O Pantanal de José Medeiros

(Fotos: Assessoria)
(Fotos: Assessoria)

         Com projeto “Pantanal + 10”, fotojornalista quer mostrar mudanças no bioma durante dez anos, a situação dos pantaneiros e os impactos ambientais causados pela expansão agrícola, pecuária e garimpo

Campo-grandense de nascença e radicado em Cuiabá, Mato Grosso, o fotojornalista José Medeiros registra, documenta e acompanha as histórias do Pantanal, retratando o homem pantaneiro e sua cultura singular, principalmente da região de Poconé. O fotojornalista agora idealiza o projeto “Pantanal +10”, que visa documentar as transformações do Pantanal ao longo de uma década, de 2020 a 2030, e as consequências dessas mudanças tanto para a conservação ambiental quanto para a existência do homem pantaneiro.

A maior característica do trabalho de Medeiros é o olhar antropológico, a impressão visual sobre a compreensão das raízes naturais e humanas brasileiras. “Eu me dedico a documentação do homem no pantanal, em meio a natureza”, disse em entrevista ao jornal O Estado.

Em 2014, o fotojornalista lançou seu primeiro livro de fotografias, “O Pantanal de José Medeiros”. Publicado em três idiomas (português, inglês e espanhol), e 240 páginas, a obra é um compilado de 11 anos de trabalho, mostrando a cultura da lida com o gado, festejos tradicionais, como as competições da Cavalhada de Poconé e a Dança dos Mascarados, crenças e costumes do homem do pantanal.

“A ideia é trazer essas histórias, trazer um olhar mais apurado para o homem, das pessoas que vivem ali e sabem como é o Pantanal, como ele se comporta. O homem pantaneiro para algumas pessoas é insignificante. As pessoas acham que o pantanal é apenas onça, tuiuiú, e esquece essa figura. As pessoas não param para conversar com um peão de comitiva, mas ele tem uma cultura, um hábito, uma história por trás desse trabalho. É um livro dedicado a reza do homem, as costumes, porque se não documenta, isso fica no esquecimento. São histórias incríveis. O pantanal precisa do homem”, disse Medeiros.

Seu mais novo projeto é intitulado como “Pantanal +10”, que busca retratar as transformações do pantanal ao longo de uma década, criando assim um acervo de fotos e vídeos demonstrando as mudanças do bioma para as futuras gerações. A ideia começou durante a pandemia de covid-19, onde Medeiros quis retratar como o homem pantaneiro estava lidando com as mudanças do ‘novo normal’, com as normas sanitárias e uma doença que ainda não tinha perspectiva de cura. Entretanto, Medeiros se deparou com o maior incêndio dos últimos anos no pantanal, e foi a partir desse momento que se dedicou a registrar as transformações do bioma ao longo prazo. Em 2022 apresentou o resultado do primeiro biênio, com o lançamento de exposição e livro “Céu e inferno em Terras Alagadas” e o Documentário curta-metragem Fogo e Fé, trabalho documental sobre os impactos climáticos no Pantanal durante dez anos, de 2020 a 2030.

“Eu fui um dos primeiros a registrar os incêndios do pantanal. Quando começou a pandemia, em vez de ficar em casa, eu fui para o pantanal, documentar como o homem do pantanal estava lidando com a doença. Era para ser uma exposição fotográfica, mas aí tive a ideia de fazer o trabalho durante 10 anos: a cada dois anos lanço um filme, um livro, e uma exposição fotográfica, que é o que estou fazendo agora nesse segundo ano, sobre as águas do pantanal. Fotografar aquilo [os incêndios] foi surreal, eu nunca tinha visto algo parecido”, explicou o fotógrafo.

“É uma operação de guerra, que precisa de muita logística. Primeiro, é preciso fazer contato com as pessoas, elas precisam conhecer a gente primeiro. Não é fácil, não é barato, é preciso entender que não é possível documentar o pantanal em apenas cinco dias. Eu não tenho uma estrutura, preciso pernoitar nas fazendas, nas comunidades, e as pessoas lá são muito hospitaleiras”, complementa.

O projeto inclui a produção de livros, filmes e exposições, e está dividido em 5 fases temporais. Começou com “Céu e Inferno em Terras Alagadas”, que detalha os incêndios de 2020. Em sua segunda fase “Águas do Pantanal”(2023-2024), concentra-se na dinâmica hídrica do Pantanal, para ilustrar como as atividades humanas afetam as águas e as comunidades ribeirinhas. Na terceira fase (2025 – 2027) pretende-se registrar As Origens do Pantanal e do povo pantaneiro. Na quarta fase, a diversidade dos Pantanais e suas peculiaridades em territórios fronteiriços.

Ao final, em 2030, espera-se compilar uma extensa coleção de materiais visuais e textuais que documentem as condições e as transformações vivenciadas pelos pantaneiros e da maior planície alagável do planeta.

Apoio

Em apoio à pecuária sustentável, o fotojornalista se uniu com o presidente da ABPO (Associação Pantaneira de Pecuária Orgânica e Sustentável) para apresentar o projeto “Pantanal +10”. A Associação tem trabalhado para garantir viabilidade econômica para a pecuária pantaneira tradicional, sua cultura e tradição na lida com o gado, e atualmente estão em busca de conseguir o Selo de Indicação de Procedência, ou Selo de Origem, para a carne do Pantanal, no INPI- Instituto Nacional de Propriedade Industrial. O selo já foi garantido para produtos como o Queijo Canastra, Chocolate de Gramado e a nossa Linguiça de Maracaju. O objetivo é agregar valor à Carne do Pantanal, produto que sai de um bioma com rica diversidade.

“A história contada por nós, pelo homem pantaneiro. As tradições pantaneiras estão se modificando muito rápido, então é importantíssimo fazer esse resgate, essa documentação, porque isso vai servir para mostrar que é possível viver dessa forma, no futuro também. São anos de mistura de conhecimento e de cultura, que formou uma cultura própria de manejo e de lida no pantanal”, disse o presidente da Associação, Eduardo Santa Lucci Cruzetta.

Por Carolina Rampi

 

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