A Companhia se apresentará no Teatro Glauce Rocha nos dias 2, 3 e 4 de setembro, com entrada gratuita
A Ginga Cia de Dança estreia “Rompendo Silêncios” nos dias 2, 3 e 4 de setembro no Teatro Glauce Rocha. O espetáculo, que será apresentado diariamente às 20h, é uma nova interpretação de “Silêncio Branco”, que em 2022 explorou a temática da violência contra a mulher. Esta versão revisitada, com coreografia e dramaturgia de Vanessa Macedo, busca aprofundar o debate sobre o tema, oferecendo uma visão mais abrangente e reflexiva. A entrada é gratuita.
A violência contra a mulher é um tema amplamente abordado nas mídias e nos debates públicos, refletindo uma realidade de subjugação em diversos contextos. O espetáculo “Rompendo Silêncios” propõe explorar novas perspectivas sobre essa questão, questionando se é possível transcender a dicotomia tradicional de vítima e opressor sem simplesmente inverter as relações de poder.
O projeto, que visa oferecer uma visão mais complexa sobre o tema, é financiado pelo Fundo de Incentivos Culturais – FIC-MS, da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul. Conta ainda com o apoio cultural do Sesc/MS, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), do programa Mais Cultura (UFMS), do Fundo de Apoio à Pesquisa, ao Ensino e à Cultura (FAPEC), e da Mercearia da Dança.
Sobre o espetáculo
Chico Neller, diretor da companhia, explicou à reportagem que a nova peça, criada pela coreógrafa Vanessa Macedo, oferece uma abordagem sensível ao revisitar a narrativa do trabalho anterior, “Silêncio Branco”. Este espetáculo tinha um caráter de denúncia e se baseava em estatísticas amplamente divulgadas na mídia sobre a violência contra a mulher. O trabalho gerou significativa polêmica e discussão, em parte por ser produzido por dois homens.
O primeiro trabalho, “Silêncio Branco”, surgiu como parte de um projeto aprovado pelo Fundo de Incentivo à Cultura (FIC) em 2019, mas seu lançamento foi adiado para o início de 2022 devido à pandemia. Durante esse período de crise, o criador enfrentou uma reavaliação sobre o propósito da arte, especialmente enquanto lidava com as dificuldades impostas pela Lei Aldir Blanc e a transição entre apresentações online e presenciais.
O objetivo do “Silêncio Branco” era ser uma proposta clara e direta, sem a subjetividade ou metáforas, focando em uma denúncia contundente por meio de códigos de dança contemporânea. Elementos como músicas infantis foram usados para fortalecer essa mensagem.
“Agora, em vez de abordar a violência exclusivamente do ponto de vista masculino ou feminino, ela explorará a violência em todos os seus aspectos. Recentemente, ouvi que é importante reconhecer o quão violento é para um corpo se mover quando não está disponível para isso, quando está cansado ou sem energia. A abordagem de Vanessa amplia esse olhar, trazendo novas perspectivas sobre a violência e suas implicações”, afirmou Chico.
Para “Rompendo Silêncio”, foi necessário um período de dois anos de intenso estudo para compreender melhor o patriarcado e o sistema de violência, Neller reconheceu que a nova abordagem de Vanessa Macedo oferece uma perspectiva que representa alívio e uma forma de superar o sofrimento que ele experienciou. Ele considera que o trabalho de Macedo, ao remover a perspectiva opressora, é essencial e significativo.
“O trabalho de Vanessa abriu novas possibilidades. Cada vez que assisto à sua versão, percebo diferentes formas de resposta e discussão. Enquanto minha versão era mais direta e focada em uma visão específica, a abordagem de Vanessa é mais abrangente e amplia o debate sobre a violência. Ela vai além da perspectiva opressora e explora a violência de maneira mais generalizada. Isso nos leva a refletir sobre como o trabalho poderia se transformar se abordado por outras perspectivas, como uma mulher negra ou uma mulher trans”, explicou.
