Trabalho mistura samba, frevo e guarânia com letras sobre MS e vivências pessoais
Após passar por 17 Estados brasileiros, com apenas uma van e da arte de rua, o duo Vosmecê lançou seu primeiro álbum de estúdio, ‘Tropicapolca’, com mistura de ritmos, histórias e vivências sobre suas experiências nômades. Nesta quinta-feira (26) o duo realiza o show de lançamento do álbum, no Teatro Glauce Rocha.
O duo Vozmecê é formado por Namaria Schneider, formada em Música (UFMS), e Pedro Fattori, Mestre na área das Letras (UEMS), que produziram o álbum de forma independente em estúdio próprio, através da Lei Federal Paulo Gustavo.
Em conversa com o jornal O Estado, Fattori contou como as experiências de passar por tantos locais e conhecer diversas culturas influenciaram o duo em suas composições e criação do álbum.
“Essas viagens influenciaram bastante na nossa formação enquanto músicos, das fontes que a gente bebeu, por exemplo, no Nordeste, tivemos contato direto com o frevo, com o baião, maracatu e xote, e isso influenciou a nossa música, no Sudeste, o samba, a MPB e até a vanguarda paulistana também influenciaram. Propomos essa mistura do regional com o nacional, fazendo realmente uma música mais híbrida”, explicou.
“Apesar de 50% das influências do álbum, ou até mais, serem a música sul-mato-grossense, a nossa música fronteiriça, da polka, da guarânia, até do chamamé, o que a gente propõe é uma mistura, uma coisa híbrida do ser sul-mato-grossense com o ser brasileiro, que é você misturar esse Brasil tropical, essa ideia de tropicalismo, com a coisa mais fronteiriça, que está ligada ao oeste do Brasil, a fronteira com o Paraguai. Então é o Brasil profundo com o Brasil tropical”, completa.
O álbum conta com 15 músicas autorais (acompanhadas de 15 vídeos), sendo 13 inéditas, com temas que tecem uma crônica crítica sobre a vida urbana/rural sul-mato-grossense, com opiniões ácidas e letras engajadas às questões sociais e existenciais, o que junto às enérgicas e ritmadas melodias, trazem tom de sátira às composições. Uma das canções é a guarânia ‘Pantaneira’, que questiona o apagamento social da mulher nos processos históricos de formação de uma identidade regional. Já o samba ‘Vida é Show!’ levanta a atual temática da dependência das redes sociais e a autoexposição desenfreada, transformando a vida em um reality show pessoal e plástico.
Sons do Brasil
O grande diferencial do Duo e de sua música é sua miscigenação sonora, e isso de apresenta de forma muito clara em ‘Tropicapolca’. No álbum, Vozmecê entoa ritmos de várias regiões do Brasil, fusionando-os às raízes identitárias de sua terra natal, o Mato Grosso do Sul. Como artistas da região fronteiriça Brasil-Paraguai, Vozmecê têm influência intrínseca de ritmos sul-americanos ternários, principalmente da Polca Paraguaia, Guarânia e na já miscigenada Polca-Rock. Nas canções do novo álbum, os artistas propõem novos desdobramentos à estilística fronteiriça misturados a elementos do rock alternativo e brasilidades.
Segundo Fattori, a mistura começou na estrada, mas foi levada até o estúdio, desde sua criação até o projeto final.
“Tem essa coisa híbrida da música brasileira, sul-americana e também com o rock. Eu e a Ana temos bastante influência do rock, por conta das nossas vivências de primeira adolescência, curtindo música. E depois a gente foi ouvindo outras coisas, tocando outras coisas da música brasileira. No estúdio, todo o processo de gravação das músicas passou por mim e pela Ana. Por mim nas minhas músicas e pela Ana nas músicas dela, porque nós fomos os produtores musicais de todos os arranjos de todas as músicas. Então, nas minhas músicas, essa influência passava primeiro por mim para depois chegar nos músicos. Na questão das músicas da Ana, ela que fez a partitura primeiro de todas as partes dos instrumentos e isso aí com certeza foi um norte para todos os músicos passar por essa partitura”, revela o músico.
