Filme sobre Roberto Higa resgata legado do fotojornalista após 10 anos de filmagem

Gravações do filme - (C) Fran Gonçalvez

“Olho por Olho — Ensaio pela Memória Fotográfica de Roberto Higa” Será lançado ainda este ano

Roberto Higa, fotojornalista célebre e figura icônica do fotojornalismo sul-mato-grossense, com mais de 40 anos de carreira, é o fotógrafo responsável por capturar momentos marcantes que ajudaram a construir a identidade da cidade. Ao longo das décadas, Higa registrou eventos cruciais, incluindo a histórica divisão do estado. Agora, toda essa trajetória será retratada em um filme de nível nacional, com direção de Conrado Roel e Débora Bah.

O filme “Olho por Olho — Ensaio pela Memória Fotográfica de Roberto Higa” foca no legado de Higa, resgatando sua contribuição ao fotojornalismo. A equipe de produção acompanhou Higa e sua esposa, visitando sua casa e registrando sua trajetória desde os 60 anos até agora, aos 73. Ao longo de 10 anos de filmagens, o filme documenta os diversos processos da vida de Higa.

Sob a direção de Conrado Roel e Débora Bah, o filme também explora o vínculo de Higa com suas raízes espirituais, baseadas nas tradições de Okinawa, e como esse legado transcende gerações. Roel, também com origens orientais, investiga a relação de Higa com seus antepassados e como ele cultiva essas tradições em sua vida e trabalho.

A captação de imagens foi concluída em fevereiro, após quase 10 anos de trabalho, com jornadas de 10 horas. A equipe agora segue para a pós-produção, com o diretor se reunindo com o montador Alexandre Gwaz. O filme traz também uma abordagem sensível sobre o impacto do Alzheimer em Higa, evitando sensacionalismo e refletindo sobre a experiência da doença.

Produção

Débora Bah, fotógrafa e co-diretora do filme, tem uma forte conexão com Mato Grosso do Sul, especialmente com Campo Grande, cidade que marcou sua formação e sua trajetória profissional. Ela participou da oficina de documentário ministrada por Conrado Roel em 2012 na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), e foi lá que ambos se conheceram e iniciaram a colaboração para o filme. Débora tem uma carreira consolidada e, além de ser fotógrafa, é doutoranda na área, atualmente morando em Talin, na Estônia. Sua experiência e visão artística foram fundamentais para a construção visual do filme, trazendo uma sensibilidade única para a narrativa.

Durante o processo de filmagem, Débora esteve fortemente envolvida até 2018, quando se mudou para a Europa. Mesmo à distância, ela continuou a contribuir para o projeto, ajudando a definir os rumos da produção. Seu trabalho como fotógrafa e co-diretora é essencial para conectar o passado e o presente no filme, ao ir junto com Conrado, decidiu que Higa seria o personagem central.

Em relação ao processo de filmagem, a produção do filme “Olho por Olho — Ensaio pela Memória Fotográfica de Roberto Higa” teve um caráter artesanal. A equipe visitou diversos locais em Campo Grande, muitos dos quais foram abordados através das fotografias de Higa. A cidade foi vista não só no presente, mas também sob a ótica do passado, oferecendo uma nova perspectiva sobre a sua história.

A equipe de filmagem captou imagens da cidade no presente, enquanto os diretores, Conrado Roel e Débora Bah, trouxeram a fotografia de Higa para o contexto do filme, fazendo um elo entre o passado e o presente. Essa interação entre passado e presente reforçou a percepção de que a cidade de Campo Grande possui uma atmosfera reminiscente de um “velho oeste”.

Para o Jornal O Estado, o diretor Conrado Roel explicou que o processo de pesquisa foi intuitivo e sem uma estratégia rígida. A pesquisa foi conduzida de forma audiovisual, com experimentações estéticas e narrativas, permitindo que o material fosse o guia do desenvolvimento do filme. Durante as entrevistas com Higa, a equipe teve a oportunidade de explorar suas vivências e recordações.

