossense. “Esse livro é resultado do trabalho de uma cadeia de profissionais locais, da ilustração à revisão, e conquistar esse prêmio seria uma conquista coletiva para o nosso Estado”, afirma. A votação é simples, com cadastro único por CPF, e segue aberta até 6 de julho.

Como votar?

votação é simples e aberta ao público até o dia 6 de julho. Para participar, basta acessar o site www.premioeredende.com.br, clicar na aba “Votação Popular”, digitar O Reino Mágico dos Orixás no campo de busca entre os finalistas, clicar no ícone de coração ao lado do título e preencher os dados solicitados (nome e CPF). Depois, é só clicar em “Salvar e Finalizar”. A autora convida todos que se sentirem tocados pela proposta do projeto a ajudar a levar esse reconhecimento nacional para o Mato Grosso do Sul.

 

Por Amanda Ferreira

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