Festival Tem Palhaça na Minha Rua

Foto: Caduts
Foto: Caduts

Projeto tem objetivo destacar o protagonismo feminino na palhaçaria com espetáculos, oficinas e rodas de conversa em Dourados

“Rir é um ato de resistência”, como dizia o artista e comediante Paulo Gustavo. E poucos gestos são tão politicamente poderosos quanto garantir o acesso à cultura para quem mais precisa. Com esse propósito, o “Festival Tem Palhaça na Minha Rua” chega às ruas promovendo espetáculos e oficinas de palhaçaria protagonizados por mulheres, tudo de forma gratuita e com acessibilidade em Libras.

O Festival será realizado na cidade de Dourados, entre os dias 1º e 4 de maio, com uma programação gratuita que une arte, riso, inclusão e representatividade. Durante o evento, serão oferecidas oficinas voltadas à palhaçaria feita por mulheres, com destaque para “Palhaçaria de Terreiro”, ministrada por Antonia Vilarinho, a Palhaça Fronha; “Perna de pau – aspectos fundamentais”, com Rachel de Boa, da Trupe Baião de Dois; e “Bagaçaria: o riso da ralé. Cultura caipira e marginal como escola”, conduzida por Mone Melo e Ana Melo, do grupo Pé Vermei.

Além das oficinas, o festival também contará com apresentações de grupos convidados de fora do estado. Entre os espetáculos programados estão “Trem Bão é Coisa Boa”, da Companhia Pé Vermei, de Pernambuco; “A Mulher Festa”, com a Palhaça Fronha, do Distrito Federal; e “Alta da Aparecida”, com Rachel de Boa, de São Paulo. Todas as atividades terão tradução em Libras, reforçando o compromisso com a acessibilidade e o acesso democrático à cultura.

Criando Oportunidades

Idealizado pelas artistas da TruPior, companhia de circo da cidade de Dourados, o Festival Tem Palhaça na Minha Rua é protagonizado por mulheres — da concepção à execução de cada atividade. A iniciativa surgiu a partir de um projeto anterior realizado em 2024, viabilizado por meio da Lei Municipal Paulo Gustavo, e agora se expande em formato de festival. Com uma programação gratuita e acessível, o evento tem como foco proporcionar uma vivência da palhaçaria feminina por meio de oficinas, espetáculos e rodas de conversa abertas à comunidade.

Em entrevista ao jornal O Estado, a idealizadora do projeto e produtora executiva do festival, Ludmila Lopes, explica que a iniciativa já existia, mas esta é a primeira vez que se apresenta no formato de festival. Segundo ela, a proposta nasce do desejo de democratizar o acesso à cultura em Dourados, especialmente às linguagens do circo e da palhaçaria.

“O Palhaça na Minha Rua se conecta com a realidade cultural de Dourados ao buscar descentralizar o acesso à arte, especialmente a arte circense, levando cultura e entretenimento às ruas e a lugares onde as pessoas têm pouco acesso a essas manifestações”, afirma Ludmila.

As inscrições para as oficinas do Festival Tem Palhaça na Minha Rua já estão abertas e possuem três horas de duração com tematicas que abordam decolonialidade, palhaçaria, corpo, subjetividades, racismo e entre outros e pode ser realizada através do formulário que está disponível nas redes sociais do projeto @tempalhacanaminharua.

Serão priorizadas 10 vagas para mulheres a partir dos 14 anos residentes em Dourados e outras 10 para participantes de diferentes regiões do Mato Grosso do Sul. As selecionadas de fora da cidade deverão participar de todas as oficinas, uma vez que receberão ajuda de custo para estarem presentes durante os quatro dias do festival.

A seleção dá prioridade a mulheres indígenas, negras, trans, com deficiência (PCDs), lésbicas e pessoas não-binárias. Caso as vagas não sejam completamente preenchidas por esse público, outras pessoas que atendam aos critérios de ações afirmativas também poderão ser selecionadas.

