Mazé Torquato Chotil lança obra sobre juventude, ditadura e vivências em SP

Foto: Meire Marion/Divulgação
Foto: Meire Marion/Divulgação

Evento terá apresentação do Duo Amabile e entrevista com a autora conduzida por Delasnieve Daspet

A escritora e jornalista Mazé Torquato Chotil lança hoje (23), em Campo Grande, sua obra literária: “Mares Agitados: na periferia dos anos 1970”, um romance que resgata a memória de uma juventude vivida entre o interior do Brasil e a periferia de Osasco, em plena ditadura militar.

O evento de lançamento acontece das 18h às 20h, na Cafeteria Doce Lembrança (Rua Dom Aquino, 2055) e contará com participação cultural do Duo Amabile e uma entrevista com a autora conduzida por Delasnieve Daspet, Diretora-Geral para o Centro-Oeste do PEN Clube do Brasil, entidade que organiza a apresentação. A noite será transmitida ao vivo pela página de Delasnieve no Facebook (www.facebook.com/delasnieve.daspet).

Mazé Torquato Chotil aborda em seu livro “Mares Agitados: na periferia dos anos 1970” a migração de jovens de Mato Grosso do Sul para os grandes centros urbanos do país, como São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, um fenômeno comum na época. Na década de 1970, MS não possuía as universidades que temos hoje, o que forçava muitos jovens da região, como a própria autora, a deixar suas famílias e buscar oportunidades de educação e trabalho nas grandes cidades. Esse tema, até então ausente na literatura e na academia, se torna central na obra de Mazé, que o resgata como um aspecto fundamental da formação de sua geração, vivido sob o regime da ditadura militar, e ainda pouco explorado no contexto histórico e cultural brasileiro.

“Para reconstruir e narrar Mares Agitados, utilizei minha própria experiência — fui a São Paulo com o objetivo de estudar e cursar a faculdade de Jornalismo —, além de realizar pesquisas. Tentei voltar no tempo para ‘ver’ o que foi aquela migração. Como vivíamos sob censura durante a ditadura, busquei uma voz do presente que pudesse dizer aquilo que a personagem, na época da migração, ainda não podia perceber. Assim, quem lê Mares Agitados tem uma compreensão mais ampla do que estava se passando naquele período”, conta a autora para a reportagem do Jornal O Estado.

Na obra, a escritora também explora a experiência da protagonista ao se mudar para a periferia de uma grande cidade, contrastando com a vida tranquila de seu vilarejo no interior. O romance retrata a busca por um emprego, a adaptação ao ritmo urbano e as novas possibilidades que se abrem à personagem. Essa transição entre o interior e a cidade grande é apresentada como um processo de descobertas, onde a jovem se depara com desafios, mas também com a chance de reconfigurar sua identidade e ampliar suas perspectivas, tudo isso em um Brasil marcado pela ditadura militar e pela repressão social.

Mazé reflete sobre o papel da literatura na preservação da memória e das histórias locais de Mato Grosso do Sul. Para ela, a literatura não tem a obrigação de preservar a história, mas, em sua obra, ela escolhe trilhar esse caminho da memória, entendendo que escrever sobre o passado ajuda a organizar o futuro.

“Durante meu pós-doutorado na EHESS, trabalhei com a temática dos trabalhadores exilados. Foram cinco anos de pesquisa e dois livros — um em português e outro em francês. Muito trabalho para pouca leitura. Foi aí que decidi me dedicar exclusivamente à literatura, onde posso unir pesquisa, emoção e uma leitura mais ‘acessível’”, conta a autora.

Obras como Lembranças do Sítio, Lembranças da Vila, Minha Aventura na Colonização do Oeste e Mares Agitados são exemplos de como a autora dialoga com a experiência sul-mato-grossense, trazendo à tona memórias e vivências essenciais para a compreensão da identidade local. “Gosto de escrever sobre o que foi, como uma forma de melhor organizar o futuro”, finaliza.

“Mares Agitados: na periferia dos anos 1970” é mais do que um retrato do passado: é um convite à reflexão sobre o presente, a partir da escuta sensível de quem viveu, observou e soube transformar memória em literatura.

Sobre Mazé Torquato Chotil

Natural de Glória de Dourados (MS), Mazé Torquato Chotil é doutora pela Universidade de Paris VIII e pós-doutora pela EHESS, e vive em Paris desde 1985, dividindo-se atualmente entre a França, São Paulo e Mato Grosso do Sul. Com 14 livros publicados — cinco deles em francês — Mazé é também uma importante divulgadora da cultura brasileira na Europa. Seu trabalho inclui obras como Na sombra do ipê, No Crepúsculo da vida, Lembranças do sítio e Nascentes vivas para os povos Guarani, Kaiowá e Terena.

Serviço: O evento será realizado hoje, das 18h00 às 20h00, na Cafeteria Doce Lembrança, localizada na Rua D. Aquino, 2055. A entrata é gratuita. Transmissão ao vivo; www.facebook.com/delasnieve.daspet.

 

Amanda Ferreira

 

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