“Crônica à vida no MS”
Sul-mato-grossenses ‘raíz’, a dupla também se inspirou na própria terra para suas criações musicais, trazendo tanto a parte urbana quando o interior do Estado, com suas especificidades e sociedades diversas, que podem variar se olhadas por certos ângulos.
“Tanto eu, quanto a Ana acreditamos que uma das funções da arte é refletir o social do momento. É refletir as questões sociais que perpassam o ambiente do artista. E, no nosso caso, a gente se sentiu na obrigação de falar sobre a sociedade sul-mato-grossense, que tem a sua parte urbana, mas transpassada por uma ideologia rural, mais de interior, mais agropecuária. Era uma obrigação retratar isso nas nossas letras também, e como isso reflete no comportamento da sociedade, nos consumos. Buscamos fazer um espelho do Mato Grosso do Sul e sua população atualmente, tanto com referências mais ligadas ao interior, com tanto as nossas vivências como de filmes, de documentários, quanto também do ambiente urbano. Então é como se fosse uma crônica, quase uma boa parte do disco é uma crônica à vida no Mato Grosso do Sul”.
Há ainda diversas participações especiais no elenco, com artistas de diferentes gerações da música Sul-Matogrossense. São eles: Beca Rodrigues, Jerry Espíndola, Maria Alice, Rodrigo Teixeira, Ossuna Braza, Dovalle, Jimmy Andrews, Silveira e Franke. Em sua mais recente formação para o show “Tropicapolca”, Vozmecê conta com uma banda de apoio formada por Ju Souc (Bateria), Paula Fregatto (Guitarra), André Fattori (Baixo), Gustavo Gauto (Trompete), Ossuna Braza (Harpa paraguaia e Charango Boliviano).
E se, a exaltação a MS é parte do novo trabalho do Vozmecê, a cultura fronteiriça não foi deixada de fora. O duo utilizou dos gêneros ditos como ternários (métrica musical formada por três tempos, como valsa e guarânia), mas com novos desdobramentos e letras.
“Claro que a gente não está inventando a roda fazendo isso, mas também grudado com outros movimentos que já existiram por aqui. Por exemplo, a polka-rock, a prata da casa dos anos 80 que utilizava já esses ritmos ternários com novas harmonias, com novas letras. Fizemos isso a nossa maneira também, utilizando a música fronteiriça, com letras mais críticas, com letras a nossa maneira de cunho filosófico existencial e crítico social também. E também com harmonias criadas por nós mesmos, com influências vindas de outras regiões também. Por exemplo, do Clube da Esquina, movimento de Minas Gerais, que influenciou a gente harmonicamente”, explica o artista.
O lançamento
Quem for ao espetáculo de lançamento de Tropicapolca do Duo vozmecê no dia 26 de Setembro às 20h, pode esperar por uma experiência exótica com a nova música sul-matogrossense, dançante e crítica, num remelexo filosófico pulsante e inovador. Para Fattori, não há tantas oportunidades de shows e músicas que tenham a mistura de música brasileira e ritmos que o Vozmecê propõe.
“Por exemplo, a mistura de frevo com baião com polca paraguaia, com chamamé, com guarânia e também com MPB e outros ritmos todos misturados e ainda com rock’n’roll acho que é uma experiência bastante exótica se misturar tudo isso e se completa mais ainda com as nossas letras das músicas que muitas delas têm uma energia lá para cima, um som pesado quando você vê as letras estão sendo totalmente críticas também então esse é um diferencial que pode levar a ser uma experiência exótica. Nós estamos levando um show de festival. Um show de festival para dentro do teatro. Então a gente vai ver no que vai dar essa experiência”, finaliza.
Serviço: O show de lançamento do álbum ‘Tropicapolca’ será nesta quinta-feira (26), às 20h, no Teatro Glauce Rocha, de forma gratuita.
Por Carolina Rampi
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