Gisele Bündchen fala sobre saúde mental, padrões e longevidade

Foto: Reprodução
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Capa da Vogue de agosto de 2023, top fala sobre temas que considera prioridades e de como abriu ‘mão’ pela profissão, enquanto veste clássicos da moda

Em um momento no qual as passarelas privilegiam um guarda- -roupa eterno e sem excessos, Gisele Bündchen veste os maiores clássicos da moda, da camisa branca à estampa de leopardo, passando pelo jeans e pela alfaiataria – e fala à Vogue sobre saúde mental, padrões, longevidade e do que abriu mão pela carreira.

Vestida com uma camiseta amarela, calça jeans e sandália rasteirinha, Gisele chegou pontualmente ao ensaio de fotos que estampa esta Vogue em um estúdio em Miami. Acompanhada da irmã e empresária, Patrícia, foi logo ver a produção de moda que havíamos preparado. Em segundos, Gisele mostrou que está no comando. Escolheu o que iria – e o que não iria – vestir. Organizou os looks nas araras de acordo com a luz das fotos: “Isso vai no sol. Isso vai no estúdio”. 

Com os cabides em mãos, editou a sequência do shoot. Como de hábito, posou em frente a um espelho e escolheu quais perguntas enviadas pela Vogue responderia. Todo esse controle e cuidado explica a longevidade do sucesso da über. Ao simbolizar uma era e uma estética que valorizam a saúde e o bem-estar, Gisele segue incensada depois de 28 anos de carreira em uma indústria afeita à volatilidade e à efemeridade como a da moda. Não é à toa, portanto, que escolhemos para este editorial o tema “clássicos”, com peças atemporais como a camisa branca, o vestidinho preto, a minissaia. Um estilo também muito próximo ao da própria Gisele, que não dispensa uma boa calça jeans e uma camisa de linho.

Nada risca a imagem da brasileira, que ganhou o mundo com seus cabelos dourados e bochechas coradas. Num momento em que discute-se saúde mental, ela também se sensibilizou com o tema. Nos últimos anos, revelou que sofreu ataques de pânico no início da carreira, tempo em que sua rotina era composta por cafés, cigarros e vinho. “Tive que passar por momentos difíceis para entender a importância de fazer escolhas mais saudáveis para a minha vida”, disse. Passou, então, a compartilhar técnicas de bem-estar com seus 22 milhões de seguidores no Instagram.

Maria Laura Neves: A pauta deste ensaio são clássicos da moda. Numa indústria tão volátil, você se mantém no topo há quase 30 anos. O que fez com que você mantivesse esse sucesso por tanto tempo?

Gisele Bündchen: Acredito que tem muito a ver com a minha personalidade e as escolhas que fiz ao longo do caminho. Fui fiel aos meus valores e à minha essência, dei sempre o melhor de mim, encarei a profissão de forma séria e fui sempre muito profissional. Sou naturalmente mais reservada e acabei escolhendo trabalhos que achava mais relevantes para me expor. Talvez isso tenha contribuído para a longevidade numa carreira normalmente tão passageira.

MLN: Quais são as peças clássicas de moda que você mais gosta? GB: Jeans é a minha peça favorita, com certeza. Outra peça clássica que adoro é camisa de linho branca. Também é difícil errar com um vestidinho preto para um look de noite. 

MLN: Você é símbolo de um movimento de valorização da saúde nas passarelas. Como enxerga essa contribuição e responsabilidade? GB: Tive que passar por momentos difíceis para entender a importância de fazer escolhas saudáveis para a minha vida e fico muito feliz em hoje poder compartilhar isso. Não vejo como uma responsabilidade, mas tenho uma grande vontade de dividir meus aprendizados com o maior número de pessoas possível.

MLN: Como cuidou da saúde mental na separação e em outros momentos turbulentos? GB: Sempre confiei que cada situação, não importa o quão desafiadora, tem algo a nos ensinar e acontece para nosso crescimento.

Separações nunca são fáceis, especialmente quando existe toda uma mídia especulando cada passo. Procurei focar nos meus filhos, na minha saúde e nos meus projetos e sonhos.

MLN: Quais são os seus rituais de bem-estar e autocuidado hoje? GB: Há três coisas que considero fundamentais para me sentir bem: me alimentar de forma saudável, me exercitar diariamente e ter momentos para o descanso da mente e do corpo.

MLN: Você já disse que se sente melhor hoje, aos 40 anos, do que aos 20. Por quê?

GB: A maturidade me trouxe uma melhor aceitação e compreensão de mim mesma. Hoje, entendo que a saúde é minha maior riqueza, essencial para que eu tenha uma vida feliz e energia para concretizar meus sonhos.

MLN: Quais são os seus momentos de prazer que não passam pelo crivo do bem-estar? Você toma drinques de vez em quando? Deixou o hábito de fumar em qualquer ocasião? GB: Desde os meus 20 anos, nunca mais voltei a fumar. O cigarro aconteceu na minha vida pois queria me encaixar em um grupo, em um mundo, que não tinha nada a ver comigo. Tão logo me libertei disso e do mal que fazia, nunca mais voltei. Nos últimos anos, tomava vinho esporadicamente,mas faz quase dois anos que não bebo. O álcool prejudica a imunidade e, consequentemente, a saúde. Também não bebo mais café. Já o chocolate é um amor antigo, mas, como sei que açúcar não faz bem, como raramente e só chocolate meio amargo e não aqueles cheio de gorduras e vários ingredientes desconhecidos. Posso dizer que o doce é, ainda, onde escorrego às vezes, principalmente quando estou no Brasil, onde tem mil docinhos maravilhosos por todos os lados.

MLN: Você é uma das brasileiras mais bem-sucedidas da história, a modelo mais bem paga do mundo. Do que teve de abrir mão pela carreira? GB: Na época em que as meninas da minha idade estavam indo para festinhas, curtindo o início da juventude, eu trabalhava 365 dias, voando de país em país e muito sozinha. Sempre me senti muito responsável e fui exigente comigo mesma. Trabalhei muito desde os 14 anos. Não faria nada diferente e sou grata por tudo que vivi e aprendi.

MLN: E pela família? GB: Mudei de cidade, diminuí o ritmo de trabalho e comecei uma vida. Valeu a pena. Pude viver a maternidade de forma plena e cuidar da minha família.

MLN: Nos últimos anos, discussões sobre abusos contra mulheres e sobre padrões estéticos inatingíveis vêm transformando a moda. O que ainda precisa avançar nessa conversa? GB: A palavra “padrão” é muito limitante. A moda é para todos, então, deveria levar isso em consideração.

MLN: Sua família é matriarcal. Quais são as principais contribuições das mulheres da sua família para sua personalidade?

GB: Com sete mulheres e apenas um homem (meu pai), acredito que a família seja liderada pelas mulheres. Minha mãe sempre trabalhou fora e ainda tinha que planejar toda a organização do funcionamento da casa e das seis filhas. Ela é uma heroína e um grande exemplo pra mim – ser independente é algo que tem muita influência dela. Assim como meu pai que sempre nos aconselhou e nos transmitiu muitos ensinamentos. Fomos ensinadas a fazer de tudo. Seja a usar uma furadeira para instalar quadros ou a pescar o próprio peixe, limpar e depois comer. Crescemos fazendo todas as tarefas de casa e sempre ajudando umas às outras.

MLN: O que pretende deixar como legado? GB: Trabalho em mim mesma todos os dias e coloco todo o meu amor em tudo que faço. Espero poder me tornar uma pessoa melhor.

 

Por – Maria Laura Neves. 

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