Em especial ao Dia dos Namorados, o jornal O Estado mostra como três casais que vivem da arte equilibram rotina, criação e apoio mútuo na vida a dois
Neste 12 de junho, Dia dos Namorados, o amor ganha um palco especial. Afinal, quem ama um artista sabe: a rotina pode ser uma verdadeira performance. Ensaio em um sábado à noite, inspiração que surge às três da manhã, viagens inesperadas, processos criativos que exigem silêncio ou entrega total. Ter um parceiro ou parceira envolvido com arte transforma o cotidiano em algo singular, onde os tempos, os compromissos e as emoções seguem um ritmo próprio e nem sempre previsível.
Para celebrar o Dia dos Namorados, o jornal O Estado acompanhou a rotina de três casais que vivem uma dinâmica particular: Mar Costa e Renato Alves (artista visual e estudante de Ciências da Computação); Diego Amaral e Taísa Buffulin (ator, dublador e escritor, e advogada); e Nathalia Albuquerque e Alexandre Lacôrte, o Deco (ela DJ, ele baterista).
Em cada casal, um dos parceiros vive intensamente a arte, enquanto o outro atua fora desse universo. Entre ritmos diferentes, ausências criativas e reencontros afetivos, surgem histórias de amor marcadas por adaptação, cumplicidade e escuta,relações que se moldam como obras em processo, dançando conforme a música, o roteiro, o espetáculo ou a tela em branco.
Da saúde para o amor
Foi em setembro de 2022 que os caminhos de Diego Amaral e Taísa Buffulin se cruzaram, quando ela machucou o pé e ele, fisioterapeuta e acadêmico de História na UFMS, foi o responsável por sua reabilitação. O que começou com cuidados profissionais logo evoluiu para algo mais: após a alta, ainda naquele mesmo ano, Diego a pediu em namoro. Natural de Campo Grande, Diego é ator, dublador e escritor que encontrou nos palcos da escola de teatro Adote o espaço ideal para dar voz aos seus sonhos. Com passagens por peças como O Beijo no Asfalto, Boca de Ouro e um musical em homenagem a Ney Matogrosso, além de experiências no cinema e no stand-up, ele une sua paixão pela arte e pela História em projetos criativos que buscam valorizar a memória e a cultura local.
Taísa, se viu diante de um mundo novo, com finais de semana tomados por ensaios e uma rotina cheia de improvisos e intensidade emocional. “No começo foi difícil, ele fazia aulas sábado e domingo, logo depois começou a ensaiar ‘O Beijo no Asfalto’. A gente quase não se via”, conta a advogada para o Jornal O Estado.
Com o tempo, vieram os ajustes e também a admiração. Taísa está presente em todas as estreias e apresentações, e acompanha Diego com orgulho e emoção. “O que mais gosto é ver o quanto ele fica feliz no palco. A arte é uma terapia pra ele. Ele se solta, brilha”, conta. Seu trabalho favorito? Uma esquete cômica e cheia de história chamada No Sul do Mato Grosso, premiada em um festival da escola Adote. Já Diego, mais reservado em seu processo criativo, gosta de surpreender a namorada com a obra pronta: “Não mostro quase nada do que escrevo, gosto do impacto de ela ver pela primeira vez”.
Quando o assunto é parceria, Diego e Taísa são unânimes: tudo começa com diálogo. “Relacionamento é troca. É preciso paciência, escuta e disposição dos dois lados”, afirma Taísa. Para Diego, amar um artista também é compreender a importância da arte na vida do outro.“Saber que ela está na plateia é tão especial quanto estar no palco. O apoio de quem a gente ama é o combustível que nos move.É preciso apoiar, mas acima de tudo conversar, alinhar expectativas. Um relacionamento só funciona quando os dois estão dispostos a caminhar na mesma direção”.
Dos traços a namorados
Mar e Renato se conheceram no fim de 2019, dentro do movimento estudantil da UFMS, ela, do centro acadêmico de Artes Visuais; ele, de Ciência da Computação. O que começou como amizade se transformou em parceria de vida, fortalecida pelo respeito à individualidade e pelo apoio mútuo em seus mundos tão diferentes. Mar é artista visual e, como define, vive sua arte com rigor e entrega: “Todo tempo livre é voltado para a produção. Estou sempre no estúdio, às vezes no silêncio, às vezes com música alta, observando imagens, livros, ideias”. Renato, que desde o início entendeu o peso e o valor desse ritmo intenso, sempre esteve por perto, respeitando os silêncios, os rompantes criativos, os pedidos súbitos de câmera emprestada ou papel na madrugada. “A maior demonstração de apoio é ele estar junto todos os dias, entendendo quando preciso de espaço e também quando preciso de companhia”, diz Mar.
A relação entre os dois é cheia de trocas afetivas e criativas. Muitas obras de Mar surgiram a partir de conversas com Renato, de filmes assistidos juntos ou de referências que ele traz. Ele também está presente, literalmente, nas criações: posou para desenhos, virou personagem de cadernos de retratos e tem obras que carregam um valor afetivo para os dois. “Tem um em que estou tocando guitarra, outro de boné, e ela destacou o bordado que eu fiz. Amo que ela transformou esses momentos em arte”, conta Renato. Além de inspiração, ele também participa da prática: ajuda em montagens de exposições, transportes e até nos desafios técnicos. “Quando é uma exposição maior, ele sempre me ajuda. Vai me buscar, me acompanha, carrega coisas. É apoio emocional e prático”, diz Mar.
A convivência fez Renato enxergar a arte de outra forma. Filho de músico, ele já cresceu com expressão artística por perto, mas com Mar descobriu um novo olhar: “Ela vive a arte o tempo todo. Às vezes para no meio da rua pra me mostrar uma rachadura ou uma sombra. Pode parecer maluquice, mas eu amo isso”. O que os une, além do amor, é a capacidade de respeitar o tempo e o olhar do outro. Para Mar, quem se relaciona com um artista precisa entender que arte e vida se misturam: “Apoie, divulgue, pendure o trabalho na parede. Mas lembre-se que o artista e a arte são coisas diferentes. Amar um artista é enxergar além da obra, é ver quem está por trás dela”.

