Festival Expressão de Rua — 10 Anos

Nazireu Rupestre - Foto: Reprodução
Nazireu Rupestre - Foto: Reprodução

Evento terá dois dias de programação gratuita com oficinas de grafitti, atrações musicais e feiras criativas com homenagens à Tia Eva e Santa Sara Kali

 

O Festival Expressão de Rua, o evento mais alternativo do estado, celebra 10 anos de legado com uma edição especial, homenageando duas lideranças importantes da Capital: Tia Eva e Santa Sara Kali. A comemoração acontecerá neste sábado (12) e domingo (13), das 14h às 23h, na Plataforma Cultural, em Campo Grande, com toda a programação repleta de atividades gratuitas.

Durante a programação, acontecerá uma roda de conversa dedicada às homenageadas, começando com Tia Eva, a primeira liderança feminina afrodescendente de Campo Grande. Em novembro de 2026, serão comemorados os 100 anos de seu falecimento. O festival também prestará homenagem a Santa Sara Kali, a santa preta, reverenciada como padroeira da comunidade cigana.

A programação do festival inclui diversas atividades culturais e artísticas, como o

Engenheiro Edson – Foto: Reprodução

ficina de graffiti, roda de conversa, performances e oficinas culturais com o Coletivo Energrecer e DJ TGB. Além disso, haverá a Feira São Chico, a Feira Rota Cigana e a Tenda da Comunidade Cigana, com apresentações do Instituto Brasileiro de Arte e Cultura Cigana (IBACC). O grupo de dança Espaço FNK também fará sua apresentação.

Entre as atrações musicais, o evento contará com grandes nomes da cena sul-mato-grossense, como Falange da Rima, Engenheiro Edson, A Insana Corte, MC Cachorrão, Patrick Sandim, Samba do Caramelo, Projeto To’kaya e Dupla Permanência. Como destaque, o grupo Nazireu Rupestre, uma banda de rasta-punks da Zona Leste de São Paulo, fará sua estreia em Campo Grande.

 

Artistas Livres de Burocracia

Patrick Sandim – Foto: Reprodução

O idealizador do projeto, Eduardo Miranda, está à frente do Festival Expressão de Rua desde 2013 e produtor cultural e vocalista da banda Engenheiro Edson. A ideia de criar o evento surgiu como uma resposta à exclusão dos artistas, que muitas vezes não conseguem participar de festivais públicos devido à burocracia excessiva, e não por falta de talento.

“A primeira edição do festival Expressão de Rua aconteceu em 2013, na Praça do Rádio. Surgiu da frustração de nunca sermos chamados para nenhum dos festivais públicos, como o Campão, o Festival América do Sul em Corumbá e o Festival de Inverno de Bonito. O Expressão de Rua é um reflexo da nossa vontade de tocar. O objetivo é mostrar o trabalho de jovens que, devido à burocracia do governo, não conseguem acessar esses eventos públicos. Já que nunca seremos incluídos nesses festivais, decidimos criar o nosso próprio”, explica Eduardo.

O festival também se destaca pela diversidade de gêneros musicais, abrangendo desde samba, rap e reggae até outros estilos, sempre com a abertura para grandes nomes da música nacional, como o Mocambo Groove de São Paulo. Ao longo dos anos, o evento já contou com apresentações de artistas como Marina Peralta, consolidando-se como um espaço de valorização tanto da cena local quanto da música nacional.

“Não abrimos mão dos artistas locais. Inclusive, várias vezes, chega um artista local que não estava programado e a gente deixa tocar. Porque este é o intuito do Expressão de Rua”, afirma Eduardo.

Chegar à décima edição do Festival Expressão de Rua é, para Eduardo Miranda, um marco de muita batalha e dedicação. O objetivo do festival sempre foi abrir portas para jovens artistas que, como ele próprio, enfrentam dificuldades em acessar grandes festivais.

