Vocalista Guilherme Isnard fala sobre sua trajetória, o impacto da banda no rock brasileiro e novos projetos
Na quinta-feira (11), o Bosque Expo se transformou em palco de celebração da música brasileira durante o Aruana Fest, que contou com apresentações de Plebe Rude, Lobão e da emblemática banda ZERØ, liderada por Guilherme Isnard. Em entrevista exclusiva ao Jornal O Estado, o vocalista falou sobre sua trajetória, influências e a forma como encara a música atualmente, oferecendo um olhar único sobre mais de quatro décadas de carreira.

Parceria: Paulo Ricardo do RPM cantando ‘ Agora eu Sei’ com Isnard – Foto: reprodução
Formada em 1983, logo após a saída de Isnard da banda Voluntários da Pátria, a ZERØ começou como uma experiência de pós-punk com toques de jazz instrumental, evoluindo posteriormente para o synth pop neorromântico que marcou os anos 1980. O nome da banda, grafado como ZERØ, reflete tanto um ponto de partida quanto a conexão com temas existencialistas, e se tornou símbolo de uma sonoridade inovadora que misturava psicodelismo, art-rock e influências de nomes como David Bowie, King Crimson e Gang of Four.
Durante a entrevista, Isnard detalhou a respeito do seu processo criativo, composições,a carreira da banda e também sobre Campo Grande. Ele ressaltou ainda que a estética e a elegância visual da banda, muitas vezes destacada pela mídia, dialogava com a música experimental que criavam, consolidando a ZERØ como um dos grandes nomes do rock alternativo brasileiro, cujas canções continuam ressoando e conquistando novas gerações de fãs.
Começo da Rebeldia
A história da banda ZERØ, liderada por Isnard, é marcada por transformações no som e na estética. Inicialmente, o grupo se destacou no cenário pós-punk paulista dos anos 80 com faixas como “Heróis” e “100% Paixão”. No entanto, a sonoridade da banda evoluiu para um estilo mais expansivo, incorporando teclados e o que ficou conhecido como “neorromântico”. A experiência de Isnard no universo da moda influenciou diretamente a estética do grupo, criando apresentações que uniam música e cuidado visual, algo incomum na época.
Embora o rock de São Paulo em 1982 fosse resistente a mudanças, especialmente no visual, Isnard sempre buscou trazer elegância e inovação ao palco. “Eu percebi que o rock não era para mim naquele momento”, afirma. Após deixar a cena, ele se reaproximou da música quando um amigo o convidou para tocar sem compromisso. Esse reencontro resultou na criação de novas canções, que ajudaram a definir o novo rumo da banda, agora mais focada no synth pop e no estilo neorromântico.
“Foi nesse encontro que criamos as canções “Cada Fim um Sonho” e ‘Formosa’ que estão no disco que celebra 40 anos. A mudança de som foi grande: de um estilo punk com guitarras para algo mais synth pop e neorromântico, o que seguimos até 1992, quando decidimos dar uma pausa. Fiquei cinco anos sem cantar, fazendo outras coisas, até perceber que fazer música para mim não era uma opção, mas uma necessidade, algo que eu não poderia deixar de fazer”, afirma Guilherme.

Lá em 1983; Banda ZERØ, na década de 1980, quando o BRock nascia e dominava as rádios – Foto: reprodução
“Sou um instrumento”
Após um hiato de cinco anos longe da música, Isnard retornou com uma missão clara: criar canções que “melhorem a vida das pessoas”. Ele explica que compõe inspirado por experiências pessoais, mas sempre deixando espaço para que o público se aproprie das músicas.
“Eu me considero um instrumento. A inspiração, para mim, é uma canalização. Sou um vetor de uma situação. Claro que, como compositor, sempre baseio minhas músicas na minha experiência pessoal de vida. E, às vezes, dou um colorido dramático, transformando isso em algo que possa ser absorvido como uma experiência única por cada pessoa. Sempre fiz questão de transformar a vida das pessoas com a minha música”, explica.
O artista também refletiu sobre o papel da música na sociedade. Ele acredita que o rock e a arte, em geral, têm a capacidade de provocar reflexão e questionamento. “Platão já dizia que a música influencia a sociedade. Por isso, tento sempre criar algo que agregue valor, que faça as pessoas pensarem e se conectarem com emoções e experiências”, afirmou.
Guilherme falou ainda sobre sua relação com a moda e o múltiplo papel que exerce como artista. “Ser geminiano ajuda: sou multitarefa. A moda me trouxe referências, visão estética e me permitiu viajar, o que enriqueceu minha música. Hoje, continuo compondo, mas também penso em como cada show e cada música podem criar significado e beleza para quem escuta”.

Instrumento: Instrumento Guilherme Isnard se considera um instrumento que Guilherme Isnard se considera um instrumento que canaliza a inspiração canaliza a inspiração – Foto: Geovani A. Moreira/divulgação
Cenário atual
Sobre o cenário atual do rock nacional, Isnard observa que, apesar do movimento de nostalgia com turnês comemorativas, novas bandas continuam surgindo, mas sem a mesma visibilidade midiática dos anos 1980. “Hoje o rock ocupa uma trincheira do inconformismo, da contestação. Há muitas bandas interessantes, mas sem o alcance que existia na época. A internet ajuda, mas o rock continua sendo um espaço de expressão de nicho e resistência”, comenta.
Além da música, Guilherme aproveitou a passagem por Campo Grande para conhecer a cidade. Visitou o Bioparque, o Mercado Municipal e se encantou com a Guavira, fruta típica da região. “Minha primeira vez aqui e estou deslumbrado. Campo Grande tem horizontes amplos, natureza incrível e uma energia que inspira”, diz, brincando que se encontrar uma namorada local, poderia até se mudar para a cidade.
O Aruana Fest também serviu de palco para conversar sobre futuros projetos do vocalista. Ele revelou que está envolvido em três novos projetos, incluindo a banda Rádio Nacional, formada por músicos dos anos 80, e a Snark, focada no pós-punk.
Com quatro décadas de carreira, Guilherme Isnard mostra que, mesmo com o peso da história e dos sucessos, continua criando, inovando e buscando impactar o público de maneira significativa. A apresentação no Aruana Fest não apenas celebrou o legado do ZERØ, mas também reafirmou a vitalidade do rock nacional independente e a energia de uma banda que permanece relevante e inspiradora.
Por Amanda Ferreira
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