Projeto pioneiro chega a segunda edição com celebração a cultura e tradição, na Aldeia Cachoeirinha, em maio
Quando pensamos em fanfarras, as primeiras imagens que vem a cabeça são os uniformes com referência militar, em um estilo americanizado ou até mesmo europeu, algo distante para muitos de nós, brasileiros. Mas, a fanfarra também é música, e como expressão cultural, pode ser realizada por todos. O Festival de Bandas de Percussão e Fanfarras Indígenas chega a sua segunda edição para promover o intercâmbio cultural, fortalecimento da identidade e a valorização da tradição musical dos povos originários. O ‘II Encontro de Bandas e Fanfarras Indígenas do Mato Grosso do Sul – ‘NZOPÚNE’ será realizado no dia 31 de maio, das 8h às 17h, no ginásio de esportes da Aldeia Cachoeirinha, em Miranda.
Reconhecido pela LBF (Liga Brasileira de Bandas e Fanfarras) e pela FEBAFAMS (Federação de Bandas e Fanfarras do Mato Grosso do Sul), o encontro é um marco na história musical do Brasil, sendo o primeiro do país a reunir bandas de percussão e fanfarras indígenas das três principais etnias do Estado: Terena, Guarani e Kaiowá.
Bandas de fanfarras poderão se inscrever até o dia 22 de abril. Conforme o regulamento, as corporações musicais inscritas terão entre 5 e 15 minutos para se apresentar, podendo escolher livremente o repertório. Um dos diferenciais e pioneirismos do projeto é que o uso de vestimentas tradicionais, como cocares, tiaras e pinturas corporais é incentivado, visto como forma de reafirmação de identidade. Mais do que um encontro musical, o evento busca fortalecer a cultura indígena, incentivar a troca de experiências entre as comunidades e ampliar o reconhecimento das expressões artísticas indígenas.
O maestro da EEIEM Pr. Reginaldo Miguel Hoyeno’ô, Marcelo Cece, trabalha com os adolescentes e jovens da escola, localizada na Aldeira Lagoinha, em Aquidauana. A banda é composta por 22 alunos, que aprendem a percussão, sem esquecer as próprias raízes. “São todos indígenas, de várias aldeias da região. Estudamos tudo aquilo que uma banda de percussão norte-americana pede, que são as técnicas de rudimentos. Mas eu trabalho com eles mais a questão cultural, a valorização da nossa cultura, tanto que a nossa ‘farda’ de apresentação são os trajes indígenas típicos”, ressalta.

Fotos: Daniel Carvalho Cezinha Galhardo e Vinicius Espindola
Conforme o maestro e professor, os alunos são participantes ativos do projeto. “Todos que compõe a banda gostam e participar, de tocar, o mundo da fanfarra e da percussão era desconhecido para eles antes. Eles se empenham bastante”, destaca. Essa dedicação, segundo o maestro, fica ainda mais evidente ao descrever o caminho que os alunos percorrem para participar dos ensaios.
“O projeto funciona após o horário das aulas, vai a pé para casa, não tem transporte. Ai eles voltam para o projeto a pé, são mais de três quilômetros, depois voltam para casa a pé novamente, tudo para não faltar. Eles entendem que quando estão na banda, representam não só suas comunidades, mas também as suas famílias. É muito gratificante ver isso no aluno, essa alegria de participar do projeto”, destaca.
“E o interessante é, que além dos alunos, a família também sente muito orgulho de ter os filhos participando da banda. Acho que esse é um ponto importante, ter o envolvimento da família”, complementa.

