No Dia do Escritor, autores da Capital falam da cena underground no Estado

Escritores Campo Grande
Foto: Divulgação

Nesta segunda-feira (25) é comemorado o Dia Nacional do Escritor no Brasil, data que teve origem em 1960, com a realização do Primeiro Festival do Escritor Brasileiro, organizado pela União Brasileira dos Escritores, à época presidida por João Peregrino Júnior e Jorge Amado. O jornal O Estado foi conversar com três autores: Luigi J. Lunewalker, Orfieu e Ramiro Giroldo, e agora conta para você um pouco sobre esse “mundo paralelo” trazido pela literatura underground para a imaginação dos fiéis leitores do gênero. 

Luigi

Luigi J. Lunewalker tem quatro obras publicadas de forma independente. A leitura sempre foi muito presente na vida do autor, com incentivos em casa e, principalmente, com o gosto por ler e conhecer histórias. Começou escrevendo em cadernos e, posteriormente, no computador, até perceber que não teria escapatória da escrita. “Ser escritor era algo que eu não tinha escolha, era o que eu queria fazer e sempre quis. Então, eu fiz. Me concentrando em aprender a melhor maneira de contar uma história e de me fazer gostar delas.”

As obras de Lunewalker são, predominantemente, de horror, de acordo com ele mesmo. “Eu sou escritor de horror. Insólito, assustador, perturbador e curioso. Eu gosto daquelas histórias que a gente ouvia quando era criança, aquelas de dar medo. Lendas urbanas, folclore, principalmente esse tipo de história”, dispara. 

O autor relata que vê a cena do Estado como “algo que ainda precisa de um pouco mais de união. Como a escrita costuma ser algo solitário, é difícil nos encontrarmos. Mas tenho carinho pelos amigos que fui encontrando nesses anos, queria fazer alguma coisa todo mundo junto. Isso seria muito legal”, afirma, e em seguida cita o escritor Lelo Reinoso e se diz animado para ter o novo título do colega escritor em mãos. Luigi pode ser encontrado no Instagram como @ ljlunewalker. 

Orfieu 

O jovem escritor que atende pelo pseudônimo de “Orfieu” se chama Diego dos Santos e diz que sempre teve imaginação fértil, desde a infância. “Brincava com meus bonecos e dinossauros de brinquedos criando conflitos e diálogos entre eles. A vontade de escrever veio mais tarde em 2008, quando eu tinha 13 anos e li em uma semana os livros das ‘Crônicas de Nárnia’. Aquilo foi um divisor de águas pra mim, saber que eu poderia transformar em textos todas as coisas que já imaginei”, conta. 

Por essa razão, começou a estudar Letras na UFMS, porém, depois de dois anos, trocou para Artes Visuais ao perceber que este curso traria mais conteúdo que fosse abranger várias áreas da criatividade.

As histórias de terror e suspense têm um lugar especial no coração do autor. “Eu adoro histórias de terror e suspense, não pelos sustos gratuitos, mas, sim, pela forma que o ser humano pode encontrar dentro de si para lidar com o desconhecido e enfrentá-lo. Meu primeiro livro publicado foi uma coletânea de contos de terror e fantasia intitulado ‘Os Contos da Rua de Cima’, pela Editora Multifoco, e nesse livro acontecimentos estranhos se interligam num mistério enterrado nessa cidade chamada Rua de Cima.” 

Para Orfieu, a literatura no Estado sempre está a todo vapor. “Cada autor dá um jeito de mostrar seus textos do jeito que pode nas diversas redes sociais existentes. Este ano tivemos o 1º Concurso Ipê de Literatura aqui na Capital, o que achei ótimo, porque estava faltando esse tipo de incentivo e oportunidade para os escritores da cena underground que nem sempre sabem como mostrar seu trabalho”, afirma. 

Um dos autores citados por Orfieu é justamente Luigi, nosso primeiro personagem nesta matéria, que o escritor considera um grande amigo e a quem admira na cena underground de Campo Grande. E ele faz, ainda, um alerta a respeito da necessidade de se dar reconhecimento aos escritores.

“Apesar das adversidades da vida, desistir da escrita não é uma opção, porque é uma paixão. Vários escritores daqui trabalham com coisas muito diferentes da escrita, têm uma outra vida para cuidar e sustentar, mas a escrita sempre tem um espaço, apesar de tudo. É o tipo de resiliência e força que escritores têm e não vejo sendo reconhecida pelas pessoas. A escrita também é um trabalho, também cansa, também exige pesquisa e tempo, e também deve ser respeitada como uma profissão, e não apenas um passatempo”, pontua o jovem autor. Diego pode ser encontrado no @orfieu. 

Ramiro Giroldo 

Ramiro Giroldo teve seu início trabalhando com o audiovisual. “Minha produção se iniciou com a escrita de roteiros para cinema. Produções de guerrilha, independentes de verdade, de horror. Eu e minha esposa, a diretora Larissa Anzoategui, conduzimos a Astaroth Produções, que este ano completa dez anos de atividade (mas nove anos desde o primeiro lançamento). Além de vários curtas que passearam no circuito nacional e internacional de festivais, principalmente festivais de cinema fantástico, temos alguns longas no currículo. O primeiro deles, ‘Astaroth’, alcançou distribuição comercial no Brasil e no exterior, e aqui pode ser conferido no Prime Video da Amazon.” 

Com todo esse trabalho de escrever roteiros para o cinema, passar para a literatura foi apenas questão de tempo. “Como já tinha um contato bastante intenso com o universo literário, foi um passo natural minha passagem para a publicação de contos e romances. Curiosamente, o primeiro livro, ‘Red Hookers’, foi inspirado no roteiro de nosso primeiro curta-metragem. Já o segundo, ‘As Filhas do Além’, é uma história original”, conta Ramiro. 

Giroldo define sua obra como literatura de horror. “Escrevo histórias que conjugam o horror à beleza, a repulsa ao prazer – no cinema e na literatura. Escrevo literatura de gênero, especificamente horror. Não excluo a possibilidade de ocasionalmente passear pelos outros braços da ficção especulativa, como a ficção científica e a fantasia.” 

Ramiro, entretanto, ao falar de colegas escritores, não se contenta em citar apenas um nome: “Alguns desses autores, entre muitos outros que agora cometo a injustiça de esquecer: Tania Souza, Daniel Rossi, Leonardo Triandópolis Vieira, Adrianna Alberti, Henrique Pimenta, Lelo Reinoso…”. E reitera o valor que vê nas produções. “Temos autores muito interessantes aqui. Acho que a produção mais digna de nota, como em todo lugar, é aquela preocupada com os valores estéticos – e não com o pretenso status que a literatura pode trazer. Devo destacar que esses valores estéticos variam, é claro: a pior coisa que pode acontecer no contato com a arte é a adoção de critérios de valor absolutos”, pontua. 

O autor conclui, afirmando: “Eu agradeço muitíssimo pelo espaço que O Estado sempre oferece às manifestações marginais, underground, subculturais, de gênero… Enfim, fora do grande eixo institucionalizado. O underground é forte e persiste!”. Ramiro pode ser encontrado no Instagram como @ramirogiroldo e @astarothprod.

Confira mais notícias na edição impressa aqui

Acesse as redes sociais do O Estado Online no Facebook Instagram.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *