Regado a samba, confete, purpurina e alegria, o carnaval é uma das festas mais populares do país. Em Campo Grande, após um mês esquentando os tamborins, enfim o carnaval de 2024 iniciou. Blocos foram e vão às ruas e agremiações preparam-se para os desfiles. O propósito da folia é abraçar todas as pessoas. No entanto, a questão que fica é: como promover a inclusão no Carnaval? Pensando nessa questão, há seis anos o “Nada sobre nós, sem nós” bota o bloco na rua e levanta a bandeira por um carnaval inclusivo e pelos direitos das PcD (Pessoas com Deficiência). Hoje (9), no Teatro de Arena do Horto Florestal, com matinê, banda de marchinhas e praça de alimentação, o bloco vive o seu sexto carnaval. Das 16h às 22h, com entrada gratuita.
Idealizado em 2018 pelo ritmista corumbaense Damião Zacarias (48), esportista e voluntário na banda do Corpo de Bombeiros de Campo Grande/MS, o bloco inclusivo “Nada sobre nós, sem nós” é um sonho antigo de Damião. O desejo era proporcionar uma experiência carnavalesca inclusiva para pessoas com e sem deficiência. Damião, que tem deficiência visual, discutiu sua ideia com o amigo Oscar Martinez e juntos começaram a transformar o sonho em realidade. Desde então, o bloco tem desfilado pelas ruas e participado de desfiles, conforme destacou o também corumbaense e vice-presidente do bloco Oscar Martinez. Ativista pela inclusão e pelos direitos das PcD (Pessoas com Deficiência), Oscar ressalta o orgulho e entusiasmo do grupo para com o bloco.
“Estamos felizes, muito! Damião também ficou muito satisfeito em saber que diversas pessoas com deficiência e sem deficiência – familiares, amigos – participaram nestes dois anos de desfile e em outros que nos juntamos para brincar o Carnaval”, disse Oscar.
Viabilizando a folia
Ainda em 2019, o grupo procurou pela ABLANC (Associação dos Blocos, Bandas, Cordões e Corsos Carnavalescos e Cultural de Campo Grande) para solicitar a participação do bloco em desfiles na Capital. Além disso, outra solicitação feita pelos participantes foi para que tais apresentações ocorressem em locais em que a arquitetura fosse inclusiva.
“Solicitamos que os desfiles de blocos fossem em locais com asfalto, onde seria o correto, para que cadeiras de rodas, carrinhos de bebês, bengalas, muletas e pessoas com capacidade reduzida de andar, pudessem desfilar. Solicitamos também banheiros químicos para PcD, e que fôssemos o primeiro bloco a desfilar, a abrir o desfile”, comentou Oscar.
Quando aceitos, o bloco abriu o desfile de carnaval na época.” Assim, o “Nada sobre nós, sem nós” participou pela primeira vez, trazendo um estandarte colorido e com escrita também em braile. Formado por pessoas com deficiência, familiares, amigos. Seus integrantes desfilaram para chamar o “olhar” e a atenção do poder público e da sociedade para as atitudes e medidas de inclusão que fazem a diferença e as impactam”, explicou o vice-presidente.
Bloco no Horto Florestal
Para continuar a colocar em prática este sonho, Damião e Oscar recorreram a mais pessoas. Convidaram influencers que militam a favor da causa e PcD para fazerem parte da organização do bloco. Mais pessoas somaram a esse direito de ir e vir, também garantido no movimento da cultura do samba um lugar para todos.
“Convidamos também Glaucia Lopes, mulher com deficiência física e influencer pelos direitos das pessoas com deficiência, e Cássio Roberto, jovem com baixa visão, para compor a organização. Inclusive, teremos a Banda dos alunos da Associação Juliano Varela [composta por integrantes com Autismo e Síndrome de Down], a Banda de Marchinhas, a participação da Liga do Bem e o DJ JK, também conhecido como DJ João Pedro (deficiente visual), que vem da cidade de Porto Murtinho para tocar no bloco”, acrescentou.
Para a musa do bloco, Silvana Vieira, promover a inclusão no carnaval é uma maneira de permitir que pessoas com qualquer tipo de deficiência possam participar dessa grande festa, assim como elas podem participar de qualquer atividade. “Participar do “Nada sobre nós, sem nós” é uma experiência única, porque a inclusão traz todo aquele charme. E assim como a gente pode trabalhar, a gente pode se divertir, a gente pode visitar aonde a gente quiser. Então vamos nos divertir, a experiência é incrível. Esperamos que outras pessoas também se envolvam, se alegrem, queiram participar também conosco e vai ser muito incrível! Todo ano é novo, é tudo muito novo, é tudo muito diferente”, destacou Suzana.
Com esse objetivo, o Bloco é uma luta pelo reconhecimento da abordagem de direitos humanos aos assuntos de deficiência – “Nada Sobre Pessoas com Deficiência, Sem as Pessoas com Deficiência”, reforçou Oscar. Ainda, o organizador acrescenta que mais de 500 pessoas desfilaram com o bloco em 2020; para esse ano, expectativas e agradecimentos predominam no grupo.
“A experiência de criar um bloco foi trabalhoso, mas muito gratificante. Por isso o bloco fará o “Concentra mas não sai”, hoje (9) na Arena do Horto Florestal de Campo Grande”, concluiu o vice-presidente.
O Horto Florestal fica na Av. Fábio Zahran, 316 – Centro. Para mais informações, acesse @ nadasobrenossemnos, no Instagram.
Leia mais:
Capital já tem folia de Carnaval a partir desta sexta-feira, veja a lista de festas