Canção Dona Helena foi lançada no centenário da artista e está nos streamings
“Dona Helena, de você tenho saudade, do seu jeito tão sincero de dizer tanta verdade. Helena Meirelles, você sempre será mito, solo de viola bonito, dentro do meu coração”. A rima em questão se une com os acordes da viola sul-mato-grossense de Jerry Espíndola, Marcelo Ribeiro e Raphael Vital, que lançaram ontem (13) a música ‘Dona Helena’, em homenagem ao centenário de Helena Meirelles.
Em entrevista para o jornal O Estado, o cantor Jerry Espíndola compartilhou um pouco sobre a amizade com a violeira.
“Estou muito feliz de prestar essa homenagem, porque essa música foi feita em um momento de muita saudade da Dona Helena Meirelles, que tive o prazer de ser amigo; ela sempre me chamava de ‘Régi’, porque não conseguia pronunciar o Jerry, e ela me ligava, era sempre muito bom falar com ela”.
Segundo ele, a música busca os mesmos acordes e estilos que a própria Helena Meirelles tocava. “Essa música surgiu na oportunidade de ficar com o violão dela aqui na minha casa, por dez dias, e acabei fazendo essa letra meio que contando a história de vida, sua trajetória. Chamei o Marcelo Ribeiro para fazer a música comigo também. Com a produção dele estamos lançando a música, com a participação do Raphael Vital, na voz e na viola e fizemos questão de fazer nessa gravação como a Dona Helena fazia em seus shows, ela na viola, o filho no violão e o baixista. Estamos tentando ser fiel à sonoridade que a Dona Helena fazia”, explicou.
“O Raphael é um violeiro novo, de Três Lagoas, que é cria dos mestres da Orquestra de Viola de Três Lagoas, também é muito fã do trabalho da Helena Meirelles, tem já coisas lançadas interpretando suas músicas, e chamei ele para cantar comigo, para representar assim uma geração mais velha e uma novíssima geração, mostrando como o trabalho da Dona Helena Meirelles esta atravessando o tempo”, completa Espíndola.
Dona Helena, o mito
Mulher de raça, foi parteira, benzedeira, e precisou se prostituir para conseguir viver. Nasceu e cresceu em meio a peões e violeiros, de onde se apaixonou pela música e aprendeu como manejar a viola. Como boa brasileira, nasceu ‘misturada’, com descendência paraguaia, mineira e paulista. “Tenho sangue de tudo que é bicho. E bicho perigoso, venenoso. Porque eu fui cobra, brava, perigosa. Todo mundo fala lá em Mato Grosso do Sul, ‘mexeu com ela encontra’”, disse a própria, durante o documentário ‘Dona Helena’, da diretora Dainara Toffoli, lançado em 2006.
Aprendeu a tocar a viola e o violão escondida da família, que não permitia o instrumento. Casou-se três vezes, em busca de se libertar da família, mas os romances não deram certo. Ficou ‘sumida’ por aproximadamente 30 anos, encontrada por uma irmã, que a levou para São Paulo, onde, com a ajuda do sobrinho Mário de Araujo.
Ganhou reconhecimento primeiro internacionalmente, com mais de 60 anos, por meio de uma matéria da revista norte-americana Guitar Play, onde foi escolhida como uma das ‘100 melhores instrumentistas do mundo’, por sua atuação nas violas de seis, oito, dez e doze cordas, ao lado de nomes como Roger Waters e Eric Clapton. Em 2012, foi incluída na lista 30 maiores ícones brasileiros da guitarra e do violão (Categoria: Raízes Brasileiras) da revista Rolling Stone Brasil.
Sua música é reconhecida em Mato Grosso do Sul como uma expressão das raízes e da cultura regional. Helena faleceu aos 81 anos, vítima de uma parada cardiorrespiratória decorrente de pneumonia crônica.
Serviço:
A música ‘Dona Helena’, de Jerry Espíndola, Marcelo Ribeiro e Raphael Vital, pode ser encontrada nos principais serviços de streaming e no YouTube.
Por Carolina Rampi e Marcelo Rezende
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