Livro sobre estações ferroviárias de Mato Grosso do Sul destaca legado e importância histórica

Foto: Reprodução/Instagram
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Obra dos arquitetos Joelma Arguelho e Bruno Ferreira reúne fotos e documentos

 

Você teve a oportunidade de conhecer as estações ferroviárias de Mato Grosso do Sul ou nasceu depois de sua época de ouro? Lançado no início deste mês, o segundo volume do livro “Estudo Arquitetônico e Histórico-Cultural de Estações Ferroviárias da Linha Tronco e do Ramal Ponta Porã da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (EFNOB)” mergulha profundamente no papel dessas estações na construção e no crescimento do estado.

De autoria dos arquitetos Joelma Arguelho e Bruno Ferreira, essa nova edição traz uma análise detalhada das estações localizadas no trecho entre Campo Grande e Corumbá, dando continuidade ao trabalho iniciado no primeiro volume, publicado em 2022. O livro amplia os estudos sobre o patrimônio cultural sul-mato-grossense, oferecendo uma visão aprofundada do impacto histórico e arquitetônico dessas importantes estruturas.

O processo de levantamento histórico dos dados que compõem o livro EFNOB envolveu duas vertentes principais: uma focada no levantamento arquitetônico, realizada pelos arquitetos, e outra dedicada à pesquisa histórica, conduzida pelo historiador João, atual superintendente do IPHAN.

A pesquisa se concentrou também na dinâmica dessas estações dentro do contexto em que foram inseridas, como no caso das estações de Palmeiras e Piraputanga, que não geraram um desenvolvimento urbano significativo nos municípios vizinhos, mas que hoje fazem parte da estrutura administrativa de outros locais.

A escolha das estações a serem estudadas teve como diretriz a inserção delas na malha urbana. O levantamento foi realizado ao longo do trecho entre Campo Grande e Corumbá, onde a equipe conseguiu vistoriar quase a totalidade das estações, embora algumas delas já não existam mais. As estações extintas foram registradas fotograficamente, com a intenção de incluir essas imagens em novos projetos, futuros e ainda em andamento.

 

Processo de Pesquisa

Em entrevista ao Jornal O Estado, o arquiteto Bruno Ferreira explicou que o grande número de estações ferroviárias no estado se deve, em grande parte, ao uso de locomotivas a vapor na época. Ele também destacou a relevância dessas estruturas no processo de tombamento estadual, que incluiu não apenas as estações ferroviárias, mas também os trilhos e as caixas d’água.

“A principal dificuldade não era tanto o suprimento de lenha, mas sim o fornecimento de água. Por isso, havia uma grande quantidade de estações ao longo da linha, para garantir o abastecimento das locomotivas. Todas as caixas d’água estão dentro do escopo de tombamento, sendo reconhecidas como parte fundamental das estações e do patrimônio ferroviário do estado”, explica.

O arquiteto detalha as dificuldades de acesso a algumas das estações ferroviárias estudadas no levantamento sobre o patrimônio ferroviário de Mato Grosso do Sul. Segundo ele, em muitos casos, essas estações não geraram o desenvolvimento urbano esperado nas regiões ao redor.

“São estações que, na época, não contaram com um tecido urbano em torno delas, o que dificultou o seu crescimento. Estamos falando de um período entre 1912 e 1914, quando essas estações foram executadas, e naquele momento o sul de Mato Grosso ainda não estava dividido administrativamente. Essas estações praticamente desbravaram a região, ajudando no seu desenvolvimento, mas o entorno não seguiu o mesmo ritmo”, afirma.

O levantamento sobre o uso das estações ferroviárias foi feito por meio de uma pesquisa detalhada, envolvendo consultas com ferroviários e análise de fontes históricas. A identificação de características, como a espessura das paredes, foi complementada por um estudo aprofundado de documentos e plantas antigas. A precisão das medições foi alta, com variações de até 3 cm, e o uso de drones permitiu um mapeamento detalhado das estações.

 

Impacto do Projeto

Segundo Bruno, a democratização do material sobre as estações ferroviárias ocorreu por meio de sua disponibilização gratuita. A proposta é que acadêmicos de universidades, prefeituras ou qualquer interessado possa acessar as plantas das estações, necessárias para levantamentos e projetos de restauro, sem custos. As plantas estão disponíveis gratuitamente através de um link no Instagram, tornando o acesso simples e direto.

“Uma vez disponibilizados, esses materiais podem ser usados por prefeituras para obras de restauração, já com a informação clara de que são de distribuição gratuita. A intenção é chamar atenção para as ferrovias, iniciando com as estações, para que, no futuro, aqueles que desejarem aprofundar o conhecimento possam encontrar um ponto de partida sólido”, argumento.

A democratização do material sobre as estações ferroviárias ocorre por meio de sua disponibilização gratuita. A proposta é que acadêmicos de universidades, prefeituras ou qualquer interessado acesse as plantas das estações, necessárias para levantamentos e projetos de restauro, sem custos. Uma vez disponibilizados, esses materiais podem ser usados por prefeituras para obras de restauração.

O impacto esperado com a utilização desse material é significativo, com a previsão de que prefeituras e diferentes esferas do governo, tanto estadual quanto federal, possam fazer uso das informações para restaurar e valorizar as estações ferroviárias. O uso dessas estruturas é diversificado, como exemplificado pela estação de Ibirapitanga, que está conservada, embora sem uso diário, mas foi recentemente pintada.

“Além disso, algumas estações, como a de Terenos, estão ocupadas por ex-ferroviários, que adquiriram os imóveis após a dissolução da Noroeste do Brasil. Isso inclui o ex-ferroviário que mora na estação de Terenos, um direito adquirido quando foi dada a opção de compra dos imóveis aos funcionários da ferrovia”.

A estação de Corumbá, sem uso e deteriorada, conserva uma estrutura robusta dos anos 60, com colunas de concreto do estilo brutalista. Embora não sejam grandes construções, essas estações possuem um estilo marcante. Na estação de Corumbá, por exemplo, telhas canaletão caídas foram registradas no levantamento, que documentou esses danos e os incluiu nas plantas, preservando o estado original da estrutura.

“Algumas estações enfrentam ocupações irregulares, como é o caso de Palmeiras e Camisão, que abrigam várias famílias. A estação de Aquidauana também apresenta desafios, com parte de sua estrutura deteriorada, especialmente após um incêndio que afetou a edificação, inclinando um dos frontões da estação”, finaliza.

Os próximos passos do projeto incluem a continuidade da pesquisa, com foco no levantamento fotográfico e histórico das cerca de 65 estações restantes, incluindo Porto Esperança. Embora não seja viável elaborar projetos arquitetônicos completos devido à demanda de mão de obra, o trabalho seguirá o modelo das 20 estações já analisadas. O objetivo é fornecer material para futuras iniciativas de restauro, destacando a importância histórica e cultural das estações no desenvolvimento de Mato Grosso do Sul.

 

Amanda Ferreira

 

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