“São 10 anos de muita batalha e muito corre. E daqui para frente, estamos preparando os próximos 10 anos. “Me inscrevi mais de 18 vezes nos festivais de Corumbá e Bonito e nem na suplência eu fiquei. Por isso, criei o Expressão de Rua, para levantar o ego de pessoas como eu, que sofrem preconceito”, explica Eduardo. Esta edição, por exemplo, traz o DJ TGB convidando artistas emergentes como DN MC e Martins MC, que terão sua estreia no palco do festival, uma oportunidade única para novos talentos se apresentarem e ganharem visibilidade.

Homenagens

A decisão de homenagear Tia Eva no Festival Expressão de Rua veio da importância histórica e simbólica dessa figura, que foi a primeira mulher negra a se tornar uma liderança popular em Campo Grande no início do século XX, após chegar de Goiás em 1905. Segundo Eduardo Miranda, a homenagem também se dá pela situação precária da Igreja de São Benedito, onde Tia Eva está sepultada.

“A Igreja está ruindo, já está interditada, e vivemos a situação absurda da igreja poder desabar em cima do túmulo da própria Tia Eva. Isso é um desrespeito muito grande com a memória dela e também com o patrimônio público, já que a Igreja é tombada como patrimônio cultural”, explica.
Em 2026 irá completar os 100 anos de sua morte, e para marcar a data, será realizada uma roda de conversa durante o festival, refletindo sobre o legado de Tia Eva e a necessidade de seu reconhecimento definitivo em Campo Grande.

Uma das homenageadas também será a Santa Sara Kali. Segundo a lenda popular, Sara foi uma das mulheres que conviveu com Jesus e foi obrigada a fugir de Israel devido a perseguições. Ela e mais outras pessoas foram deixadas em um barco à deriva. Sara então rezou para que chegassem a salvo em terra firme. A embarcação atracou na França, e atualmente o local onde o barco parou foi nomeado como Sainte-Maries-de-la-Mer, em homenagem às três Marias que acompanhavam Sara na embarcação.

Em Campo Grande, a cigana Luna Negra, explica a importância da data para a cultura cigana.“A importância de Santa Sara para nós é justamente nesse sentido. No sentido da resistência, porque a lenda dela já mostra isso.
Sara era uma mulher negra, pobre e escrava egípcia, mas que conseguiu vencer todos os obstáculos e se transformar num ícone da cultura cigana. Então ela é a representação de toda a força e de toda resistência, principalmente das mulheres ciganas”, finaliza.

Realizado pelo Movimento Quem Luta Vence e Instituto Ìmolé, o Expressão de Rua tem o apoio do Ministério da Cultura e Governo Federal, Secretaria Executiva de Cultura (Secult) e Prefeitura de Campo Grande e deputado federal Vander Loubet.

Serviço

O Festival será realizado nos dias 12 e 13 de abril (sábado e domingo) na Plataforma Cultural, localizado na Av. Calógeras, 3015 — Centro, á partir das 14h. A Entrada gratuita.

 

PROGRAMAÇÃO

SÁBADO (12/04)

14h – Feira São Chico, Exposição de Arte e Cultura Negra, Feira Rota Cigana e Tenda da Comunidade Cigana
14h – Oficinas artísticas com TGB, Coletivo Energrecer e Instituto Brasileiro de Arte e Cultura Cigana
16h – Espaço FNK
18h – Abertura oficial
18h20 – MC Cachorrão
19h10 – Dupla Permanência
19h30 – Instituto Brasileiro de Arte e Cultura Cigana
19h50 – Projeto To’kaya
20h30 – Instituto Brasileiro de Arte e Cultura Cigana
20h50 – A Insana Corte
21h30 – Instituto Brasileiro de Arte e Cultura Cigana
21h50 – Falange da Rima

DOMINGO (13/04)
14h – Feira São Chico, Exposição de Arte e Cultura Negra, Feira Rota Cigana e Tenda da Comunidade Cigana
14h – Roda de conversa: 100 anos sem Tia Eva
14h – Oficinas artísticas com TGB e Coletivo Energrecer
17h – Samba do Caramelo
19h – DJ TGB com participação de DN MC e Martins MC
20h – Patrick Sandim
21h – Engenheiro Edson
22h – Nazireu Rupestre (SP)

 

Amanda Ferreira e Carolina Rampi

 

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