“As participantes podem esperar um mergulho no universo da palhaçaria, abordando desde técnicas circenses, como perna de pau, até reflexões sobre cultura, gênero, religiosidade e questões sociais, com foco nas mulheres e corpo dissidentes. As oficinas serão espaços de experimentação e aprendizado, onde as participantes poderão desenvolver suas habilidades criativas e artísticas, além de fortalecer o autoconhecimento e a autoestima”, destaca Ludmila.

Mulheres na Palhaçaria

Responsável pela produção de comunicação e assistente de produção do festival, Lucrécia Prieto atua na coordenação das estratégias de divulgação e engajamento com o público. Trabalhando em parceria com a equipe de design e audiovisual Tatiana Varela e redes sociais Gisele Lemarchal, buscam desenvolver ações de comunicação que dialoguem com o público-alvo do festival. Para a reportagem, ela detalha que a ideia do festival é evidenciar a força feminina através das linguagens do circo e da palhaçaria.

“O festival tem potencial para ir além e sabemos que iremos chegar lá, construindo um lugar seguro e inclusivo. Entendo que o corpo dissidente faz parte da sociedade e é invisibilizado e deve ser incluído em ações sociais, dando espaço e voz a todos e todas. O festival é formado por ‘corpas’ [termo para incluir identidades femininas e dissidentes] ‘cisgênero’ [pessoas que se identificam com o sexo biológico ao nascer] transexuais [pessoa que não se identifica com o sexo atribuído ao nascimento] e não binares [pessoas a qual nao tem a identidade restrita ao másculo ou feminino], corpas essas que resistem atrás da ARTE”, afirma a produtora.

Mais do que oferecer oficinas e espetáculos, o festival também propõe a palhaçaria como ferramenta de autoconhecimento e suporte socioemocional. Conforme Ludmila, seu caráter lúdico e cômico, a arte circense contribui para momentos de leveza e reflexão, auxiliando o público a lidar com emoções e desafios do cotidiano de forma mais saudável.

“O riso ativa o sistema de recompensa do cérebro, promovendo a sensação de bem-estar e contribuindo para a saúde mental, como demonstram diversas pesquisas. Através da palhaçaria, é possível trabalhar temas sérios e difíceis de uma maneira acessível e transformadora, proporcionando um espaço para que os participantes possam rir, refletir e, muitas vezes, se reconectar com suas emoções e seu interior”, explica a idealizadora.

Para o futuro do projeto, a equipe de mulheres por trás do Festival Tem Palhaça na Minha Rua vislumbra a expansão e o fortalecimento da arte circense feita por mulheres em outras regiões do país. A proposta é consolidar o evento como parte permanente do calendário cultural de Dourados, ampliando sua visibilidade e impacto social.

“Queremos nos tornar uma referência anual na cidade. O festival vai proporcionar, além de formação e apresentações artísticas, uma visibilidade contínua para a palhaçaria feminina, oferecendo uma plataforma regular para mulheres artistas e promovendo uma mudança estrutural na cena cultural de Dourados”, afirma a organização.

Para esta primeira edição, Lucreia destaca a expectativa de marcar a história da palhaçaria no Mato Grosso do Sul. “Espero que o Festival Tem Palhaça na Minha Rua tenha um impacto real no reconhecimento das artes circenses e da palhaçaria feita por corpos femininos. Sabemos que esse espaço ainda é pequeno, mas com toda a sorte e dedicação, vamos deixar nossa marca registrada na sociedade, levando muita arte, cultura e alegria para a comunidade”, finaliza.

Serviço: O Festival “Tem Palhaça na Minha Rua” conta com o apoio da Secretaria Municipal de cultura pela Lei de incentivo PNAB- FOMENTO, Prefeitura de Dourados, COC – Coordenadoria de Cultura da UFGD, Casulo – espaço de cultura e arte e Gráfica e Plot Digiflash. Algumas atividades serão executadas em espaços abertos pela cidade e outras serão na sede do Casulo – Espaço de Cultura e Arte. Para mais informações sobre inscrições das oficinas, horários e contemplar os espetáculos, acesse as redes sociais do festival @tempalhacanaminharua ou ou @Trupiorr.

Amanda Ferreira

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