Uma vida dedicada à arte. Professor, historiador, especialista em Patrimônio Cultural, ex-chefe da Cultura de Campo Grande e diretor do grupo teatral ‘Senta Que o Leão é Manso’, um dos mais antigos da Capital, ativo há 40 anos. Esse é apenas uma parte do legado de Roberto Figueiredo, que construiu um acervo de centenas de obras de arte, que agora ficarão expostos na UCDB (Universidade Católica Dom Bosco) como forma de homenageá-lo.
O material era anteriormente exposto na própria casa de ‘Beto’, como era conhecido, com quadros, esculturas e diversas obras em geral. A seleção tomou a forma da exposição ‘Lembranças’, com curadoria de Marcelo Piccolli, produzida pela Área de Cultura e Arte da universidade, setor que ele comandou por quase quatro décadas.
Professor, ator e atual diretor do grupo Senta Que o Leão é Manso, Marcelo Piccolli era amigo de longa data de Beto, e agora assumiu as funções no setor de cultura e arte da UCDB. Para ele, a seleção das obras partiu de uma questão afetiva, e foi preciso segurar a emoção. “Eu convivi e trabalhei com o Professor Roberto durante 23 anos, tínhamos uma amizade muito forte, e ao ter que selecionar obras da coleção particular dele, trouxe várias lembranças, então a questão afetiva foi muito complicada”, desabafou em conversa ao jornal O Estado.
“Outro desafio foi escolher 18 obras em um universo de cem itens maravilhosos. A vontade era trazer os cem quadros para expor, mas não tínhamos nem a estrutura para fazer isso. Foi uma dificuldade tanto afetiva quanto técnica”, explica.
Composição
Quadros de Humberto Espíndola, Jonir Figueiredo, Jorapimo, Patrícia Helney, Nelly Martins e do próprio Roberto Figueiredo compõem a mostra ‘Lembranças’.“Apaixonado pela arte, Beto construiu ao longo da sua vida uma importante e significativa coleção de obras de artistas sul-mato-grossenses”, disse Marcelo.
Segundo o curador, esses nomes dialogam com a própria trajetória de Roberto. “Primeiro por experiências pessoais, como, por exemplo, a relação dele com o Humberto Espíndola, e depois, sobre essa visão de historiador do professor Roberto, de enfatizar a nossa cultura, a nossa identidade, e, principalmente, valorizar a diversidade cultural e social que constriu a nossa identidade sul-mato-grossense. Inclusive, dentro dos processos de criação dos espetáculos teatrais ele trazia essa questão da identidade e das suas perspectivas e influências”.
Apaixonado pela arte, principalmente regional, a quantidade de obras presentes no acervo pessoal que adquiriu ao longo da vida comprova isso. “Ele comprou todas essas obras, mesmo quando as pessoas queriam dar de presente para ele, como forma de fomentar a arte, dos mais variados tipos de linguagens artísticas, mas, principalmente, ligados ao teatro e pintura, da qual chegou a arriscar”, disse Marcelo.
A família de Beto Figueiredo esteve visitando a homenagem. “Desde sempre ele entendia a importância da arte. Ele adquiria muitas obras, presenteava os familiares e os amigos, pois entendia que era preciso valorizar o artista e a arte em geral. Nós, da família, ficamos muito agradecidos com esse espaço que verdadeiramente exalta a cultura sul-mato-grossense”, avaliou o sobrinho Gustavo Figueiredo Makimori.
“Essa é a maior relevância, mostrar e despertar interesse dentro das questões artísticas para o público em geral e para o todo mundo”, complementa o curador.
Impacto
Com a expopsição em um espaço universitário, o curador acredita que ela trará um impacto afetivo no espaço educacional. “A gente vê principalmente os alunos que tiveram contato com ele, dos cursos de arquitetura, design, publicidade e propaganda, alunos dos grupos de arte, dança, teatro, coral, música; provoca, como o próprio nome diz, uma lembrança. Para quem viveu com o Beto, quem via ele na UCDB”, destaca. “ A essencia dessa exposição é o legado, um legado de amor pela arte que ele deixou para nós”, finaliza.
Luto na arte
Professor Roberto Figueiredo faleceu em dezembro de 2024, aos 68 anos, sendo 39 deles dedicados à UCDB.
Ao longo de sua carreira, Roberto orientou e inspirou diversos alunos nas artes cênicas, com o grupo teatral Senta que o Leão é Manso, na dança com o Ararazul, e na música, com os grupos de Corda, Aves Pantaneiras e o Coral UCDB. Além de sua atuação acadêmica, representava os professores no Conselho Universitário da UCDB, foi presidente da Associação dos Docentes da instituição e detinha o título de aspirante a salesiano cooperador
“O Beto é um pioneiro no teatro sul-mato-grossense, inovando ao mesmo tempo, em que trazia os clássicos. Em mais de 40 anos de existência do grupo, muitas pessoas passaram por lá, algumas seguiram carreira nas artes, outras não, mas o Beto se mantém como uma grande referência. Ele é referência na luta pela classe, uma pessoa que incessantemente lutava pelos direitos da classe artística. Estava envolvido em todos os movimentos, desde o carnaval até a dança, o folclore, o patrimônio e, claro, o teatro. Ele vai fazer muita falta. A contribuição dele para a arte e para o teatro de Mato Grosso do Sul é imensa e de uma importância incalculável”, disse Marcelo na época da morte.
A UCDB (Universidade Católica Dom Bosco) também se manifestou com grande pesar sobre a morte de Roberto. A instituição, onde o professor lecionava desde 1985, destacou sua imensa contribuição para a cultura de Mato Grosso do Sul. Sob sua liderança, milhares de alunos se formaram em várias áreas das artes, como teatro, dança e música, através dos grupos Senta que o Leão é Manso, Ararazul, Aves Pantaneiras, entre outros.
“Roberto enchia nossa casa, a UCDB, de vida e sempre será lembrado por isso. Obrigado por dedicar sua vida à educação e à cultura”, expressou o Reitor da UCDB, Pe. José Marinoni.
Ainda no estado uno, ele já fazia teatro em Três Lagoas, cursou história, se formou e veio para Campo Grande em 1982. Junto a outras professoras, criou o grupo ‘Senta que leão é manso’, e de 1982 até 2024, o grupo nunca mais parou de produzir.
Por Carolina Rampi