Chico acredita firmemente que a arte, especialmente a dança, pode desempenhar um papel crucial na transformação de percepções e na promoção de ações concretas contra a violência de gênero. Para o fundador, a arte tem a responsabilidade de abordar questões significativas. A aprovação de uma ideia em diferentes etapas, tanto pelo governo quanto pela sociedade, reflete um interesse genuíno em discutir esses temas.
“Do meu ponto de vista, o primeiro trabalho não só transformou minha vida como também mudou minha percepção sobre diversos aspectos. Quando algo assim impacta aqueles diretamente envolvidos na criação da obra, é evidente que há um efeito real. Recebi depoimentos de pessoas que assistiram à peça e sentiram que viviam aquela situação, encontrando uma saída para seus próprios desafios. Isso demonstra que a obra realmente cumpre seu papel ao estimular discussões e novas perspectivas,” concluiu Neller.
A estudante de Dança — Bacharelado pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, integrante da Ginga estará como bailarina no espetáculo Júlia Mansur, destaca que o espetáculo atua como uma denúncia. Vanessa Macedo, que dirigiu a reinterpretação do balé, traz à tona a imagem da bruxa medieval, uma mulher isolada e perseguida por não seguir as normas estabelecidas. Esse simbolismo é relevante, pois a perseguição e o medo em relação à mulher são questões persistentes desde a antiguidade.
“O balé transmite uma sensibilidade única ao tratar desse tema, mostrando a mulher como uma figura consciente de sua situação. Ela não está apenas ocupando um espaço, mas criando formas de sobreviver e resistir às opressões patriarcais. Esse tipo de sensibilidade é crucial na arte, pois nos ajuda a questionar e reimaginar as narrativas de violência e opressão. A arte oferece novos olhares e vias de acesso a essas questões, transcende a narrativa convencional e proporciona uma experiência cinestésica, envolvendo os sentidos e aprofundando a compreensão do público”, detalhou Júlia
Realidade em MS
Não muito longe dos palcos sul-mato-grossenses, dados de 2023 da Central de Atendimento à Mulher Mato Grosso do Sul registrou 1.777 denúncias de violência contra mulheres por meio de ligações via 180. As denúncias de violência contra mulheres em 2023 aumentaram 23% em comparação ao ano anterior, subindo de 87,7 mil em 2022 para 114,6 mil em 2023. No contexto nacional, Mato Grosso do Sul ocupa a 17ª posição em termos de volume de denúncias.
O Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2023 indica que, em 2022, Mato Grosso do Sul apresentava o segundo maior índice de feminicídios do Brasil, com 2,9 casos para cada 100 mil habitantes. Entre janeiro e 4 de dezembro de 2023, a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) registrou 28 casos de feminicídio no estado, sendo 8 deles na capital. Além disso, a Sejusp reportou 89 homicídios dolosos contra mulheres apenas neste ano.
Denuncie
O Ligue 180 é um serviço público crucial no combate à violência contra a mulher, oferecendo uma linha direta para denúncias e orientações. Além de receber e encaminhar denúncias para os órgãos competentes, a central acompanha o andamento dos processos relacionados às violações. Ela também fornece orientações sobre os direitos das mulheres, para realizar denúncias, além do telefone 180, é possível usar o aplicativo ‘Direitos Humanos Brasil’ ou acessar a página da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos (ONDH) do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH). O site da ONDH oferece atendimento por chat e inclui acessibilidade em Língua Brasileira de Sinais (Libras).
Serviço
O espetáculo “Rompendo Silêncios”, da Ginga Cia de Dança, será apresentado de 2 a 4 de setembro, às 20h, no Teatro Glauce Rocha, localizado no Campus da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. A entrada é gratuita e a classificação é para maiores de 14 anos. Os ingressos podem ser retirados na plataforma Sympla.
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