Festival ‘O Canto Delas’ encerra com as cantoras Karô, Llez e SoulRa

Foto: essa apresentação Karô Aurélio Vinicius/Divulgação,SoulRa André Patroni/Divulgação, Llez Adrian Albuquerque/Divulgação/
Foto: essa apresentação Karô Aurélio Vinicius/Divulgação,SoulRa André Patroni/Divulgação, Llez Adrian Albuquerque/Divulgação/

Cantoras Karô, Llez e SoulRa são as convidadas para o último dia de programação do festival e contam sobre os afetos envolvidos com essa apresentação

Realizado no Blues Bar e com o propósito de evidenciar e celebrar cantoras do MS, o festival “O Canto Delas” chega ao seu último dia de programação. O evento é gratuito, nesta terça-feira (1º) e começa às 20 horas. Quem encerra a 2ª edição do projeto são as cantoras Karô, Llez e SoulRa que, em conversa com o jornal O Estado, revelam que além de ser um show especial de encerramento, é um momento envolto por acontecimentos afetivos e importantes na trajetória das artistas.

“Estou muito animada com o evento, vai ser imperdível”, exalta Llez, uma das artistas que compõem a programação. Leticia Suckow Cristaldo, campo-grandense, mas residente de Sidrolândia durante a maior parte da vida, comenta sobre seus sentimentos em partilhar o palco que, para além da apresentação singular e especial (o projeto ter uma programação completa com cantoras e ser o dia de encerramento), é o fato de o evento estar envolto de realizações importantes e afetivas na carreira das artistas. 

“Primeiro, estou muito empolgada com o show solo da Karô, que está entrando em uma nova fase da carreira, e eu estou feliz demais por poder estar presente. Não conheço ela pessoalmente, ainda, mas pelo que sei dos bastidores, vai ser imperdível! E a SoulRa, além de ser um fenômeno no palco e letrista incrível, é minha amiga pessoal. Quando descobrimos que íamos tocar na mesma noite, já sabíamos que esse encerramento ia ser uma festa. Sou muito fã dela, trabalhamos juntas, temos músicas juntas, e vamos dar um gostinho disso para o público.”

A artista ainda revela que está fazendo uma transformação em seu trabalho e sobre as novas influências que estão repercutindo nele, e acrescenta que a apresentação será uma espécie de agradecimento ao seu trajeto e ao público que curtiu todas as suas criações produzidas até então. “Tenho passado por um processo de transição. A música popular brasileira sempre foi a base das minhas composições, mas agora, estou gravando meu próximo disco com outras influências, talvez fronteiriças, talvez do sertanejo. No festival vou fazer uma retrospectiva pelas minhas músicas já lançadas, como forma de louvar as canções que já criei e os universos que eu já vivi. Para quem curtiu o que eu já lancei é momento de aproveitar, pois logo a ambiência dos meus shows vai ser outra. Fora isso, esse palco do Blues Bar, eu espero que esteja bem firme mesmo, porque realmente a gente vem forte. Sinto que quem for, não vai se arrepender. Vai ser uma noite histórica”, afirma a cantora.

Karô Castanha, campo-grandense, cantora e psicanalista, realizará o seu primeiro show profissional sozinha com banda nesta terça- -feira, e comenta sobre suas expectativas. “Estou realizada com essa oportunidade, importante e formidável do festival. Há tempos, sonho em cantar com uma banda. Seremos nove no palco. Só consigo pensar que esse show é ancestral.” afirma. O idioma oficial de Karô é a música, desde bebê é assim que os pais se relacionam com ela, e ela se relaciona com o mundo. Neta de avós cantores e filha do Simona, Karô foi imersa em música e ainda pede mais. “Desde sempre escutei meu pai cantar, para mim, é o melhor intérprete. Mas também é um grande desafio ser filha do Simona. Nós sabemos da luta. Meus avós eram cantadores, nossa história é sonora. Então, minha vida e música é coisa de uno. As minhas primeiras lembranças são sons. Desde pequena, a primeira música que me apareceu foi ‘Garoto de Aluguel’, do Zé Ramalho. Achava simplesmente sublime meu pai cantando e pedia, pedia sempre mais”. Mas, a psicanalista também explica que apesar dos desafios em alguns aspectos, enfrentá-los é necessário, pois assim a autenticidade fica mais próxima, tal como a versão cantora de Karô. “Considero desafiador cantar, muitas vezes duvidava da minha voz ou da minha arte, tenho tentado trabalhar isso. Penso que esse show tem isso também, de ‘se liberta Karô, tudo bem cantar’”.