Fotos: Daniel Carvalho Cezinha Galhardo e Vinicius Espindola
“Perpetuação da cultura”
Para o gestor da NUAC (Núcleo de Arte e Cultura), Prof. Dr. Fábio Germano da Silva, o evento é uma oportunidade de destacar a relevância da arte indígena dentro do contexto educacional e social. “Este encontro não é apenas sobre música, mas sobre a perpetuação da cultura e das tradições indígenas. Cada apresentação traz consigo um pedaço da história do povo indígena do Mato Grosso do Sul, reafirmando a identidade e o orgulho das novas gerações. A música tem um papel fundamental na formação dos jovens e na construção de um sentimento de pertencimento cultural”.
O Superintendente de Modalidades e Programas Educacionais, Davi De Oliveira Santos, reforça a importância do evento como um instrumento de inclusão e valorização das manifestações artísticas indígenas dentro da educação. “Nosso compromisso é garantir que a cultura indígena seja reconhecida e incentivada nas escolas e comunidades. O ‘NZOPÚNE’ é uma oportunidade única de reunir talentos indígenas em um espaço onde a arte se torna uma poderosa ferramenta de educação, integração e fortalecimento das raízes culturais”.
A relevância do encontro para a comunidade é destacada pelo diretor-adjunto da Escola Estadual Indígena Cacique Timóteo, anfitriã desta edição, Adilson de Matos Bentos. “A Escola Estadual Indígena Cacique Timóteo tem a honra de receber este evento tão significativo na Aldeia Cachoeirinha, reafirmando nosso empenho em fomentar a cultura e a educação dos povos indígenas. Esperamos recebê-los com respeito e entusiasmo, assegurando que este acontecimento seja um divisor de águas para nossa cultura e educação”.
Conforme a organização, até o momento, 18 bandas já se inscreveram, dos municípios de Aquidauana, Sidrolândia, Dois Irmãos do Buriti e Dourados; no ano passado, o festival abrigou um total de 22 bandas. Estima-se que cerca de 2 mil pessoas participem do evento, incluindo visitantes e grupos de Bandas e Fanfarras. A programação incluirá dança, música, entretenimento, artesanato e gastronomia.

Fotos: Daniel Carvalho Cezinha Galhardo e Vinicius Espindola
Anterior
A primeira edição marcou o pioneirismo de Mato Grosso do Sul ao realizar um evento desse tipo, sendo o primeiro do Brasil, com as três maiores etnias do Estado. O maestro Marcelo Cece também participou da edição anterior e conta que a experiência foi única para todos. “Nós tivemos a oportunidade de sair daqui da nossa região e ir para outra aldeia compartilhar a nossa música. Esse projeto é voltado para a valorização das bandas indígenas, que existem, mas não são vistas”.
“A expectativa para a segunda edição é compartilhar, trocar conhecimento, e alegria”, finaliza.
Regulamento e critérios de participação
O regulamento do evento estabelece que a participação é exclusiva para bandas e fanfarras indígenas de Mato Grosso do Sul, com inscrições abertas de 19 de março a 22 de abril de 2025. As inscrições devem ser feitas por meio de um formulário eletrônico disponível no regulamento. Cada grupo deverá enviar um breve histórico de sua corporação, que será apresentado durante o evento. Confira o regulamento clicando aqui.
Todas as bandas participantes receberão um troféu e um certificado de participação como forma de reconhecimento pelo trabalho desenvolvido. Além disso, o evento será registrado e amplamente divulgado pela organização para fins de pesquisa, promoção artística e arquivo histórico.

Fotos: Daniel Carvalho Cezinha Galhardo e Vinicius Espindola
Fortalecimento da cultura e futuro
O II Encontro de Bandas e Fanfarras Indígenas do Mato Grosso do Sul não é apenas um evento musical, mas um movimento de valorização das identidades indígenas e do fortalecimento das tradições culturais por meio da arte. A música, que sempre fez parte da história dos povos indígenas, continua sendo uma ferramenta de educação, resistência e celebração da ancestralidade.
A organização é realizada pela SED/MS (Secretaria de Estado de Educação), por meio da SUPRE (Superintendência de Modalidades e Programas Educacionais), do NUAC (Núcleo de Arte e Cultura) e da COMESP (Coordenadoria de Modalidades Específicas).
Carolina Rampi
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