“O filme tem ritmo, tem afetividade, sempre com a intenção de atravessar tudo isso sem ser apelativo, mas, ao mesmo tempo, buscando justamente essa conexão emocional com o público. E foi assim que trabalhamos”, afirma Conrado.

A relação de Roel com Campo Grande se torna uma parte fundamental do filme, no qual ele revisita lugares e contextos que marcaram a vida e o trabalho de Higa. O projeto não é apenas uma homenagem ao fotógrafo, mas também uma celebração da cidade, explorando as memórias visuais e culturais que formam o tecido de sua história, abordando de maneira sensível e profunda as contradições e beleza da vida cotidiana na região.

“Essas relações com o passado, fazem tanto sentido em nossa cabeça. Sempre achei fascinante esse ambiente; as mangueiras, as cigarras, as cores do sol, o calor, a poeira. É um lugar difícil, distante, mas também cheio de beleza, com todas as suas contradições. É um lugar que, para mim, tem um significado muito profundo”, relata.

O filme também destaca uma figura simbólica, uma bailarina fotografada por Higa, cuja identidade é parcialmente desconhecida. Para representá-la, foi escolhida a bailarina Kei Sawal, de 60 anos, com forte ligação à sua origem oriental. Durante as filmagens, Kei revisitou os locais marcantes de Campo Grande, adicionando uma camada poética e simbólica à narrativa.

“O objetivo é que esse filme seja um legado que coexista com o nosso Roberto Higa. Ele também é um guerreiro, um sobrevivente. Quero que esse filme exista com ele. Ele sempre quis receber tudo de volta também, e eu acredito que seus filmes, como tudo o que ele fez, voltam para ele”, reflete Conrado.

Muito Além do Legado

O filme destaca o envelhecimento de Higa, que foi essencial para a narrativa e a consistência da obra. Acompanhando um ser humano real lidando com Alzheimer, a produção oferece uma nova perspectiva sobre como a doença afeta o indivíduo.

“Tivemos a oportunidade de observar uma pessoa real com Alzheimer e isso fica presente na nossa experiência. A gente encontrou outra maneira de observar como esse tipo de doença afeta o ser humano. E ainda bem que o Higa é uma pessoa muito forte. Ele lida com isso com uma ironia, com sarcasmo, e com muito jogo de cintura para lidar com os desafios e as dificuldades”.

Para Conrado, Higa continua mais vivo do que nunca, enfrentando desafios pessoais com a mesma paixão e dedicação que sempre demonstrou em sua carreira. Sua postura de vida e seu trabalho influenciaram profundamente a todos ao seu redor, sendo ele o exemplo de como construir um legado autêntico.

“O legado dele não vai se perder. O filme explora a espiritualidade de Higa, destacando sua visão única sobre os antepassados. Para ele, ao contrário da visão ocidental, os mortos continuam presentes na vida dos vivos. Essa conexão profunda com seus descendentes e antepassados é a chave para entender como seu legado será preservado ao longo do tempo”, explica o diretor.

O filme “Olho por Olho” está previsto para ser lançado entre junho e outubro e a equipe planeja levá-lo para festivais nacionais e internacionais. O projeto foi contemplado pela Lei Paulo Gustavo. A produção foi planejada com a intenção de alcançar um público amplo, tanto no Brasil quanto no exterior.

Além disso, a equipe espera que o filme ajude a dar visibilidade ao acervo fotográfico de Roberto Higa, com a expectativa de que instituições culturais e acadêmicas se interessem em estudar e preservar seu trabalho. A intenção é que o legado de Higa, como fotógrafo e documentarista, seja reconhecido e valorizado no cenário mais amplo da fotografia.

A produção é assinada por Daniel Escrivano, com produção executiva de Vitor Meyer. A montagem fica a cargo de Alexandre Gwaz, enquanto a trilha sonora é composta por Guilherme Cruz. A captura de imagens é feita por Helton Pérez, A produção local conta com o trabalho de Fran Gonçalves, e a pesquisa é conduzida por Rodrigo Teixeira. A ideia original do projeto é fruto da colaboração entre Conrado Roel, Débora Bah e Rodolfo Ikeda.

 

Amanda Ferreira

 

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