Para Raíssa Sousa Carvalho, bacharel em direito pela Uems, douradense de berço e atualmente paulistana de residência, a SoulRa, cantora e compositora, a escolha pelo rap é identificação e consciência de classe. “Eu fui me encontrando na minha juventude e infância. E é nos movimentos culturais que eu fui adquirindo identificação. Eu, como mulher negra, sempre gostei muito de pagode e de toda a cultura periférica urbana, porque eu era bastante desse rolê da rua, estudei em escola pública e tive muitas amigas de várias realidades diferentes. Quando eu comecei a ouvir e tive contato com o rap, a identificação foi imediata”, afirma a cantora.

Relevância  

Sobre o evento, SoulRa comenta a respeito de sua relevância em diversos aspectos, por partilhar esse momento com mulheres que admira e pela diversidade de cantoras sul- -mato-grossense no meio musical, tornando-o realmente um “Canto”, um espaço onde elas conseguem sentir-se compreendidas, mas não só, em conjunto amplificar suas vozes e conquistar muito mais palcos. “É acolhedor e muito especial dividir a programação com mulheres que são uma inspiração para mim, que eu admiro o trabalho e a música. Também tem aquele sentimento de estar em um ambiente onde nós somos compreendidas, em que estamos de irmã para irmã, com vivências semelhantes.”

A cantora ainda ressalta o fato de o evento ser idealizado por um homem e que conseguiu ter a sensibilidade de fazer um projeto realmente voltado para mulheres. “São décadas, séculos de espaços inteiramente masculinos, ou que vão pescando uma outra para dizer que é representativo, e a gente aí, trabalhando, trabalhando, e precisando mesmo que reconheçam e cedam esse lugar, porque o ‘corre’ nós já estamos fazendo. Por ser um projeto do Jerry Espíndola, eu acho muito massa ele ter tido essa sensibilidade, enquanto homem produtor. De reconhecer essas potências e amplificar isso, porque é o que muitas vezes falta. E os homens acabam tendo mais acesso, são muito mais ouvidos e ganham mais credibilidade do que a gente. Então, tudo isso é muito importante, porque nós estamos aí, fazendo trabalhos incríveis e, muitas vezes, nós não temos justamente o espaço”, exalta a cantora.

Raíssa cresceu em um ambiente bastante artístico: o pai toca há 25 anos em grupo de forró e a mãe é estilista. Imersa em arte, a cantora não se contenta em se relacionar somente com a música e expande os seus talentos e interesses, promovendo outras produções culturais. Pensando em tornar o universo artístico mais democrático e acessível a regiões periféricas de Dourados (MS), a cantora produz também o “Baile da SoulRa”, um baile voltado para a cultura urbana, experimental e diaspórica, de acordo com a artista. “Faço, anualmente, um baile de cultura urbana, preta e periférica, o ‘Baile da SoulRa’, que traz shows do mainstream e do underground nacional para Dourados. O objetivo é conectar o nosso público e as artistas, e o evento não envolve só música, mas manifesta cultura e moda por meio da produção e do público que participa”, afirma a cantora. Em novembro, o baile vai para a segunda edição, em Dourados.

Foto: Idealizado por Jerry Espíndola junto ao Blues Bar, programação levou 15 cantoras durante cinco dias/Mauricio Costa/Divulgação

O festival 

Com sua primeira edição em formato virtual, por prevenção ao período pandêmico em 2021, o projeto reuniu 12 cantoras sul-mato- -grossenses em apresentações individuais e ao vivo em transmissões pelo canal do festival, no YouTube. O intuito era fomentar as vozes femininas que tanto contribuem com a história da música no Estado, além de propagar cantoras de novas gerações e celebrar a diversidade de estilos e potências que há na musicalidade dessas mulheres.

Diante do sucesso que foi a primeira edição, o idealizador do projeto, Jerry Espíndola, promoveu, junto ao Blues Bar, a segunda edição. Com cinco dias de programação, todas as terças-feiras, desde o dia 4 de julho, o palco do Blues recebeu três cantoras de talento do MS. A line-up composta dessa vez contou com a presença de 15 cantoras, entre elas Ariadne, Pretah, Beca Rodrigues, Marcela Mar, Namaria, Mel Dias e Caramuja. Hoje (1º), é o último dia de programação do evento. O festival “O Canto Delas” contou com investimento do FMIC (Fundo de Investimentos Culturais), aprovado em edital por meio da Sectur (Secretaria de Cultura e Turismo de Campo Grande), órgão vinculado à Prefeitura Municipal de Campo Grande. O projeto possui também o apoio da Engepar.

Para mais informações sobre o trabalho das cantoras, Karô, visite sua página no Instagram @karocastanha; SoulRa, no site https://www.soulra.com.br/lancamentos e o @soulra_inha; Llez também tem o perfil @ llezgo. O evento acontece no Blues Bar, localizado na rua 15 de Novembro, 1.186, Centro. Para mais informações acesse, também no Instagram: @bluesbarms.

Por –  Ana Cavalcante 

Confira mais notícias na edição impressa do Jornal O Estado do MS.

Confira as redes sociais do O Estado Online no Facebook e Instagram.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *