Feira Quilombola de Furnas de Dionísio realiza 1ª edição do ano neste domingo

Foto: Maria Fotografias
Foto: Maria Fotografias

Comunidade celebra um ano do evento que une tradição e geração de renda

 

A comunidade quilombola Furnas de Dionísio realiza neste domingo (12), a partir das 8h, a primeira edição do ano da Feira Quilombola. Situada na cidade de Jaraguari, a aproximadamente 40 quilômetros de Campo Grande, a feira tem o compromisso de promover a sustentabilidade e atividades econômicas locais.

A feira é realizada mensalmente, e oferecem uma ampla gama de produtos naturais e artesanais, feitos pelos moradores do local, além de proporcionar aos visitantes e turistas, um espaço para conhecer as tradições quilombolas, fortalecer vínculos e celebrar a diversidade.

Foto: Maria Fotografias/Instagram

Durante a feira, será servido um almoço para todos os participantes, com direito a arroz carreteiro feito e servido no tacho, feijão, frango caipira com macarrão, mandioca, quiabo, angu e saladas diversas, por R$ 50, e show ao vivo com o cantor Felipe Santos, da própria comunidade

Conforme a vice-presidente da comunidade, Leandra Martins, a feira surgiu como um projeto desenvolvido pela associação para gerar renda para as famílias da região.

“Aqui temos os produtores que trabalham com a agricultura familiar e para vender esses produtos, o lugar era somente no Ceasa (Central de Abastecimento) em Campo Grande. Em conversa com o secretário de Desenvolvimento e Turismo de Jaraguari,

Foto: Maria Fotografias/Instagram

Kleber Oliveira, a ideia da feira surgiu, e seguimos no improviso mesmo. As coisas foram melhorando e conseguimos as barraquinhas, e hoje, estamos com mais de um ano dessa feira, que tem sido um sucesso”, disse ao jornal O Estado.

Com um espaço para toda a família, também é possível alugar um day use e acessar o recanto da cachoeira, passeio conhecido do local, que proporciona conexão com a natureza e com a história e tradições quilombolas.

“Na Feira, que é realizada a cada segundo domingo do mês, você encontra produtos da terra como banana, jiló, abóbora, quiabo, berinjela, ovos caipiras, queijos, doces e o principal, que não pode faltar, são as rapaduras e derivados da cana-de-açúcar. Também há pastel e bebidas”.

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Moradora e expositora na feira, Valmira Ribeiro da Silva produz e vende doce de leite, bolo de goma, também conhecido como peta, rapadura de leite e de cana-de-açúcar. Há anos no ofício, ela relata que as vendas começaram tímidas, para que a população experimentasse a receita primeiramente.

“Eu aprendi a fazer esse bolo com a minha mãe de criação, mas fazia apenas em casa, não para vender. No dia da primeira feira, fiz o bolo e levei lá para experimentar, porque não sabia se teria venda. Agora, em toda edição eu vendo ele”, explica. “Muita gente conhece ele como ‘peta’, mas nós aqui da comunidade conhecemos como bolo de goma. Ela é um bolo bem antigo, fazia-se antigamente para casamentos”, recorda.

Segundo a produtora, as vendas são boas. “Levamos bastante quantidade de produtos para a feira, e no final restam poucas unidades, só não vende bem quando está chovendo”. Ela ainda acredita que a feira consegue levar as tradições quilombolas para seus visitantes. “Na nossa parte, atendemos bem as pessoas, e são os produtos que também chamam a atenção”.

“Quando mais coisas levamos, mais enchem os olhos dos turistas, eles gostam de vir e ver os produtos. Acho que a feira é um dos pontos de atração para turistas”, reforçou a vice-presidente.

Outra expositora é a dona Maria De Lourdes Theodoro. Assim como Valmira, ela produz e vende rapadura de massa, de leite, de cana-de-açúcar, geleia de mocotó, melado e farinha. “Tenho 20 anos que mexo com a produção de rapadura, aprendi com meu pai e minha mãe, produzo na minha casa mesmo. E todo segundo domingo do mês vendo na feira. A saída das rapaduras é boa, tudo é bem vendido”.

O principal ‘marketing’ da feira são os seus produtos orgânicos. Para as duas expositoras, conservação é a chave. “É preciso conservar o meio ambiente, respeitar o que pode ou não ser desmatado, por exemplo”, disse Vamira. “Todos os nossos produtos são manuais, não há nada industrial, é tudo sustentável”, reforçou Maria de Lourdes.

 

Desafios

Com promessa de pavimentação para um melhor acesso à comunidade, o que fica de desejo é que a feira possa se expandir. “Meu sonho é que a feira cresça mais, ela é como uma sementinha, que agora está indo longe. Quando o asfalto chegar até a Escola Estadual pelo menos, os clientes terão ainda mais facilidade de comprar nossos produtos”, pontua Maria.

Para Valmira, os desafios fazem parte da história da região. “Hoje, estamos bem, se considerarmos o que já vivemos na comunidade, e o que os nossos antepassados viveram. Porque, inicialmente, havia muita dificuldade na produção, era tudo levado com trator ou até mesmo nas costas. Agora, já temos mais facilidades para inovar, aprendemos coisas novas, a comercializar”.

“Ainda não chegamos no resultado esperado, sabemos que estamos no caminho certo, e logo, logo o sonho será realidade”, finaliza Leandra.

 

Festival

Ainda sem data marcada, um dos eventos mais aguardados da comunidade é o Festival Anual da Rapadura. De receita própria, o quitute foi declarado em 2016 como patrimônio histórico e cultural de Mato Grosso do Sul, reforçando a importância da cultura quilombola no Estado. A festa ainda apresenta para seus visitantes apresentações de danças típicas como catira, dança do engenho novo e capoeira. Açúcar mascavo, farinha de mandioca e polvilho também são produzidos em Furnas.

Furnas

O quilombo Furnas de Dionísio foi fundado em 1890, após a abolição da escravatura (1888), por Dionísio Antônio Vieira, um ex-escravo proveniente de Minas Gerais, que veio com a família em busca de terras férteis para plantação. De pau-a-pique, sapê, argila e esterco, ele e sua família construíram as primeiras casas de Furnas. Todos os moradores da comunidade são descendentes diretos de Dionísio, e Furnas é uma das mais antigas e populosas do Estado.

Ela está localizada em Área de Preservação Permanente, cortada por córregos e ribeirões e foi reconhecido oficialmente pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) como comunidade quilombola em 24 de abril de 2009.

Serviço: A Feira Quilombola é realizada todo segundo domingo do mês, na sede da associação de Pequenos Produtores Rurais. Além da feira, a sede fica aberta todos os dias, para a compra de produtos da comunidade.

 

Por Carolina Rampi

 

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