Mar Cozta e Renato Alves – Foto: Arquivo Pessoal de Mar Costa (4)
Som em sentimento

Nathalia Albuquerque e Alexandre Lacôrte – Foto: redes sociais de Nathalia Albuquerque
Nathalia Albuquerque e Alexandre Lacôrte, o Deco, são exemplo de que a arte também une amores. Juntos há quase 12 anos, os dois se conheceram num show da NAIP, banda da qual Deco é baterista há 27 anos e desde então compartilham a vida, os palcos e os pets: os cães Bumbo e Iron e os gatos Vinil, Rock, Violão e Violino. “A gente se ajuda muito. Mesmo sendo de universos diferentes, ele do rock, eu da discotecagem, falamos a mesma língua”, conta Nathalia, que iniciou a carreira como DJ no mesmo ano em que conheceu o parceiro. A conexão vai além da afinidade musical. “Ele sempre me empurrou para frente, dizia ‘vai, mete as caras’, quando eu duvidava de mim”, completa.
O apoio entre eles é visível e mútuo, mesmo com agendas que nem sempre coincidem. Deco, que brinca com o desafio de viver com um baterista em casa, valoriza a parceria. “Só o fato dela não se importar que eu estude bateria a qualquer hora já é um apoio gigante”, diz, entre risos. A vida noturna, os eventos e os ensaios fazem parte da rotina, mas o casal encontrou equilíbrio. “Adoramos ficar em casa com nossos pets. É o nosso silêncio favorito”, resume o músico. Mesmo em momentos separados pelo trabalho, eles se fazem presentes. “Já vi a Nath sair do set dela correndo só pra chegar no final do nosso show”, lembra Deco, com carinho.
Colaborações musicais oficiais ainda não ganharam forma, mas momentos especiais não faltam. “No meu aniversário de 33 anos, fizemos uma apresentação juntos: eu tocando como DJ e ele na bateria. Foi inesquecível”, lembra Nathalia. Deco confirma a vontade de levar a parceria aos palcos. “Vivo aprendendo com ela. Já trocamos muita ideia sobre isso. Quem sabe?”, sugere. Enquanto isso, seguem dividindo a vida, os fones de ouvido e o amor por transformar som em sentimento, sempre no mesmo ritmo.

Nathalia Albuquerque e Alexandre Lacôrte – Foto: Beto Nascimento
Amanda Ferreira
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